Raitéqui

Energia renovável e metareciclagem ubíqua


A questão ambiental precisa ser considerada como um dos principais temas na sociedade em rede

Sérgio Amadeu da Silveira


ARede nº41 Outubro de 2008 – A geração, o armazenamento e os impactos do uso de energia são um dos maiores problemas do século 21. As tecnologias de informação e a capacidade de processamento evoluiram muito mais do que os processos de conservação de energia e de dissipação de calor. A nanotecnologia atingiu uma capacidade de produção miniaturizada inimaginável, mas os processos de esfriamento acompanham ainda de longe os avanços computacionais. Como usar energia solar barata para garantir o funcionamento de antenas e roteadores wireless? Essa dúvida acompanha outras importantes, tais como o que fazer com as baterias de celulares e computadores. Altamente danosas ao meio ambiente, não podem ser lançadas em aterros ou ter o mesmo destino do lixo residencial.

Recentemente os games Xbox 360 e Wii atingiram a pior classificação no ranking de produtos eletrônicos verdes elaborado pelo Greenpeace (www.greenpeace.org/international/press/reports/greener-electronics-guide). O PlayStation aparece em uma posição bem melhor. Empresas como a Nokia e a Sony Ericsson, ao realizar a coleta de telefones celulares usados, baterias e de outros componentes do lixo eletrônico de seus produtos, atingiram os primeiros lugares no ranking.

A questão ambiental precisa ser considerada como um dos principais temas na sociedade em rede. O mundo industrial desconsiderou os processos vitais e as leis da termodinâmica. Em sua arrogância produtivista, apostou todas as fichas na racionalidade técnica, nas forças de mercado e no ideal de progresso. As promessas da modernidade apresentavam-se como capazes de superar todos os eventuais malefícios que pudesse causar ao equilíbrio dos ecossistemas. Não tem sentido a sociedade informacional seguir o mesmo caminho. Computadores, celulares, redes digitais, nuvens de conexão precisam de energia. Por que não usar energia renovável? Podemos utilizar energia solar e dínamos para autocarregamento. Prefeituras que pretendem instalar pontos de acesso a redes wireless podem instalar placas e painéis para captação de energia solar e economizar energia não renovável, bem como podem utilizar baterias que geram o menor resíduo possível (veja link do Metareciclagem sobre energia alternativa: http://metareciclagem.ourproject.org/link/tags.php/energia)

Não tem nenhum sentido utilizar a tecnologia de informação com padrões de agressão ambiental ultrapassados. Não podemos mais acreditar na lógica de que o gasto de energia é tão pequeno que não compensa o esforço. Foi assim que chegamos ao aquecimento global, desconsiderando os pequenos esforços de preservação.

Hoje, temos rádios, lanternas e headphones que funcionam com bateria solar e com auto-carregadores movidos a manivela. Basta recorrer aos mecanismos de busca e escrever “mSelf-Powered Emergency Radio & Light” e veremos vários produtos que usam uma tecnologia que pode ser aprimorada para os computadores e aparelhos móveis de comunicação e processamento de informações.

O mais interessante é usar os computadores considerados inservíveis para um processo de reciclagem e recuperação para o acesso à internet. Várias máquinas contendo placas de conexão sem fio podem ser espalhadas pelas praças, lojas, espaços que permitam o acesso público, próximos a roteadores wireless movidos a energia solar. Trata-se de um processo de unir as nuvens digitais de conexão com a metareciclagem ubíqua. Ubíquo é a qualidade da unipresença. É uma palavra que quer dizer “estar em todos os lugares”. A expressão computação ubíqua foi usada para definir um cenário em que a informática está presente em todos os espaços do cotidiano das pessoas. A metareciclagem ubíqua é uma ação generalizada de reaproveitamento de sucata eletrônica para realizar a conectividade ubíqua, movida a energia renovável.

Hoje já temos sucata e lixo eletrônico suficiente para espalhar máquinas de acesso à rede por diversos espaços. O que falta? Projetos de reciclagem, galpões apropriados, formação ativa de jovens para reciclar, apoio para o barateamento dos painéis solares, produção de dínamos mais eficientes e baterias apropriadas. No fundo, falta iniciativa. As escolas deveriam ter, no mínimo, duas oficinas de atividades extra-curriculares: uma de metareciclagem e outra de criação e desenvolvimento de animações e games.

Lembre-se de que o software Muan, Manipulador Universal de Animação, desenvolvido pelo Anima Mundi “é um sistema open source para animação quadro-a-quadro, desenvolvido e compatível com o sistema operacional Linux”.

Um bom ponto de partida para a compreensão e para um futuro planejamento desse processo de reciclagem está no blog Lixo Eletrônico (www.lixoeletronico.org) ,que conta com pessoas importantes da metareciclagem no Brasil e pioneiros de projetos com tecnologia da informação, tais como Ricardo Kobashi, Felipe Fonseca, Hernani Dimantas, Amanda Gambale, Felipe Andueza, entre outros. O objetivo do blog é “agregar referências e informações sobre a questão do Lixo Eletrônico no Brasil e no mundo”. Seus autores querem “incentivar conversações relacionadas” e unir pessoas interessadas em discutir e agir sobre o lixo da era informacional. Esta é a próxima onda.


Sérgio Amadeu é sociólogo, considerado um dos maiores defensores e divulgadores do software livre e da inclusão digital no Brasil. Foi precursor dos telecentros na América Latina e presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.