O Auçuba desenvolve oficinas de vídeo em comunidades da periferia do Recife, como caminho para a inclusão social. Cleiton Orman*
Paula pensou que ia
consertar videocassete.Recife, 1984. Rinaldo Silva,
artista plástico, preparava-se para fazer uma exposição das suas obras.
Depois de tudo pronto, precisava divulgar o evento e, para isso, reuniu
um grupo de amigos que estudavam Comunicação na Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). O sucesso do trabalho foi tão grande que eles
decidiram permanecer juntos para desenvolver outros projetos. Nascia
ali o que cinco anos depois viria a ser o Auçuba, organização
não-governamental que foi uma das primeiras instituições de Pernambuco
a utilizar a comunicação para promover a inclusão social.
Seu primeiro projeto, antes mesmo da formalização do Auçuba como
instituição, foi a criação das oficinas de vídeo com jovens da
comunidade de Chão de Estrelas, zona oeste da Região Metropolitana do
Recife. Esses jovens tinham aulas sobre como funciona uma produção de
vídeo, como elaborar um roteiro, qual a função do diretor, do
cinegrafista, enfim, tudo o que é necessário para se fazer um vídeo.
“Nós começamos a fazer uma construção coletiva com os moradores. Até
para que as pessoas pudessem entender o processo”, conta Michela
Albuquerque, coordenadora de projetos do Auçuba.
Era o começo do Escola de Vídeo, um dos principais projetos do Auçuba,
que tem como objetivo desenvolver a criatividade e a criticidade dos
alunos e, a partir daí, ampliar as possibilidades de inserção no
mercado de trabalho. O projeto já atendeu diretamente a mais de 300
jovens e cerca de 5 mil, indiretamente, por meio de ações
multiplicadoras como exibições públicas dos vídeos, TVs comunitárias, e
oficinas com monitorias realizadas pelos próprios jovens.
Paula Ferreira, moradora da Bomba do Hemetério, comunidade situada na
periferia do Recife, foi uma das jovens que participaram do projeto. Em
1999, a ONG da qual ela fazia parte, o Coletivo Mulher Vida, iniciou
uma série de parcerias com outras instituições, entre elas o Auçuba.
“Era algo tão pouco conhecido por nós, na época, que quando disseram
que era aula de vídeo, achei que era para consertar videocassete.”
A sede da Auçuba, em Recife.
O primeiro vídeo que ela produziu – Do Alto para o Mundo – falava
sobre a diversidade musical do Alto José do Pinho, comunidade vizinha a
que morava. “Tivemos que fazer entrevistas, roteiro e a produção. Eu
gostei tanto que acabei atuando em várias posições”, afirma. “Eu queria
contribuir para diminuir a carência de informação dos outros jovens da
minha idade. Cheguei a fazer parte do grêmio da escola para divulgar a
minha experiência”, diz Paula, que se tornou monitora nas escolas,
outra frente de atuação do projeto, e, hoje, é educadora do Auçuba.
“Através do olhar da câmera, o jovem começa a perceber o espaço onde
vive, e como ele pode modificá-lo”, analisa Michela Albuquerque.
* Repórter do setor de comunicação da Agência In’formar (www.informar.org.br).