Consumidores e fabricantes serão obrigados a assimilar uma NOVA cultura de sustentabilidade
ARede nº59, junho 2010 – Mudar a cultura de consumo da sociedade. Comprar apenas o necessário, condicionar a compra à responsabilidade ambiental de quem vende, reaproveitar para um novo uso aquilo que não serve mais na função original. Financeiramente, educar custa menos do que implantar qualquer plano de gerenciamento de resíduo que possa existir no planeta. Porém, sem dúvida, é o mais difícil de realizar, não só no Brasil, mas em qualquer país capitalista. Para ficar apenas neste continente… alguém se arrisca a dizer quantos modelos de dispositivos eletrônicos são lançados, por mês, nos Estados Unidos?
“O problema do lixo eletrônico só vai se resolver com eficácia no dia em que o consumidor disser ao fornecedor: eu só compro o novo se você aceitar de volta o velho”, afirma o administrador de empresas Valdir Batista, diretor da Restec, empresa paulista que faz coleta e destinação final de resíduos. “Se você não educa o consumidor, não freia o consumo. E é isso que precisa acontecer. Redução.” Um dos principais avanços do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a logística reversa (ver página 15) começa quando o consumidor leva seu equipamento para um posto de coleta. “Se a pessoa não levar, nada disso vai funcionar e é por isso que é importantíssimo investir em educação ambiental”, acrescenta Maria Thereza Fadel Gracioso, analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Só a educação ambiental pode dar conta, por exemplo, da questão do mercado cinza – cadeia de comércio de equipamentos eletroeletrônicos clandestinos, sem fabricantes definidos. “Resíduos de produtos que levam marcas de fabricantes serão de responsabilidade dessas empresas”, explica Robertson Fonseca de Azevedo, promotor de Justiça do Centro de Apoio das Promotorias de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná. “Mas os resíduos de produtos sem marca vão explodir na gestão pública, com custo para o bolso do contribuinte”, alerta o especialista.
Importantíssima na ponta, a educação ambiental tem forte impacto também quando começa no chão de fábrica. Iniciativas ecológicas na linha de produção geram reflexos no restante do processo. O caso da Itautec é exemplar. Luciane Furukawa, especialista da empresa em sustentabilidade, conta que, quando foi lançada a linha de produtos RoHS, não havia, no Brasil, fornecedores de suprimentos nesse padrão: “Passamos a importar suprimentos para a linha RoHS. O que aconteceu? Os fornecedores nacionais migraram para RoHS e voltamos a comprar aqui”.
Outro benefício da educação ambiental urgente – e que vai se tornar mais relevante quanto mais avançar a PNRS – é a formação dos catadores de materiais recicláveis. A grande maioria dos catadores manipula materiais, armazena e até mesmo descarta lixo eletrônico sem conhecimento das necessidades mínimas em termos de segurança pessoal e ambiental. Felipe Andeuza, do Coletivo Lixo Eletrônico, relata: “As placas de computadores têm cádmio. E as pessoas serram no meio, liberando uma poeira tóxica que é inalada”. Formado em Ecologia, com pós-graduação em Educação e Gestão Ambiental, o jovem criador do blog Lixo Eletrônico, dá uma excelente dica aos gestores públicos e aos empresários: “Investir em capacitação desses trabalhadores, oferecer educação, formação técnica nesse ramo seria um ótimo nicho para trabalhar responsabilidade social”. (A.L.)
RoHS
Sigla em inglês para a diretriz europeia chamada Restrição a Certas Substâncias Perigosas, que proíbe que algumas substâncias perigosas sejam usadas em processos de fabricação de produtos.