Repórter Comunitário – Autogestão nos tabuleiros digitais

A navegação gratuita na internet pelos micros instalados no campus da Universidade Federal da Bahia não conta com ajuda de monitores, nem tem limite de tempo. O software é livre e a política de uso também.

A navegação gratuita na internet pelos
micros instalados no campus da Universidade Federal da Bahia não conta
com ajuda de monitores, nem tem limite de tempo. O software é livre e a
política de uso também.
 
Rosana Alves*


“No tabuleiro da baiana tem…”
Nem acarajé, nem vatapá. Tem computador. Os Tabuleiros Digitais

instalados no campus da Faculdade de Educação da UFBA (FACED) têm como
objetivo proporcionar a inclusão digital. Ao todo, são 18 computadores
conectados à internet que utilizam, em vez de mesas convencionais,
suportes projetados para uso rápido, inspirados nos tabuleiros de
acarajé.
Não há regras de utilização, experiência que gera, muitas
vezes, filas e conflitos com usuários que monopolizam as máquinas.

O número de brasileiros que tem acesso à internet não chega a 7% . Essa
iniciativa da FACED é uma tentativa de dar oportunidade para aqueles
considerados infoexcluídos conhecerem o mundo digital. Na opinião de
Sérgio Santos, 30, funcionário de serviços gerais da Faculdade, esse
projeto é maravilhoso. “No começo, morria de medo do computador. Tinha
medo de quebrar, e por isso limpava com todo cuidado. Mas a curiosidade
superou o medo. Sempre que termina meu horário de trabalho, navego pela
net e aproveito para dar uma olhada nos meus e-mails”, diz ele. Sérgio
aprendeu a mexer nos computadores (e no acervo de software livre que
roda neles) vendo os outros usarem, sem nunca ter feito curso de
informática. Conta até que já levou várias vezes seu filho de oito anos
para usar os Tabuleiros. “Ele estranhou e até chorou, mas, aos poucos,
fui ensinando tudo que sei e agora ele já gosta e saber até navegar
sozinho”, afirma.

Como não há monitores, nem controle do uso, pode acontecer de alguns
usuários ficarem muito tempo nas máquinas. “Tem gente que fica aqui o
dia todo, acessando bate-papo e ocupando lugar de quem realmente quer
pesquisar alguma coisa”, reclama Djalma Araújo, outro funcionário da
Faculdade. Priscila Garcia, 19, recorreu aos Tabuleiros porque
precisava fazer uma pesquisa da escola. Enfrentou uma grande fila: “não
tem jeito, pois é o único lugar com acesso de graça que conheço”,
justificou.


No tabuleiro tem computador.

Para Cleiton Nunes, 21, estudante de Educação Física, uma alternativa
seria estabelecer um tempo máximo para cada usuário, inclusive para os
próprios alunos. “Sou a favor da abertura dos Tabuleiros ao público,
mas acho que deveria ter um limite de tempo e também restrição a certos
tipos de sites, como os de bate-papo”, sugere.

Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação e idealizador do
Projeto, contudo, defende e explica a ausência de regras. “A idéia
fundamental dos Tabuleiros é liberar o acesso para que a comunidade se
auto-organize. O Tabuleiro é mais ou menos como o banco de praça. Já
pensou se tivesse um guardinha dizendo: _oi, cara, você já ficou
sentado demais. Se mande!”, pergunta. Mesmo assim, ele admite que cabe
à FACED, em última instância, administrar o movimento. O que poderia
ser feito, por exemplo, com campanhas educativas, ou que incentivassem
a negociação do uso das máquinas entre os usuários.

* 17 anos, repórter jovem da Rede Sou de Atitude, uma rede nacional
composta por crianças e jovens que monitoram políticas públicas na área
da infância, adolescência e juventude. A rede é interligada pelo Portal
www.soudeatitude.org.br, uma comunidade virtual para produção e divulgação de idéias e informações, e realização de ações conjuntas.