Repórter Comunitário – Amazônia ribeirinha, direto de Suruacá.


Em telecentros culturais nas margens do Tapajós, a internet conecta as
comunidades ao mundo, para que elas falem de sua realidade.
Nilson Silva e Kilvia Marques*

Suruacá
é uma comunidade ribeirinha situada na margem esquerda do Rio Tapajós,
no Estado do Pará, próxima à cidade de Santarém. Nela vivem 96
famílias, com uma população aproximada de 500 pessoas. Suruacá foi
fundada em 1890. Quando os primeiros moradores chegaram no local, ainda
havia índios que, logo após, se deslocaram para outras áreas. Desde os
primeiros anos, a maioria das pessoas trabalhava na cultura da
mandioca, a partir da qual se fabrica a farinha de cor bem amarelinha e
bem torrada, e seus derivados. Além da mandioca, se produzia borracha
em grande quantidade, no período áureo da exploração da borracha. A
comunidade fica a quatro horas de Santarém, pelo rio, e o único meio de
transporte para lá é o barco.

O mais importante meio de comunicaçãode Suruacá, onde há um telefone,
um rádio amador e um jornal comunitário, é a internet, que chegou pela
implantação de um telecentro, em dezembro de 2003. Uma das maiores
dificuldades foi a geração de energia – somente o sistema solar, com
capacidade para mil watts, custou R$ 50 mil, um sistema para gerar
energia a toda a comunidade custaria R$ 200 mil. O telecentro foi o
primeiro dos dois Telecentros Culturais Comunitários formados em
parceria com entidades ligadas ao desenvolvimento das comunidades
ribeirinhas, principalmente a organização não-governamental Projeto
Saúde & Alegria. O segundo fica na comunidade de Maguari e foi
inaugurado em junho de 2004. O projeto contou com investimento da
agência de cooperação dos EUA – USAID e apoio da RITS – Rede de
Informações para o Terceiro Setor.

Foi a própria comunidade que se mobilizou para a construção do
telecentro. Os jovens são os principais freqüentadores do espaço, usam
o telecentro para se comunicar, aprender, pesquisar trabalhos de aula e
outros assuntos que lhes interessam. O local funciona pela manhã, das
8h às 11h; à tarde das 2h às 6h; e à noite das 7h às 9h. Pela internet,
as pessoas conversam, por meio de messenger, com pessoas em Santarém,
em outras cidades do Brasil e dos EUA.

As computadores rodam Linux, mas nem todos os programas são livres.
Além do uso dos computadores, o telecentro é um centro de lazer para a
comunidade. Os jovens participam de bate-papos e de conferências, como
a que aconteceu no Rio de Janeiro, no ano passado, no evento Amazônia
BR. Também conversam bastante com os jovens de Maguari: na outra margem
do rio Tapajós, o telecentro é como o de Suruacá – um prédio de dois
andares, construído em sistema de mutirão pela comunidade.


O telecentro foi construído em
mutirão pela comunidade.

As dificuldades para manter o telecentro são muitas. A maior delas é a
quantidade pequena de computadores – são somente três –, que obriga os
monitores a limitar o tempo de uso por pessoa em 30 minutos. O
telecentro é aberto a todos, mas pessoas das comunidades vizinhas pagam
R$ 1,00 por hora pelo acesso. Contar com um recurso tão avançado, em um
lugar tão distante, melhora o conhecimento de todos ali – as pessoas
ficam mais informadas sobre as coisas do mundo e ampliam o poder de
comunicar sua visão sobre as coisas.

*Coordenador e monitora do Telecentro

www.saudeealegria.org.br • Site do Saúde e Alegria
www.rits.org.br
• A Rits testou conexão Wi-Fi entre Maguari e Muratuba e Suaruacá e
Piquiatuba, para transformar duas conexões do Gesac em acesso para
quatro comunidades.