Repórter Comunitário – Povos indígenas online

Tribos no Nordeste brasileiro usam a internet como espaço de articulação e mobilização.



Tribos no Nordeste brasileiro usam a internet como espaço de articulação e mobilização.

Daniel Bahia*

Já imaginou o que acontece quando povos indígenas de diversas
comunidades se conectam à internet? Essa experiência está sendo
desenvolvida por meio da Rede Índios On-line, iniciativa da ONG
Thydêwá, que busca promover a troca de experiências, o resgate cultural
e a garantia dos direitos indígenas. O projeto conta com as parcerias
do Instituto Telemar (pelo programa Novos Brasis) e do programa federal
Cultura Viva.

O objetivo é articular cem indígenas do Nordeste para o uso qualificado
da internet. Através de educação a distância, eles participam de
formação em temas como cidadania, monitoramento de políticas públicas,
direitos indígenas e as diversas etapas da criação de projetos sociais
de sustentabilidade e cultura – elaboração, captação de recursos,
gestão e acompanhamento. Segundo Sebastián Gerlic, coordenador da
Thydêwá, o Índios On-Line passou por vários estágios, até chegar à
atual “aliança virtual” que favorece o diálogo entre diversas etnias.

“Antes, os computadores eram usados para produção de livros sobre a
cultura indígena. Só em 2004, começamos a usar a rede para ações de
cidadania, como saber sobre verbas, atraso nos pagamentos dos índios,
da merenda escolar. Percebemos como a internet pode ser um meio de
trabalhar pela valorização da identidade e a tradição, ao mesmo tempo
em que atualiza os índios com a realidade”, explica Sebastián.

Atualmente, a Rede Índios On-line conecta 11 nações indígenas em três
estados nordestinos. A maior parte está na Bahia: Tupinambá de
Olivença, Pataxó Hãhãhãe, Kiriri, Tumbalalá, Truká, Tuxá, Pataxó e
Fulniô. Além dessas, fazem parte da rede os Kariri Xokó, em Alagoas, os
Xukuru Kariri e os Pankararu, em Pernambuco. Cada comunidade tem a sua
própria forma de organizar e utilizar os laboratórios de informática.

A articulação procura interferir na luta por melhorias na educação,
saúde, na retomada de terras indígenas e em questões ambientais, como o
desmatamento. É o que está acontecendo no município de Ilhéus, no sul
da Bahia, onde estão as comunidades tupinambás de Serra das Tempres,
Sapucaeira e Acuípe do Meio. Dos 42 mil km2 que compõem o território,
cerca de 3 mil já foram devastados pela exploração madeireira ilegal.

Quem conta a história é Sosígenes do Amaral e Silva Júnior, Tupinambá
conhecido como Jaborandy. “Há mais de oito meses, fizemos denúncias, e
as autoridades não tomaram nenhuma atitude. Por isso, vamos publicar
uma matéria na internet sobre o assunto”, explica.

O chat no site Índios On-Line é canal de mobilização e espaço de
integração. Laura Juliani, educadora do projeto, destaca os casamentos
entre jovens de tribos diferentes e o caso de Anapuáká Muniz, guerreiro
Pataxó Hãhãhãe e técnico de informática, que achou parentes na sala de
bate-papo. A educadora afirma, contudo, que mais do integrar, a Rede
Índios On-line fortalece a luta pela causa indígena e em defesa da
igualdade.



* Jovem educador da Rede Sou de Atitude (www.soudeatitude.org.br)