Sala de aula a céu aberto

Congresso discute a integração entre escola e comunidade



Sucantando: música com instrumentos feitos de sucata.

Congresso discute a integração entre escola e comunidade
Carlos Minuano

O mundo não cabe mais na sala de aula, é preciso transformar os espaços urbanos em ferramentas educacionais. Essa é a síntese do conceito de cidades educadoras, debatido no 1° Congresso Nacional Cidade Escola São Bernardo do Campo, promovido pela prefeitura da cidade paulistana, em março. Batucada dos alunos do projeto Sucantando, realizado em escolas municipais de São Bernardo do Campo (SP), abriu o evento para uma platéia de aproximadamente 6 mil pessoas, entre professores, educadores e funcionários da rede municipal de ensino, incluindo quatro auditórios — três deles acessados remotamente, via internet, em tempo real, por telões.

Foram apresentadas ações e projetos educacionais realizados em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Na ocasião, o município, localizado a 20 km da capital, foi oficialmente declarado cidade-escola, por meio de decreto do Executivo local. Outras dez cidades brasileiras já receberam o mesmo título: São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Cuiabá, Campo Novo do Parecis (MT), Caxias do Sul (RS), Gravataí (RS), Piracicaba (SP), Santo André (SP) e São Carlos (SP).
A idéia central do conceito, e do congresso, é integrar escola e comunidade, ampliando os espaços onde o processo de aprendizagem ocorre. “Não há uma forma única de educação, nem um lugar exclusivo para que ela aconteça, todos os dias a vida se mistura com a educação e com a cidade”, afirmou José Roberto Juz Perez, professor da Unicamp. Convênio firmado entre a universidade e a prefeitura permitiu verificar que a administração investiu 42,9% da receita em ações educativas. Ou seja, quase o dobro dos 25% obrigatórios, destacou o professor.

O secretário municipal de Educação e Cultura, Admir Ferro, também coordenador do programa Cidade Escola de São Bernardo, afirmou que, a partir do diagnóstico da Unicamp, foi criado um grupo de trabalho para “elaborar um plano de ação para o estabelecimento e cumprimento de políticas públicas seguindo os princípios de uma cidade intencionalmente educadora”. Os investimentos previstos somam cerca de R$ 460 milhões para o programa cidade-escola. A intenção é atingir 1,5 milhão de pessoas, por meio de 465 espaços públicos.
A diretora do Departamento de Ações Educacionais de São Bernardo, Jumara Bulha, e a chefe da Seção de Bibliotecas Interativas Escolares, Maria Dalva Cabral, apresentaram o projeto Comunidade Educativa, que visa enriquecer o currículo escolar, trazendo as ações do entorno para dentro da escola, e ampliando a participação da comunidade nas ações da Biblioteca Escolar Interativa. O Comunidade Educativa já desenvolveu 71 ações em parceria com a comunidade, e atendeu 77.690 pessoas, nos dias em que as Bibliotecas Interativas são abertas à comunidade.

O conceito de cidades educadoras surgiu na Europa na década de 70, mas se tornou realidade em 1990, em Barcelona, na Espanha, a partir da criação da Associação Internacional de Cidades Educadoras (Aice) e da primeira versão da Carta das Cidades Educadoras, com 20 princípios fundamentais. Atualmente, a associação reúne cidades em 35 países e cerca de 300 municípios comprometidos.

Os professores acompanham
da platéia, e via telões.

As iniciativas apresentadas incluem uso de novas mídias, grafite, música e passeios pela cidade, tudo com fins pedagógicos. No caso do Grupo Sucantando, por exemplo, a música está a serviço da consciência ecológica. Os instrumentos são produzidos a partir de panelas, latas e outras sucatas. Formado por 55 crianças de sete a dez anos, o Sucantando foi criado em 2005, pelo Departamento de Ações Culturais da Prefeitura de São Bernardo. Em outro projeto — a Escola Aberta em Recife (PE), uma série de atividades artísticas são realizadas em cerca de 400 escolas, nos finais de semana, aproveitando talentos da comunidade. Mas a interação com a comunidade avançou mesmo com a inauguração do laboratório de informática, informou a coordenadora do projeto, Rachel Costa de Azevedo Mello. Já para os alunos das escolas municipais do centro de São Paulo, o roteiro cultural do Projeto Centro inclui o Teatro Municipal, o Pátio do Colégio e até o cemitério da Consolação como objetos de estudo.

A arquiteta Bia Goulart, coordenadora do Bairro-Escola de Nova Iguaçu (RJ), apontou na mesma direção. Ela garante que já há queda nos indicadores de criminalidade da cidade, como resultado do projeto. São 31 escolas, de 20 bairros, envolvidas em atividades nos espaços públicos e privados em período contrário de aula. “Escola e cidade nos parecem entidades fora de nós, uma acusa a outra e ambas se destroem”. Para mudar essa relação, em Nova Iguaçu, após as aulas, os estudantes são convidados a desenvolver atividades no entorno da escola. A secretária adjunta de Educação de Belo Horizonte, Macaé Maria Evaristo, relatou a experiência da Escola Integrada, que trabalha com a ampliação da jornada escolar diária de 15 mil alunos do ensino fundamental para nove horas, também explorando o potencial educativo em volta da escola.

Foi apresentado, ainda, o Cidade Escola Aprendiz e seu programa Old Net, com base na Vila Madalena, na zona oeste da capital paulista, em que adolescentes das escolas públicas da região ensinam usuários da terceira idade a acessar a internet. O fundador da ONG Cidade Escola Aprendiz, Gilberto Dimenstein, destacou a experiência do Programa Bairro-Escola com a Escola Municipal paulistana Olavo Pezzotti, onde o uso dos espaços culturais, sociais e de saúde do entorno contribuíram para melhorias no desempenho escolar e na formação cidadã dos alunos.

Em breve, portal.
A prefeitura de São Bernardo do Campo anunciou a criação de um Portal da Educação, que deve estar no ar no segundo semestre. E da publicação “SEC em Revista”, para divulgar as ações na área de educação em São Bernardo do Campo. Pelo Portal, todos os cerca de 50 mil alunos da rede municipal do ensino fundamental terão uma conta de e-mail. Os pais receberão login e senha para acompanhar o desempenho escolar dos filhos. E uma biblioteca virtual vai reunir trabalhos e artigos para referência acadêmica do aluno, calendário de eventos, notícias e informações sobre as escolas.


www.saobernardo.sp.gov.br – Portal da prefeitura de São Bernardo do Campo 
www.edcities.bcn.es – Associação das Cidades Educadoras (Aice)