Através das ondas de uma rádio
comunitária, a população se diverte com músicas para todas as idades,
se informa sobre os acontecimentos da região e as pessoas mais carentes
têm a oportunidade de transmitir pedidos de ajuda. Fabiana Veríssimo*
Mazinho: rap e black music.
A rádio comunitária A Festa, localizada no Jardim Ângela, zona sul de
São Paulo, é mais uma iniciativa de moradores de uma comunidade carente
para informar e conscientizar a população da região. Alexandre
Oliveira, o Antão, 30 anos, e Mazinho, 28 anos, estão entre os que
tomaram a iniciativa de colocar a rádio no ar, e seu programa, Nosso
Som, é dirigido, principalmente, aos jovens da comunidade. A trilha
musical é composta, basicamente, pelo ritmo rap e pela black music – até porque a própria dupla faz parte do grupo de rap
Público. Mas Antão e Mazinho também usam os microfones para dar
conselhos aos jovens e divulgar eventos, artistas da região e campanhas
comunitárias. Ao lado deles, Seu Madruga, 56 anos, procura prestar
serviços aos moradores um pouco mais velhos, apresentando, em seu
programa Acorda Seu Madruga, músicas como forró, brega e sertaneja,
além de fazer, no ar, pedidos de ajuda para as pessoas mais carentes,
por meio de doações de muletas e cadeiras de rodas.
Todos os comunicadores da rádio trabalham como voluntários, mas, para
cobrir as despesas rotineiras, como água e energia, apelam para o apoio
cultural do comércio da região, composto, principalmente, de
estabelecimentos de pequeno porte, como padarias, mercadinhos, etc. “A
nossa intenção é prestar um bom serviço à comunidade. Estamos sempre
lutando pelo povo”, afirma Seu Madruga.
O comunicador diz, também, que um dos objetivos de uma rádio
comunitária é divulgar as coisas boas que ocorrem na região. “Quando
você ouve as rádios comerciais, as grandes, eles só falam de
acontecimentos mais gerais. Quando a nossa região aparece, é só para
mostrar coisas negativas”, observa ele.
A Banca
Antão: 7 mil pessoas
juntas, e nenhuma
briga.Antão também reclama da dificuldade de divulgar o trabalho de um grupo
musical da periferia: “Estamos tentando gravar um CD, coisa que, hoje
em dia, não é fácil. Para colocar sua música numa rádio que já tem uma
concessão, eles pedem, no mínimo, R$ 7 mil. É através da rádio
comunitária que a gente está conseguindo divulgar o nosso trabalho”.
Além das rádios comunitárias, existem outras iniciativas que fazem a
diferença em uma comunidade carente. No Jardim Ângela, uma delas é o
projeto A Banca, uma produtora de eventos cujo objetivo é proporcionar
entretenimento de qualidade para os moradores, principalmente para os
jovens. O próprio Antão e o DJ Bola são os responsáveis pelo projeto,
que já promoveu pelo menos oito eventos, desde 2000. “Fazemos festas
com som e palco profissionais, para a molecada carente, que não tem
condições de pagar R$ 5,00 para ir a um salão”, conta Antão.
Também nesse caso, o trabalho da dupla é voluntário e eles conseguem
ajuda do comércio local para pagar as despesas. Antão explica que,
quando vão dar uma festa, enviam ofício para a subprefeitura e para a
polícia. Já conseguiram promover uma festa para 7 mil pessoas, e Antão
se orgulha de lembrar que não houve nenhuma briga.
*Repórter comunitária, São Paulo.