Raitéqui – Colaboração e viagens ao espaço

A Ubuntu, distribuição de um programa livre para desktop está desenvolvendo ferramentas de colaboração para desenvolvedores de software livre, o Lauchpad.


A Ubuntu, distribuição de um programa livre para desktop criada pelo
empresário sul-africano Mark Shuttleworth, está desenvolvendo
ferramentas de colaboração para desenvolvedores de software livre. O
nome do conjunto de ferramentas é Lauchpad, que quer dizer Plataforma
de Lançamento. Não é à toa: Shuttleworth ganhou fama quando embarcou,
em 2002, na Soyuz TM-34, lançada no Kazaquistão, para uma temporada de
oito dias de trabalho na Estação Espacial Internacional. No meio
tecnológico, ele já era conhecido por ter vendido a Thawte, empresa de
criptografia, para a Verisign, em 2000, por US$ 575 milhões. Assim,
ganhou dinheiro mais que suficiente para pagar a viagem espacial, que
custou US$ 20 milhões. “Todos pensam que uma viagem ao espaço é uma
forma de se encontrar com Deus. Mas eu acho que Deus está aqui na
Terra”, diz ele. “É incrível ver essa bola brilhante de vida 
flutuando no meio do universo.”


O Launchpad é uma infra-estrutura para permitir que quem trabalha com
software livre trabalhe de forma mais eficiente, evitando, por exemplo,
o trabalho duplicado. Antes do Launchpad, explica Christian Reis, que
trabalha no projeto, as ferramentas de colaboração se concentravam cada
uma em seu projeto. Assim, os desenvolvedores Debian trabalham muito
bem entre eles, mas não com desenvolvedores Gentoo, por exemplo. “Com o
Launchpad estamos tentando promover colaboração entre diferentes
projetos”, diz Reis.

Hoje, a equipe do Launchpad trabalha em três ferramentas: a de
tradução, chamada Rosetta, que permite a tradução de qualquer aplicação
sem a necessidade de se ter software algum instalado além de um
browser; a geração de pacotes de atualização para a distribuição
Ubuntu  e controle das traduções realizadas através de grupos; e
um processo de revisão manual. A de controle de bugs, chamada Malone,
que faz a interligação entre bugs idênticos presentes em softwares
diferentes, e em distribuições diferentes; suporta a interligação com
rastreadores de bugs instalados em outros sites e manipulação de bugs
completa via e-mail. E uma ferramenta de desenvolvimento de código, que
suporta o trabalho distribuído, com várias pessoas diferentes
controlando versões e compartilhando modificações livremente.

Shuttleworth esteve no Brasil em agosto, para a reunião dos
desenvolvedores do Launchpad. Visitou, em Manaus, a organização
não-governamental CPC Lefran, que dá aulas de reforço a estudantes do
ensino médio, e conheceu desenvolvedores de software livre que
trabalham em projetos da Nokia. Esteve em Porto Alegre, Brasília e em
São Paulo. E ficou impressionado com a diversidade e quantidade de
projetos envolvendo software livre no Brasil.

“Se este país desenvolver rapidamente uma capacitação forte em software
livre, baseado nos talentos que há aqui, muitas companhias
internacionais vão querer se estabelecer no Brasil”, diz ele. “Entre
mil garotos que trabalham com Linux, um ou dois se tornam gênios e
qualquer companhia no mundo deseja contratá-los. E parece que há um
círculo virtuoso começando em lugares com este”, explica. Shuttleworth
teve a impressão de que há, nos vários níveis do governo brasileiro,
gente suficiente e em posições de tomada de decisões para que os
projetos de software livre continuem crescendo. “Há massa crítica, isso
é algo que não vai acabar, é algo que vai crescer, não importa o que a
indústria estabelecida de tecnologia da informação gostaria que
acontecesse”, explica. Para ele, a próxima fase de crescimento
expressivo, no mercado de tecnologia, será desencadeada pelo software
livre.