De uma rudimentar câmara escura, feita com latinha, a oficinas de animação, rádio e jornal, desenvolvidas no telecentro, a Escola Municipal Hélio Pellegrino se tornou um pólo gerador de mídia comunitária, em Belo Horizonte. Mariana Martins Rodrigues *
Escola aberta à comunidade.As experiências com mídia na Escola Municipal Hélio Pellegrino, em Belo Horizonte (MG), começaram em 2004, quando ainda não havia computadores disponíveis para os alunos. O professor Paulo Nogueira, hoje coordenador do telecentro, desenvolveu um projeto chamado “Acesso”, de trabalho com mídias comunitárias com os alunos. “Nós trabalhávamos com apenas um computador, que servia para gravação de áudio”, afirma Paulo. Os alunos participaram de oficinas de pinhole – técnica fotográfica, desenvolvida com uma latinha, a partir dos princípios da câmara escura – e puderam revelar seus trabalhos no laboratório da escola. Além disso, gravaram radionovelas, que foram transmitidas na Radícula, a rádio da escola.
Pouco depois, a escola ganhou um telecentro, montado como parte da Rede Lê (Rede de Letramento Digital, projeto da Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte) e estruturado em um Núcleo de Produção Audiovisual, aparelhado com computadores, câmera digital, TV e equipamento de som. E aí foram desenvolvidos vários projetos, entre os quais o “Animassinha”, que conquistou o primeiro lugar do Prêmio Telemar de Inclusão Digital (região Sudeste, categoria Escolas), no qual são feitas experiências de animação com massinha pelos alunos. “Eles participam de toda a produção”, destaca Andréia Corrêa, diretora da escola.
A Escola Hélio Pellegrino também está, desde 2004, integrada ao projeto Rede Jovem nas Escolas, da Associação Imagem Comunitária, OnG que conta com o patrocínio da Petrobras, e que leva, a escolas públicas, oficinas de comunicação comunitária. Na Hélio Pellegrino, os alunos, entre 9 e 14 anos, participam de oficinas de rádio e jornal.
Além dessas iniciativas, um projeto de grande sucesso da escola é o “Sexta eu vou ao cinema”, em que são exibidos filmes gratuitos, às sextas-feiras, para toda a comunidade. Os filmes são selecionados e separados em mostras. As sessões vivem lotadas. Atualmente, está em cartaz a mostra “Sonhar é preciso”, com o filme “Dois filhos de Francisco”, que alcançou a maior “bilheteria” da escola. “Distribuímos mais de mil senhas”, conta a diretora Andréia. Já foram apresentadas diversas outras mostras, de Charles Chaplin a Mazzaropi. No final das sessões, são gravados depoimentos que, depois, são editados e exibidos antes do próximo filme. O telão é montado na quadra e a platéia recebe pipoca de graça feita na cantina da escola.
Em 2005, a professora de língua portuguesa, Eliana Gabrich, desenvolveu um projeto com alunos retidos (que repetiram o ano), chamado “Textos e pretextos”. O projeto visava o desenvolvimento da leitura e da escrita e o letramento digital desses alunos. Durante o ano, eles fizeram pesquisas e debates sobre o movimento hip hop. Tiveram aulas de grafite e fizeram um programa de rádio, transmitido na hora do recreio. Um dos participantes do projeto, Alan Anísio, começou a dar oficinas de grafite no projeto Fica Vivo, do governo do Estado de Minas Gerais. “Comecei a me interessar pelo grafite depois do projeto da escola”, explica Alan.
* Integrante da Rede Jovem de Cidadania, projeto da Associação Imagem Comunitária (AIC).