Trata-se de um novo conceito de
construção de uma rede de comunicação sem infra-estrutura de
comunicações. Essa rede vai usar cada computador nela conectado como
hospedeiro e reprodutor do fluxo de comunicação. Sergio Amadeu da Silveira
Apalavra vírus provoca imagens ou idéias de contaminação, multiplicação
reprodução rápida e fulminante. Para a biologia, um vírus é um
microorganismo que se multiplica usando a célula do seu hospedeiro. Na
computação, o vírus é um programa malicioso que vem dentro de outro
programa, que faz cópias de si mesmo e tenta se espalhar pelos demais
computadores. No cenário dos negócios, o marketing viral é a propaganda
boca a boca.
No mundo das redes, é cada vez mais forte a idéia da comunicação viral.
Mas o que vem a ser uma rede viral? Trata-se de um novo conceito de
construção de uma rede de comunicação sem uma infra-estrutura de
comunicações. Uma rede que utilize cada computador nela conectado como
hospedeiro e reprodutor do fluxo de comunicação. É uma revolução dentro
da revolução informacional. É a rede caminhando no sentido da mais
completa descentralização, não somente de sua parte lógica, mas também
de seus elementos físicos.
A internet representou uma profunda mudança no paradigma das
comunicações. Ela é logicamente descentralizada; ao contrário da TV,
não depende de um centro emissor. Mas utiliza a infra-estrutura da
telefonia para existir e trocar seus pacotes de dados, para conectar os
computadores. Imagine, então, usar determinadas ondas de rádio para
conectar diretamente um computador com outro. Pense em tirar os fios da
internet e criar uma conexão de todos com todos, via wireless (sem fio,
em inglês). Calma aí, vamos explicar melhor.
Comunicação viral é o conceito de um sistema de comunicação livre de
infra-estrutura, em que os usuários fazem sua própria infra-estrutura.
Essa forma de comunicação pode ter o mesmo nível de impacto que a
internet teve sobre a comunicação conectada por redes de fios e fibras
ópticas. A comunicação se dará como no caso da disseminação de um
vírus. Tal como o vírus se prolifera contaminado a célula vizinha, a
comunicação viral terá como o agente de propagação os computadores mais
próximos. A máquina de seu vizinho servirá para fazer sua mensagem ser
transmitida ao vizinho de seu vizinho e assim por diante até chegar ao
destino.
Eu sou uma antena
Primeira implicação de um sistema viral é que ficamos livres da
infra-estrutura de telefonia (a chamada de última milha) para conectar
nossos computadores, palms e notebooks. Segunda, é que a rede viral
está mais aberta às inovações, é mais flexível, exatamente por não
estar baseada em nenhum sistema central. A terceira implicação está no
fato de colocar a inteligência em cada nó da conexão, e não mais em um
servidor instalado em um provedor. Ufa!
Criar redes descentralizadas, que não dependam de um ponto central, com
a capacidade de se autoconfigurar de acordo com o número de
máquinas nela penduradas, exigirá novos algoritmos que assegurem a
continuidade do fluxo de informações, se um dos nós cair, ou seja, se
desconectar. O algoritmo (conjunto de instruções embutidas em cada
placa de comunicação da rede viral) deverá ser capaz de redirecionar a
corrente de dados para outros nós. Se a máquina de seu vizinho à
direita deu pau, a transmissão continuará através da máquina do vizinho
da frente ou à esquerda. Como isso é possível?
Os equipamentos, computadores ou laptops conectados na rede passam a
funcionar como aparelhos de retransmissão de informações; passam a
trabalhar como pequenas antenas retransmissoras. Isso mesmo,
retransmissoras de sinais. Com uma pequena placa inserida em cada
computador, ele é transformado em uma pequena estação que roteia o
fluxo de dados que estará passando por ele. Ou seja, além do computador
receber e enviar dados conforme a vontade de quem o opera, ele também
passará a garantir que os computadores vizinhos possam se comunicar
utilizando-o como ponte de comunicação.
Agora pense em uma cidade com
milhares de computadores. Quanto mais computadores e laptops existirem,
menor será a distância entre eles e melhor será a comunicação. Sem fios
ou cabos, os dados serão transmitidos por ondas captadas por cada
computador, agora transformados em pequenas estações roteadoras de
telecomunicações. Hoje, quanto mais pessoas usam uma linha ADSL, menor
a velocidade de transmissão dos pacotes de dados. Existe uma redução da
velocidade à medida que mais pessoas forem se conectandona rede.
Cada novo computador conectado congestiona a rede tradicional.
Quanto mais, melhor.
Ocorrerá exatamente o contrário no caso da arquitetura das redes virais
ou ad hoc (feitas com essa finalidade). Quanto mais máquinas
funcionando em uma área, mais caminhos para as informações se
propagarem, evitarem congestionamentos e chegarem mais rapidamente ao
seu destino. A rede viral é uma rede solidária que fica melhor,
quando mais máquinas compartilham sua conectividade.
Um dos principais pensadores da comunicação viral é Andrew Lippman,
pesquisador e professor do MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts). Um dos grandes entusiastas o laptop de US$ 100.
Milhões de crianças com laptops contendo placa apropriada para
comunicação viral vão representar uma enorme massa de
computadores-retransmissores necessários a viabilizar, em todas as
cidades, a comunicação viral. Sem gastar um centavo de conta
telefônica.
A rede viral tem uma topologia mesh. Em redes de comunicação, o termo
topologia indica a descrição do arranjo da rede, o desenho como seus
nós estão conectados. Quando todos os nós possuem linhas de conexão com
um nó central, chamados essa topologia de estrela. Quando os nós se
conectam entre si, temos uma topologia mesh. A rede mesh também pode
ser feita com a colocação de centenas de antenas com capacidade de
conectar entre 30 a 60 computadores cada. Mas também pode ser uma rede
ad hoc, ou seja, permite a conexão entre os equipamentos sem fio, sem a
necessidade de ponto de acesso.
O futuro da comunicação viral, completamente descentralizada e de baixo
custo, coloca instigantes possibilidades para a educação, para a
diversidade cultural e para o comércio. Certamente, reordenará a
telefonia, pois a voz sobre IP poderá usar a rede mesh para se
consolidar, bem como a TV sobre IP poderá viabilizar inúmeros canais de
programação e maior diversidade cultural. Outros desafios surgirão, mas
a comunicação viral democratiza intensamente a comunicação mediada por
computador, desde que as pessoas tenham acesso a um computador. A luta
pela inclusão digital é uma corrida contra o tempo, para impedir que
nossa sociedade e nossas comunidades fiquem fora da sociedade do
conhecimento. Temos pressa.