Sem medo do mouse
ARede nº 78 – março de 2012 Após o Espírito Santo ter sido apontado como o terceiro estado do país em exclusão digital, em 2001, o Instituto de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Espírito Santo (Prodest) e a Secretaria Estadual de Gestão e Recursos Humanos (Seger) criaram o projeto Navegando na Melhor Idade. Em dez anos, foram beneficiadas cerca de quatro mil pessoas, a maioria de baixa renda. “Como já havia alguns programas voltados aos jovens, decidimos trabalhar com os idosos. Um indica para o outro, os familiares incentivam e até um médico neurologista recomenda a eles que participem”, afirma Samira Masruha Bortolini Kill, diretora administrativa e financeira do Prodest.
O projeto é voltado a pessoas a partir de 50 anos, que perdem o medo do mouse. “Quando comecei a frequentar o curso, vi que não era um bicho de sete cabeças. A internet é um mundo sensacional. Tudo o que quero e até o que nem imaginava que existia, encontro. É maravilhoso”, diz o aposentado Manuel Prudêncio, de 78 anos. Ele fez o curso e, mesmo com um computador em casa, frequenta o Navegando na Melhor Idade para conversar com os amigos e ajudar os iniciantes.
Os usuários do projeto recebem noções básicas de funcionamento do microcomputador, desde ligar a máquina e se conectar à internet até enviar e-mails e navegar por sites de interesse e entretenimento. Os alunos também aprendem a utilizar a rede de maneira segura, evitando vírus e transmissão de informações pessoais. Atualmente as aulas são realizadas na sede da Seger, no centro da capital, Vitória. O projeto oferece aos usuários dez computadores; outros oito estão previstos para uma nova sala a ser aberta na cidade. Cada um pode utilizar o equipamento por no máximo 60 minutos, estendidos a partir da disponibilidade, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h.
Cada idoso que aprende a navegar na internet tem uma história de encantamento e descobertas para relatar. A aposentada Maria de Lourdes Neves Saboya de Mello, que tem cem anos de idade, aprendeu a se comunicar com amigos e parentes que moram em outras cidades e no exterior. Ficou sabendo do projeto quando, ao tentar atravessar uma rua do centro de Vitória, foi ajudada por uma funcionária do Prodest que aproveitou para convidá-la a conhecer o telecentro. Alguns dias depois, Dona Lurdinha se inscreveu e passou a ser mais uma aluna. Dedicada e curiosa, é usuária assídua e adora brincar com o jogo da memória. Segundo os monitores, os demais alunos se sentem motivados ao ver seu exemplo e se tornam mais confiantes no uso dos equipamentos. Outra aluna que teve um grande benefício com o projeto foi Maria José Burock, de 71 anos. Descobriu na internet a possibilidade de trocar mensagens com a filha que mora nos Estados Unidos.
Por histórias como essas, a diretora do Prodest considera que iniciativas públicas como o Navegando na Melhor Idade servem não só para a inclusão digital, mas para a promoção da cidadania dos idosos. “Qualquer um que não saiba usar a internet, hoje, acaba se sentindo excluído”, diz Samira.