Vídeo sobre bairro da zona sul de São Paulo será uma ponte entre o que os alunos aprendem na escola e sua própria realidade.
Daiany Andrade*
Um grupo de alunos e um professor da Escola Estadual Loteamento das
Gaivotas III, no Jardim Gaivotas, às margens da represa Billings,
pretende mostrar que é possível ensinar as matérias dos livros usando a
realidade. E ter um bom material didático, mesmo com poucos recursos.
Os alunos registram a urbanização
desordenada e seu impacto ambiental.
Na periferia sul da megalópole de São Paulo, o Jardim Gaivotas possui
uma população média de 14 mil pessoas, boa parte vinda do Nordeste
brasileiro. Não tem saneamento básico e a maioria de seus moradores tem
uma renda pouco maior que um salário mínimo. Por se tratar de uma área
de proteção de manancial, a comunidade muitas vezes esbarra nas leis
ambientais do país, ou mesmo nos desmazelos de seus políticos, quando
reivindica melhorias para o bairro.
São as histórias desses moradores e o seu cotidiano que o grupo quer
mostrar, por meio de um documentário. O vídeo será levado à sala de
aula para ajudar alunos da comunidade a entenderem assuntos como a
migração, a urbanização desordenada e seu impacto no meio ambiente,
vivida em seu dia-a-dia. “O professor muitas vezes ensina coisas que
têm a ver com a realidade do aluno, mas não se dá conta disso. Se ele
não tem essa percepção, acaba perdendo uma ponte superbacana”, explica
o professor de História e Geografia, Alan dos Santos, 28 anos. Ele
procurou a ONG Vento em Popa para estruturar o projeto, que começou em
abril e, agora, conta com o apoio de estudantes universitários.
Entre os estudantes está Fabio Zanoni, que cursa Filosofia na USP e tem
experiência em documentários, por já ter participado da produção de
dois. “Acho legal um projeto como esse, porque faz com que as
pessoas tenham contato com um instrumento da comunicação visual”, diz
Zanoni.
Experiência que fica
Oito alunos manifestaram interesse e, então, foi feita uma reunião para
confirmar o grupo. Logo após, mesmo com uma das duas câmeras
emprestadas apresentando problemas e o grupo formado por pessoas
inexperientes, que nunca entrevistaram ou fizeram filmagens, começaram
as gravações. De início, procuraram moradores antigos para saber por
que vieram para o bairro; como era anos atrás; como era a represa, hoje
tão poluída. Depois, filmaram também alguns momentos importantes na
comunidade, como reuniões com órgãos públicos, organizadas pelas
lideranças.
Perder a timidez, aprender a ouvir pessoas mais velhas narrando suas
histórias e registrar tudo isso com uma ferramenta nova, de um jeito
novo, querendo saber, para que depois outros saibam. São os
aprendizados dos alunos de 15 a 18 anos, que se revezam entre as
entrevistas e filmagens.
Logo estarão também fotografando o bairro e as fotos farão parte do
filme. Embora ainda não tenham local definido para realizar a edição,
pretendem ter o documentário finalizado até o fim de dezembro. Começa,
então, uma nova fase do projeto.
Eles irão testar o filme na escola, e descobrir o impacto do material.
A partir daí, pretendem aperfeiçoar o projeto, para captar
dinheiro suficiente para financiar outros documentários, com melhor
infra-estrutura para os alunos que vão filmar, fotografar e editar.
Também torcem para que outras escolas realizem seus documentários.
*Repórter comunitária do jornal Resoluto, veículo de informação do Jd. Gaivotas.