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Ligação inteligente com a saúde pública

Celulares agilizam a coleta de dados de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e facilitam a prevenção de epidemias
Bárbara Ablas

 

ARede nº 94 – especial novembro 2013

Agentes Comunitários de Saúde que atuam na capital de São Paulo ganharam um celular inteligente, equipado com aplicativo de m-health (saúde móvel). O projeto piloto Mobile Health, implantado em seis Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da região Oeste da cidade, substituiu as tradicionais fichas médicas de papel por prontuários online. As informações – antes anotadas em cadernos e depois digitadas nos computadores – agora são transmitidas em tempo real para um banco de dados. O sistema funciona como um aplicativo para plataforma Android. Conectados à internet pela rede 3G, os dispositivos têm GPS e uma boa capacidade de armazenamento.

O projeto é conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde. A ação começou em 2010, com o projeto Região Oeste da FMUSP, que assumiu a tarefa de reorganizar o atendimento médico prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nessa região. Integram a parceria a empresa Ericsson, o Instituto do Coração (Incor) e o Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc), vinculado à Escola Politécnica da USP.

Atualmente, a iniciativa envolve 196 agentes de seis unidades localizadas nos bairros Jardim Boa Vista, Vila Dalva, Jaguaré, Paulo VI, Jardim D’Abril e Vila São Jorge. Esses profissionais foram capacitados pelo Incor para usar a nova tecnologia na rotina de trabalho. Cerca de 25 mil famílias já cadastradas no SUS estão sendo monitoradas, o que significa que 100% da população da área já vêm sendo atendidos dentro do novo modelo.


“Consigo visualizar o histórico dos pacientes, puxar o número do SUS, fazer a média de quantas pessoas fumam, relacionar quem teve AVC na família e até saber a quantidade de crianças com até um ano de idade”, conta Robson Silva Miranda, agente da UBS Paulo VI. “Também posso atualizar automaticamente dados das famílias que mudaram. Antigamente, eu precisava ir até o computador, apagar as informações antigas e inserir as novas”, completa Miranda.

Cuidado redobrado
O m-health torna ágil compilar dados e melhora a qualidade das informações sobre os usuários do SUS. Os dados vão para o Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab), que concentra os dados do Programa de Saúde da Família, do Ministério da Saúde. Entre os indicadores coletados estão condições de moradia, de saneamento, incidência de doenças como diabetes e hipertensão, número de gestantes e crianças por família. Essas referências são usadas para planejar a demanda da população ou prevenir epidemias – além de subsidiar pesquisas acadêmicas e da área médica. Para o paciente do SUS, são uma garantia de que o atendimento de emergência ou o remédio podem chegar a tempo.

A diretora do Larc, Teresa Cristina Carvalho, responsável pelo desenvolvimento do sistema de segurança para proteção e privacidade dos dados que trafegam pela rede, aponta que os agentes demoravam até 45 dias para incluir os relatórios de visita às famílias nos computadores das UBS. Levando em conta que os dados ainda têm de ser consolidados por gestores locais, o prazo se estendia a até 60 dias. Hoje, os resultados chegam em segundos ao servidor instalado na FMUSP. Com mais tempo, os agentes puderam ir mais longe. “Em dezembro de 2012, era possível visitar 84 mil habitantes por mês. Agora dá para fazer 122 mil visitas”, estima Tereza.

Melhorar a qualidade dos indicadores é também um dos benefícios do m-health. As informações anotadas em cadernos podem ser perdidas ou sofrer alterações. Já o aplicativo carrega uma ficha eletrônica com campos padronizados, explica Marco Gutierrez, diretor de Serviço de Informática do Incor. O agente só precisa preencher. Se a internet cair, o sistema armazena o arquivo e envia automaticamente assim que o sinal é restabelecido. Quando o morador não tem endereço formal, como acontece em favelas, o GPS entra em ação. “O sistema permite o georreferenciamento da ficha e mostra a posição da família”, esclarece Gutierrez. Mais detalhes de segurança: todos os arquivos gerados nos smart-phones são temporários, assim que o programa confirma o envio ao servidor as fichas são automaticamente excluídas. Além disso, os telefones estão bloqueados para fazer ligação.

A expectativa é de que o m-health possa ser aplicado em outras unidades de saúde e inspire outros municípios a investir no projeto. A solução também pode ser integrada ao banco de dados do Ministério da Saúde, ressalta Carla Belitardo, diretora de Marca e Sustentabilidade da Ericsson. “Esse é o perfeito exemplo de que o problema não é conexão de baixa qualidade, o que vemos é que o projeto é totalmente viável. A preocupação maior com a implantação de novas tecnologias é a questão da capacitação. Esse é o grande desafio da tecnologia”, diz Carla.

A tecnologia conhecida como m-health engloba um conjunto de aplicações de atendimento médico a distância. É um mercado que vem crescendo e promete reduzir custos e maximizar a eficácia dos serviços públicos e privados de saúde. Um estudo divulgado em 2012 pela GSMA (associação global de operadoras de telecomunicações) indica que a receita com serviços móveis na área de saúde no Brasil em 2017 vai alcançar o patamar de US$ 720 milhões, colocando o país entre as dez maiores receitas com serviços m-health em termos globais.

Mas esse cenário pode estar em risco, caso os investimentos na área não apareçam e as barreiras de regulação de mercado não sejam resolvidas. Outra pesquisa lançada em 2013 pela GSMA, em conjunto com a consultoria PricewaterhouseCoopers, alerta que o Brasil pode perder a chance de poupar US$ 14,1 bilhões no SUS e de adicionar US$ 8,4 bilhões ao PIB. 

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