Aberto em 2002, o cineclube Zagaia oferece três sessões semanais para
adultos e crianças na periferia de São Paulo. Além de divertir, as
sessões viram uma forma de discutir uma vida melhor. Fernanda
Santana
Da esq. para dir.: Tarcísio Lucena,
coordenador do cineclube, Dagoberto
Teodoro, coordenador pedagógico do
CEFC, e Robenilda Gomes da Silva,
coordenadora da programação infantil.O cineclube Zagaia surgiu em 2002, no espaço CEFC (Centro de Educação e
Formação de Carapicuíba), onde antes só funcionava o cursinho
pré-vestibular Preste. O projeto nasceu a partir da idéia das amigas
Robenilda Gomes da Silva e Paulina Gonçalves Dias, hoje responsáveis
pela programação infantil. Elas perceberam que o único espaço que as
crianças da região tinham para brincar era a rua – que perto do CEFC é
perigosa, passam muitos carros. Então, pensaram em exibir filmes para
elas. No começo era só isso, mas, depois, elas organizaram o espaço de
forma que, além de se divertir, as crianças também aprendessem com os
filmes e participassem de brincadeiras valorizando os estudos, a escola
e até a higiene pessoal.
A preocupação é, além de divertir, sensibilizar e conscientizar as
crianças. Robenilda conta que o público infantil aumentou muito, no
começo eram apenas dez crianças por sessão, e hoje chegam a 30, com
idades entre 2 e 14 anos. Todos prestam atenção no filme e, ao final,
fazem comentários relacionando o que viram com sua realidade.
Segundo Tarcísio Lucena, coordenador do Cineclube Zagaia, os moradores
da região não têm recursos para ir ao cinema. Há um Cinemark a menos de
um quilômetro do CEFC, mas o ingresso é muito caro para a maioria das
pessoas. Daí a necessidade de uma sala com filmes de graça. Em 2004, o
projeto do cineclube foi aprovado no Ministério da Cultura, e os
recursos chegaram em 2005. Com o dinheiro (R$ 150 mil liberados em
quatro parcelas), compraram toda a aparelhagem e montaram a sala.
Apesar de o cineclube já existir há seis meses, ainda há sessões para
adultos que não ficam cheias. Tarcísio acredita que isso acontece
porque um cinema grátis é uma coisa muito nova para uma comunidade
carente, e como está escrito “cineclube” na fachada, e as pessoas não
sabem direito do que se trata, acham que é alguma coisa pela qual têm
que pagar. Por isso mesmo eles querem mudar o nome para “Cinema
Zagaia”, um jeito mais simples de se apresentar.
Para garantir sua programação, o Zagaia se articula com grupos e
produtores independentes, como o Cinema da Quebrada e a Cooperifa. E
também recebe fitas emprestadas, por meio de parcerias com o Itaú
Cultural, Videoteca da PUC, Videoteca da USP e Centro Cultural São
Paulo. Outros filmes vêm de locadoras comuns.
O cineclube tem seus coordenadores, mas o que vai ser exibido é sempre
decidido por um grupo formado por alunos e professores do cursinho e
pessoas da comunidade que queiram participar. E, além do trabalho em
Carapicuíba, há o projeto Zagaia Itinerante, que leva o cinema para
outras comunidades vizinhas, principalmente na zona sul paulistana.
O cineclube Zagaia ganhou esse nome por dois motivos: é o nome de uma
dança folclórica e também o de uma lança indígena poderosa. Simboliza a
luta por mais cinemas grátis, por mais espaços como o Zagaia.
*Fernanda Santana é repórter do jornal Becos e Vielas, que circula na zona sul de São Paulo.