Internet de Gaza na mira de Israel
Ativistas temem que governo israelense tire a rede do ar e reagem com orientações para evitar apagão digital
Eva Galperin
ARede nº 87 – dezembro de 2012
DIAS ATRÁS, o Departamento de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) lançou a Operação Pilar de Defesa – a mais recente ofensiva contra o grupo palestino Hamas, disparando uma centena de foguetes na Faixa de Gaza em resposta a foguetes enviados contra Israel. Os ataques desencadearam duas ações de retaliação a partir de Gaza, que atingiram o subúrbio de Tel Aviv. Enquanto os foguetes cruzam os ares e as baixas se acumulam, um conflito paralelo se desenrola na internet e nas mídias sociais.
Dia 14 de novembro o IDF postou um vídeo na web do que alega ser o assassinato de uma liderança do comando de operação do Hamas, seguido de um tuíte na conta @IDFSpokesperson, que dizia o seguinte: “Recomendamos que nenhum líder do Hamas, seja de baixo ou alto cargo, exiba seu rosto acima do chão nos próximos dias”.
O tuíte gerou uma resposta do Hamas, via @AlQassamBrigade: “@idfspokesperson Nossas mãos abençoadas vão alcançar seus líderes onde quer que estejam (vocês abriram os portões do inferno para si próprios).
Essa troca de farpas levou Brian Fung, editor do periódico The Atlantic, a questionar se a guerra de palavras entre Israel e Hamas violou os temos de serviço do Twitter, que proíbe “ameaças diretas e específicas de violência contra outros”. Fung concluiu que a troca de tuítes não constitui uma violação das normas do Twitter, mas Matthew Ingram, editor do blog GigaOM, aproveitou a oportunidade para apontar a extraordinária força das empresas de mídias sociais em cenários como esse.
O YouTube se recusou a tirar do ar o vídeo do assassinato, apesar de aparentemente violar as diretrizes do site, que dizem “se o seu vídeo mostra alguém sendo fisicamente machucado, atacado ou humilhado, não o publique”. A revista Wired chegou a citar declarações de um anônimo empregado do YouTube, dizendo que diretrizes são apenas isso – diretrizes, e não regras rígidas. A decisão do YouTube de manter o vídeo veio exatamente algumas semanas depois de a empresa ter decidido romper com suas tradicionais políticas e tirar do ar o vídeo antimuçulmano “A Inocência dos Muçulmanos no Egito e na Líbia”, apesar de ter admitido explicitamente que o vídeo não feriu em nenhum aspecto seus termos de serviço e que a empresa não recebeu qualquer ordem legal para tirar o filme do ar.
O Anonymous também se manifestou sobre essa guerra na web. Reagindo a indícios de que o governo israelense tiraria a internet do ar em Gaza, o grupo fez um alerta na hashtag #OpIsrael, declarando: “Nós somos ANONYMOUS e NINGUÉM derruba a internet sob nossas vistas”. Simpatizantes do Anonymous estão sendo responsabilizados por atacar sites pró-Israel e distribuir o Pacote de Cuidados Anonymous Gaza, um guia que contém informações básicas de segurança e prevenção contra vigilância, além de dar orientações sobre como manter a conectividade no caso de Israel cumprir suas ameaças de provocar um apagão. Como a Faixa de Gaza e a Cisjordânia são fortemente dependentes de Israel no que se refere a infraestrutura de internet, um apagão em grande escala é possível, mas a probabilidade de Israel tomar uma atitude desse tipo é discutível.
No momento, o acesso à conectividade em Gaza é irregular e inconsistente. Os moradores de Gaza sofreram cortes de energia e estão acostumados a contar com geradores, mas ainda não houve um efetivo esforço de Israel para prejudicar a internet local. Nesse meio tempo, as conexões dial-up podem ser uma tábua de salvação. O coletivo de ativistas Telecomix publicou um guia para configurar e usar uma conexão de internet dial-up. É importante lembrar que a conexões dial-up não são seguras. A comunicação por esse meio pode ser interceptada ou espionada. A Electronic Frontier Foundation (EFF) recomenda que se use o software de encriptação de tráfego HTTPS Everywhere, disponível para baixar, e que foi desenvolvido em colaboração entre a EFF e o Projeto Firefox.
Eva Galperin escreve para o site da Electronic Frontier Foundation – www.eff.org – onde este artigo foi publicado originalmente