Programas permitem que pessoas participem da construção coletiva de um texto ou “assistam” em vídeo as etapas do processo criativo Sérgio Amadeu da Silveira
ARede nº57 abril/2010 – Trabalhar, estudar e aprender em rede são atividades cada vez mais comuns em uma sociedade informacional. Por isso, as ferramentas e plataformas que viabilizem ações coletivas e cooperativas de pessoas espalhadas pelo planeta, mas reunidas no ciberespaço, ganharão relevância crescente. Entre elas, certamente se destacam os editores colaborativos de textos.
Esses editores são aplicações via web que permitem que várias pessoas produzam um texto, seja um projeto, um relatório ou um trabalho escolar, a partir de computadores diferentes. Existem dois tipos de edição colaborativa: em tempo real ou síncrona; e assíncrona ou realizada em momentos diferentes. Na edição em tempo real o mesmo arquivo é editado por diversos usuários simultaneamente.
Douglas Englebart, conhecido por ter inventado o mouse e pelo seu pioneirismo nos projetos de interação entre humanos e computadores, chamou de “The Mother of All Demos” uma série de tecnologias experimentais apresentadas em uma conferência sobre computação em São Fancisco, nos Estados Unidos, em 1968. Um dos demos era um editor para a colaboração em tempo real. Todavia, as implementações funcionais da ideia demoraram muito anos para aparecer. (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Mother_of_All_Demos)
O cenário da chamada web 2.0 gerou uma grande procura por navegadores e ferramentas de edição online de documentos. Em particular, um produto chamado Writely registou um crescimento explosivo de usuários. Foi comprado pelo Google em março de 2006 e passou a se chamar Google Docs & Spreadsheets. Um outro editor, o EtherPad (http://etherpad.com) aparece e ganha destaque como a primeira dessas ferramentas online a assegurar um excelente desempenho em tempo real. Enquanto o EtherPad ganhava adeptos, em 2009, o Google começava a testar a versão beta do Google Wave, um ambiente de colaboração síncrono que pretende incorporar e-mails e mensagens instantâneas. Na sua ação expansionista, ainda no final de 2009, o Google adquire o EtherPad e insere sua equipe para trabalhar no projeto Wave.
O fato é que o EtherPad é uma plataforma leve e extremamente útil para a escrita em tempo real. No Google Docs, os usuários levam entre 5 a 15 segundos para que uma mudança realizada no texto a partir do seu teclado apareça nas telas dos demais usuários. Usando a plataforma EtherPad esse delay é muito menor e na maioria das vezes quase imperceptível, sendo limitado pela velocidade da luz e pela placa ethernet de cada computador.
Quando várias pessoas estão usando o EtherPad para editar um mesmo documento simultaneamente, todas as mudanças são refletidas instantaneamente na tela. Todos podem até digitar ao mesmo tempo, o que pode gerar conflitos. Por isso, a interface gráfica do EtherPad traz um chat no seu lado direito. Desse modo, enquanto o texto é digitado no ambiente central, as pessoas podem discutir suas alterações no chat. O resultado é bem produtivo e melhora as possibilidades de colaboração à distância para a confecção de documentos, atas, programação de ações, planejamento, revisão de textos, e atividades de aprendizagem e educação, entre outras não imaginadas.
Ao comprar o EthePpad, o Google liberou seu código-fonte, o que o tornou uma plataforma opensource. O aplicativo EtherPad está escrito em JavaScript e um código é executado no servidor e no navegador, o código usado para sincronizar as alterações ao documento. O uso das funções básicas do EtherPad é gratuito, mas existem versões pagas para empresas e indivíduos que querem uma série de serviços mais sofisticados.
Os textos podem ser trabalhados conjuntamente no EtherPad, podem ser exportados para diversos formatos, inclusive em HTML, PDF e ODF. Existe uma funcionalidade muito útil que se chama Time Slider. Depois que escrevemos um texto, todos os movimentos de idas e vindas, de inclusões, correções são mostrados como se fosse um filme. Na realidade, o Time Slider é o registro encadeado de todos os movimentos realizados no texto, tal como um vídeo. Para ações educativas esta funcionalidade pode ser utilizada para discutir o processo criativo como um todo.
Assim que um usuário cria seu bloco virtual ou pad público, a plataforma Etherpad fornece a ele uma URL que pode ser enviada para os demais colaboradores, por e-mail ou por mensagens instântaneas. Cada colaborador acessa o link sem nenhuma burocracia ou preenchimento de qualquer cadastro e escolhe um nome de usuário e uma cor. Cada usuário tem seus textos destacados com cores diferentes e os seus nomes aparecem na barra lateral. A simplicidade e eficiência são impressionantes.
Tudo indica que em uma sala de aula, equipada com computadores, uma ferramenta como o EtherPad pode apoiar enormemente o processo de aprendizagem e formar pessoas mais colaborativas e aptas a trabalhar em rede. O professor, por exemplo, pode orientar alguns estudantes a escrever análises sobre uma determinado tema enquanto os demais alunos podem contribuir e observar a participação de todos os colegas. Um grupo de alunos pode trazer um texto discutido previamente e submetido ao debate mais amplo com toda a classe, que é chamada a alterar o texto original. As mudanças devem ser sustentadas oralmente, se todos estiverem reunidos presencialmente, ou pelo chat, caso estejam acessando a aula de locais diferentes. Para compreender melhor os usos educacionais é interessante ver o vídeo EtherPad in Education (somente em inglês): www.youtube.com/watch?v=A1pSfPchpCE.
Sérgio Amadeu da Silveira é sociólogo, considerado um dos maiores defensores e divulgadores do software livre e da inclusão digital no Brasil. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.