Protocolo transforma um problema
numa solução: quanto mais pessoas baixam um arquivo, mais veloz fica a
rede, pois cada integrante dela passa a ser mais um distribuidor de
arquivos. Com isso, fica mais fácil trocar músicas, vídeos, games, e
outros conteúdos pela internet. Sérgio Amadeu da Silveira
A web apareceu no início dos anos 90, ainda no século XX. Logo depois
do fantástico feito da equipe coordenada por Tim Berners-Lee, criador
do protocolo HTTP, que viabilizou o modo gráfico da Internet,
assistimos a explosão do compartilhamento de informações. As pessoas
começaram a aprender a publicar na web arquivos escritos na linguagem
HTML, e milhões de sites foram criados. Os sites
explodiram, quando as pessoas, instituições e empresas descobriram que
podiam comunicar qualquer coisa que quisessem. A web tornou-se o maior
repositório de informações já reunido pela humanidade.
O crescimento da rede viabilizou novos meios para compartilhar a
produção multimídia que também estava estourando. A digitalização
intensa da sociedade e dos produtos culturais facilitaram as trocas e
permitiram que surgissem novas formas de compartilhamento de conteúdos.
Em 1999, Shawn Fanning, na época com 19 anos, criou um programa chamado
Napster para trocar arquivos em formato MP3. Napster é uma palavra
inglesa que significa pertencer a uma turma de sonecas. Shawn era
chamado de soneca quando criança. Sua criação despertou o mundo para as
enormes possibilidades de compartilhar conteúdos de modo distribuído. O
Napster foi considerado por muitos o primeiro programa P2P (peer-to-peer) e logo atraiu a fúria da indústria fonográfica norte-americana.
A poderosa Recording Industry Association of America, RIAA, associação
das gravadoras, abriu um processo contra o Napster. A guerra contra a
livre troca de músicas pela internet levou a uma série de restrições
sobre aquele modelo de compartilhamento. Em 2002, o Napster foi
comprado pelo grupo Roxio que vende softwares proprietários
para a gravação de CDs e DVDs. Mas a lógica do P2P estava crescendo na
rede. A concepção do P2P é a de que, na rede, todos podem ser
servidores e clientes, ou seja, não existem papéis fixos. A idéia é
superar o modelo em que todos os computadores dependam de um servidor
para acessar um arquivo. Cada computador, ao entrar em uma arquitetura
P2P, acaba servindo também como distribuidor ou redistribuidor de
arquivos. Pelo alto grau de dependência de um servidor central, muitas
pessoas não consideravam o Napster como uma aplicação P2P.
Em 2003, Bram Cohen, um programador norte-americano, nascido em 1975,
criou o BitTorrent para ser usado no compartilhamento de arquivos da
comunidade de software livre. BitTorrent é um protocolo que
permite o compartilhamento imediato dos arquivos que foram baixados da
internet. Ele impede que alguém só participe de uma rede de colaboração
e não colabore. Se você está baixando um arquivo em seu computador, o
BitTorrent faz com que os pacotes que chegam na sua máquina sejam
disponibilizados imediatamente para outros que também estão buscando
aquele mesmo arquivo. Com isso, o BitTorrent transforma o que seria um
problema em uma grande solução. Quanto mais pessoas baixam um arquivo,
mais veloz fica a rede, pois cada integrante dela passa a ser mais um
distribuidor de arquivos.
Os semeadores
Com o software LimeWire,
pode-se participar da rede
Gnutella.
Os downloads vão ficando mais rápidos quanto mais você colabora,
e você colabora baixando os arquivos, pois eles são também colocados à
disposição de quem deles precisa. Esse protocolo ganhou notoriedade
fora da comunidade de software livre, pois é uma das formas
mais rápidas de trocar arquivos pesados, como os de música ou de vídeo.
O BitTorrent divide os arquivos em pacotes de 256 kb de forma
aleatória. Não importa a ordem em que eles serão baixados, nem de
quantas máquinas eles serão buscados, pois eles serão montados no final
da operação. Não existe um servidor central, nem gargalos. Existem
semeadores ou nós semeadores. O processo começa quando alguém, usando
um cliente BitTorrent, deixa disponível um arquivo para download.
Assim nasce um nó semeador. Quanto mais usuários baixarem o arquivo,
mais nós semeadores serão constituídos. O problema só existirá, se
todos os nós semeadores daquele arquivo se desconcetarem da rede.
Como o protocolo BitTorrent não se baseia em um servidor central,
ficava difícil encontrar os arquivos na rede. Foram criados indexadores
de arquivos .torrent. Existem, por exemplo, as redes Gnutella (http://www.gnutella.com) e Gnutella2 (http://www.gnutella2.com/index.php/Main_Page).
As megacorporações da indústria de entretenimento buscaram de todas as
formas proibir o uso do BitTorrent. Não conseguiram, até agora, nenhuma
decisão judicial favorável, por ser o BitTorrent um protocolo e não um
repositório. Entretanto, os sites e relações de onde as pessoas podem
encontrar arquivos para compartilhar são alvos constantes de ataques de
associações de associações como a RIAA e a MPAA.
Existem as listas de servidores, que redirecionam os downloads
para os usuários conectados e que possuam os arquivos que estão sendo
procurados – são chamadas de “Announce”. Outro recurso é o broadcatching, que funciona como um RSS. Assim como você pode se cadastrar em um site de notícias que o avisa quando são postadas novidades, é possível se cadastrar em sites de clientes BitTorrent, para receber informações sobre novos arquivos, tais como softwares, games, filmes e músicas, etc.
Por onde começar? A maioria das pessoas que usam GNU/Linux em seus
computadores já possuem pacotes de clientes BitTorrent. O LimeWire é um
software que permite você participar da rede torrent
Gnutella. É extremamente amigável e fácil de usar e instalar. Existem
ainda o BearShare e o Shareaza. O MLDonkey é um cliente extremamente
ágil e que suporta várias redes de compartilhamento. Segundo passo: vá
até o Gnutella e navegue por lá. Depois, faça um teste e baixe algum
arquivo do seu interesse. Para encontrá-lo, use o buscador do próprio
Gnutella. Boa viagem!