Hardware aberto fabricado sob demanda
Surgem inúmeros projetos livres de patentes, que podem ser construídos de modo colaborativo.
ARede nº71 julho de 2011 – No último Fórum Internacional de Software Livre, logo após a reunião que o Ministro da Ciência e Tecnologia realizou com diversos integrantes das comunidades hackers, Felipe Fonseca, conhecido ativista do metareciclagem, me falou sobre o trabalho de Jon Philips. Interessante expansão do universo das práticas colaborativas do mundo dos bits para o mundo dos átomos. Philips participa do desenvolvimento de hardwares, bem na linha da inovação distribuída e baseada em protocolos abertos.
Felipe Fonseca observou que Philips trabalha com hardwares abertos criados por equipes pequenas extremamente focadas, alinhadas com os princípios do conhecimento livre, e que terceirizam a produção no leste asiático – no caso dele, em Cingapura. Dei uma busca na rede e encontrei um dos sites de Philips, o da empresa The Fabricatorz (http://fabricatorz.com), que afirma ser “uma empresa de produção aberta”, especializada em Software Open Source, em tecnologias e licenças Creative Commons, crescendo nas comunidades online e off line de São Francisco e da China.
A ideia de hardware aberto, livre de patentes, que possa ser melhorado de modo colaborativo está crescendo. Inúmeros projetos já são bem conhecidos. Um deles é o Arduino, que permite criar um programa para uma placa microcontroladora que pode ser utilizada para diversas finalidades, desde operar um pequeno robô, até acionar as luzes de uma casa a partir do celular.
O Arduíno foi projetado em um software proprietário. A comunidade brasileira de software livre lançou o Brasuino BS1 (http://brasuino.holoscopio.com/index.html.pt), um hardware baseado no Arduino, mas redesenhado com software livre, e licenciado como GPLv2+. Feito para criar facilmente protótipos, “ideal para estudantes, hobbystas e designers interessados em criar dispositivos mirabolantes”.
Hardware aberto produzido sob demanda soma-se às propostas de design aberto de hardware, circuitos e componentes de microeletrônica. Os hackerspaces que estão proliferando em todo o mundo, inclusive no Brasil, são um espaço importante para avançar o desenvolvimento colaborativo do open design. Um dos exemplos mais significativos é o Open Design City (http://odc.betahaus.de).
Os criadores do Open Design City explicam que seu projeto é voltado para as práticas coletivas, para aquilo que os espanhóis chamam de procomún e que em língua inglesa se denomina commons. Os projetos de open design visam construir coisas que as pessoas são livres para adaptar, modificar e reconstruir. As barreiras de entrada de novos criadores não devem existir ou ser mínimas. Produtos de design aberto, por sua natureza, devem ser entregues em versão beta, entendida não como completa, mas em constante evolução, em diálogo com os seus usuários e voltadas à colaboração.
Um dos exemplos mais interessantes do mundo do design e hardware abertos é a organização Dangerous Prototypes (DP). Há dois anos, Dangerous Prototypes nasceu com a missão de lançar “um novo projeto de código aberto a cada mês”. Missão impossível? Não. Até o momento, 30 projetos foram criados. Todos estão sendo comercializados por outra organização impressionante, o Studio Seeed, que ajuda os designers de open hardware a fabricar suas ideias na China e a distribuir os produtos para venda em todo o mundo.
Projeto de grande sucesso da Dangerous Prototypes, o Open Bench Logic Sniffer consiste em um analisador lógico que registra a atividade de um chip “falando” com outro, exibindo tudo em um gráfico de fácil visualização. Uma vez que o observador pode ver os fluxos, é muito mais fácil encontrar problemas em um circuito. O Sniffer Logic foi desenvolvido em conjunto com a Gadget Factory. Segundo a Dangerous Prototypes, não é apenas o código-fonte aberto que chama a atenção, o produto é o mais barato analisador em uso com velocidade de gravação razoavelmente alta. Existe um wiki com os projetos de hardware aberto lançados pela Dangerous Prototypes (http://dangerousprototypes.com/docs/Main_Page). Na mesma página, é possível acessar os tutoriais dos projetos e os links para as listas da comunidade. Seria muito interessante reutilizar muitas das ideias e códigos-fonte desses projetos para alavancar o estudo de várias disciplinas no ensino médio, para testá-las em um laboratório de garagem ou para animar um hackerspace.
Se alguém tem um projeto de hardware aberto para construir ou vender, pode contar com a Dangerous Prototypes ou falar diretamente com a Seeed (www.seeedstudio.com/depot). Tudo dependerá do estágio do projeto. Com ele concluído, a Seeed tem um serviço chamado Propagate, voltado para a fabricação de dispositivos e hardwares de código-fonte aberto em pequenas quantidades (100 ou mais). Caso o projeto necessite de uma ajuda para finalizar sua versão beta ou para corrigir alguns erros em seu protótipo, a Dangerous pode ser acionada pois tem uma comunidade fantástica sempre disposta a colaborar.