Repórter Comunitário – Na carona da Rádio Busão

Na programação, grupos de rap
 deram o seu recado ao vivo.

Revelar o potencial artístico da comunidade. Esse é um dos propósitos
da Rádio Busão, criada por jovens moradores do Jardim Rosana, no Capão
Redondo, zona sul da cidade de São Paulo. O projeto faz parte do
Programa Jovens Urbanos, iniciativa da Fundação Itaú Social, coordenado
pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (Cenpec), e realizado em conjunto com a associação de
moradores.

Se você está imaginando uma rádio sobre rodas, muito bem. De fato, essa
é a intenção. No entanto, a Rádio Busão ainda busca parcerias para
viabilizar o ônibus (ou algum outro veículo). O objetivo é ter uma
rádio comunitária e uma biblioteca itinerante, que deve percorrer toda
a região do Campo Limpo com manifestos, prestação de serviço e muita
cultura local.

No dia 4 de junho, um sábado, a Rádio Busão teve sua primeira saída
itinerante, ainda sem veículo próprio. Os equipamentos foram montados
no Largo do Campo Limpo, e a rádio contou com a participação de
moradores. Na programação do dia, além de manifestos e entrevistas,
grupos de rap,  como o Rap City, deram o seu recado.

Músicos e poetas

O projeto começou em 2004, mas a rádio funciona somente há cerca de um
mês, na Associação de Moradores do Jardim Rosana. Por meio da
investigação cartográfica, os jovens identificaram as vocações e
potencialidades culturais do bairro, ligadas à composição de músicas e
à criação de poemas. E, na seqüência, optaram pelo que seria a melhor
forma de divulgação dos artistas locais. “A idéia é dar mais
visibilidade para esses trabalhos. Para que a comunidade saiba que, na
rua de cima da casa deles, a dona Maria não é só quituteira, ela também
escreve”, explica Cleide Ferreira, monitora e responsável pela operação
da rádio.

Atualmente, participam do projeto 16 jovens entre 16 e 24 anos, que
combinam o trabalho e o estudo com as atividades da rádio. Assessorados
por profissionais ligados à arte, à tecnologia e à pesquisa, esses
jovens desenvolvem trabalhos em locução, operação na mesa de som,
redação de textos, programação e produção de entrevistas.

Sempre em grupo, eles aprendem mais do que técnicas: o objetivo é
experimentar o verdadeiro significado de intervenção social. Manoela da
Silva Rocha, de 17 anos, concilia o trabalho de auxiliar de escritório
com a rádio. “Pretendo continuar no meu tempo de folga. Daqui a uns
anos, quero olhar para trás e perceber que contribuí na minha
comunidade”, diz ela.

Dentre as atividades, os jovens identificam grupos musicais no bairro.
Os interessados entregam o CD para ser tocado durante a programação da
rádio. Segundo Cleide, a programação deverá variar de acordo com o
itinerário, embora os assuntos ligados a drogas, juventude e saúde
devem ter um espaço fixo. Já as obras escritas são encadernadas nos
originais, ou seja, escritas de próprio punho. Aqueles que preferirem
digitá-las, contudo, serão encaminhados ao telecentro do bairro.

Hoje, o acervo da biblioteca conta com aproximadamente 30 obras locais
(feitas por moradores do bairro), e pouco mais de 50 exemplares
literários e didáticos. Está previsto o uso livre da biblioteca, e a
idéia é implantar o sistema de empréstimo de livros e promover oficinas
de leitura.

A comunidade tem sido receptiva ao projeto, que quer valorizar a
cultura local e oferecer espaço para os moradores se pronunciarem. “As
pessoas se sentem valorizadas. Essa valorização da comunidade pela
própria comunidade é o grande efeito, o resultado de tudo”, destaca
Cleide.

*Freqüentadora do Telecentro Jaraguá/Taipas, e jornalista formada pela
Uninove. Produziu, durante a graduação, material de sua comunidade para
o jornal da faculdade.

Repertório urbano
O Programa Jovens Urbanos – que visa ampliar a escolaridade e o
repertório cultural, artístico e esportivo de jovens da periferia de
grandes metrópoles – apresentou, durante a semana de 30 de maio a 4 de
junho, 17 projetos realizados nas regiões da Brasilândia, no extremo
norte da cidade de São Paulo, e Campo Limpo, na zona sul. Os bairros
foram escolhidos em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência
Social, que indicou os locais com alto índice de IVJ (Índice de
Vulnerabilidade Juvenil).
Integrantes do projeto Rádio
Busão, no Campo Limpo.


A iniciativa é da Fundação Itaú Social, que destina recursos aos
projetos, para financiamento de monitores, por exemplo, e coordenada
pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (Cenpec), juntamente com associações de moradores locais. O
programa tem a parceria de diversas empresas privadas, ONGs e também de
órgãos públicos.

Na edição piloto, iniciada em junho de 2004, participaram 480 jovens de
16 a 24 anos, que apresentaram grande potencial de ações em grupo. Para
Isabel Cristina Santana, coordenadora de projetos da Fundação Itaú
Social, o obje- tivo do programa é contribuir na formação do jovem.“O
programa não tem como objetivo profissionalizar e arrumar emprego. Mas
tem o pressuposto de que uma pessoa melhor preparada terá melhores
condições de se colocar no mercado de trabalho”, argumenta.

Essa primeira edição será encerrada no final de junho, com o balanço
dos primeiros resultados do programa. Os responsáveis pelo Jovens
Urbanos buscam novas parcerias para a próxima edição, que está prevista
para o segundo semestre, quando deve ser estendida ao Rio de Janeiro.