Enquanto seu computador descansa, ele
pode ajudar a procurar vida fora da Terra. A tecnologia faz parte de um
projeto mundial da Nasa.
Sérgio Amadeu da Silveira
Um número inimaginável de ondas de rádio são captadas no universo pelos
equipamentos da Nasa, a agência espacial norte-americana. Os
gigantescos radiotelescópios varrem distâncias até 200 anos luz da
Terra, detectando ondas na faixa de 1.000 a 3.000 MHz. O objetivo é
identificar algum sinal que tenha sido produzido artificialmente, ou
seja, alguma onda de rádio que possa significar um fenômeno gerado por
vida inteligente. Este é o projeto Fênix do Instituto Seti.
Seti são iniciais de Search for Extra Terrestrial Intelligence, que
podemos traduzir para o português como Busca de Inteligência
Extraterrestre. A Nasa e inúmeras instituições públicas e privadas
mantêm o Instituto Seti, que pesquisa a vida no universo. A evolução
biológica e o desenvolvimento do universo é o foco maior da pesquisa,
da qual emerge uma das grandes questões da humanidade: existe vida fora
do nosso planeta? Existem ou existiram seres inteligentes em outros
sistemas solares?
O clima do planeta Terra está se alterando. O aquecimento global pode
ser constatado e seu ritmo começa a ser captado e medido. Para melhorar
a nossa compreensão sobre as mudanças climáticas globais, para
investigar e reduzir as incertezas da modelagem climática é que existe
o Climateprediction.net. Também é um projeto de computação distribuída,
que permite que computadores pessoais dispersos acabem processando um
massa descomunal de dados. Acesse o site http://www.climateprediction.net/
(também em inglês). Nele, você encontrará todas as informações
necessárias para participar deste trabalho de processamento distribuído
de dados.
As instruções do climateprediction.net são fáceis e objetivas: “Você
pode fazer um download de um modelo climático deste website. Ele
funcionará automaticamente em sua máquina toda vez que ligar o
computador. Nenhuma tarefa de seu micro será afetada. Enquanto o modelo
funciona, você pode prestar atenção aos testes padrões do tempo. Os
resultados são emitidos automaticamente pela internet e você poderá ver
um sumário de seus resultados no site do projeto.”
Para reduzir custos de processamento dos dados captados pelos
radiotelescópios, criou-se o projeto SETI@HOME. Em 1999, era necessário
processar algo em torno de 35 Gb por dia. Com a tecnologia existente,
isso só seria possível com máquinas caríssimas de enorme poder
computacional, os supercomputadores. A necessidade unida à genialidade
gerou o primeiro projeto de computação distribuída em escala mundial.
Os dados foram divididos em WUs (Work Units), unidades de trabalho, ou
seja, pequenos pacotes para serem processados por computadores
residenciais. Uma campanha foi iniciada e voluntários se dispuseram a
instalar em seus computadores um software que processava os pequenos
pacotes. Em seguida, os resultados eram enviados para o servidor do
projeto SETI@HOME.
Se sua escola ou seu telecentro quer ajudar os cientistas a pesquisarem
as ondas de rádio captadas no espaço, basta entrar no site http://setiathome.berkeley.edu.
É preciso saber inglês para ler o site, mas o software pode ser baixado
e instalado em qualquer computador de qualquer país. Leia com atenção
as regras e a política do projeto. Existe até um canal chamado “
comunidade”, para discutir problemas e soluções na instalação do Boinc.
Ele pode ser instalado em Linux, Windows, MAC e Solaris. Existe até um
wiki, uma ferramenta colaborativa, não-oficial, mas muito útil para
discutir e ajudar as pessoas a entenderem e a utilizarem o Boinc.
Imperdível. Acesse http://boinc-doc.net/boinc-wiki/index.php?title=Main_Page.
Em julho de 2004, foi lançada a versão final de um software sofisticado
para a computação distribuída, que utiliza de modo mais eficaz os
recursos das máquinas dos voluntários. Surge o Boinc, que significa
Berkeley Open Infrastructure for Network Computing, software livre que
permite aproveitar os recursos liberados do computador para realizar
tarefas determinadas. Enquanto você está navegando na internet ou
escrevendo um texto, o Boinc usa a memória RAM disponível do seu
computador e vai processando os dados do projeto Seti. Quando o seu
computador “entra em modo de descanso”, quase todos os seus recursos de
processamento são imediatamente utilizados para ajudar a encontrar
padrões de comunicação inteligente nas ondas de rádio captadas no
espaço.
Caso você esteja consumindo todo o processamento de sua máquina, por
exemplo, jogando um game, o Boinc deixa de funcionar. É quase
imperceptível a ação do Boinc e ele jamais disputa os recursos
computacionais com o usuário. Apenas recorre ao que está sobrando.
Genial.
Nos arredores de Genebra, Suíça, o Instituto Europeu de Pesquisa
Nuclear, Cern, construiu um túnel circular de 27 km que está cem
metros abaixo da terra. Seu objetivo é fazer colidir partículas de
prótons viajando em direções opostas dentro deste gigantesco
acelerador. Chamado de LHC (Large Hadron Collider), esse enorme
instrumento científico será ligado em 2007.
Para detectar os dados resultantes das colisões, estão sendo
construídos detectores monumentais. Eles ficarão nos quatro pontos de
intersecção do gigantesco anel. A quantidade de dados gerados
anualmente será da ordem de 15 Pentabytes, algo como 21 milhões de CDs.
Para processar essas informações é que o Cern utilizará a computação
distribuída. Vale lembrar que o Cern é a instituição onde foi criada a
web, o modo gráfico da internet. O seu departamento de tecnologia da
informação está aproveitando a experiência do SETI@HOME para aplicar o
Boinc em uma série de experimentos que ocorrerão no LHC.