Setor Público – Capacitação e Formação | Redes de Praças e Naves do Conhecimento | Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

A tecnologia tem de ir onde o povo está

Praças e naves do conhecimento levam inclusão digital e cultura a comunidades de baixa renda
Rafael Bravo Bucco

ARede nº 94 – especial novembro 2013

Robson Lima, de 28 anos, tem o ensino médio completo. Até pouco tempo atrás, fazia dupla jornada de trabalho, atuando como segurança. Até que resolveu se matricular no curso IT Essentials, de manutenção de computadores. Durante seis meses, frequentou as aulas gratuitas, ministradas na Praça do Conhecimento de Padre Miguel. Aprendeu como funciona um computador, quais as peças que o compõem, os problemas mais comuns e os mecanismos de reparos. “Depois saí do emprego em que trabalhava de dia como segurança e consegui vaga em uma loja de informática”, conta. As aulas também o ajudaram a passar no concurso para a Guarda Municipal. “Fiz a prova depois do curso, que me ajudou. Informática era uma das matérias que podia eliminar o candidato”, lembra. Enquanto aguarda o resultado do psicotécnico, planeja montar a própria loja. “Indiquei e meu irmão, de 14 anos, também começou a fazer o curso. Como guarda, posso trabalhar na loja nas folgas; nos outros dias, meu irmão cuida”, sonha.

A transformação da vida de Lima tem tudo a ver com o Rio Digital 15 Minutos, projeto da administração municipal do Rio de Janeiro para  construção de espaços comunitários digitais. Esses espaços, hoje, são duas Praças do Conhecimento e cinco Naves, localizadas em áreas de baixa renda da Zona Norte e da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. A população tem internet gratuita com velocidade de 60 Mbps por unidade e acesso a uma série de recursos culturais digitais. O grande desafio do projeto é integrar a participação cidadã com as redes de informação e de conhecimento. Para isso, a prefeitura carioca estabeleceu prioridades.

A primeira é integrar acesso a conteúdo. Por isso, segundo Franklin Dias Coelho, secretário municipal de Ciência e Tecnologia, os espaços, interativos, oferecem conteúdos de forma lúdica. A segunda prioridade é popularizar a ciência, por meio dos aplicativos e das interações. A terceira é disseminar a economia criativa. Cada nave tem cavernas do conhecimento (locais onde crianças podem usar aplicativos educativos em iPads), mesa da comunidade (onde é possível ver um mapa da região e incluir demandas), e uma parede do conhecimento (uma tela interativa, de 4m², em que é possível acessar acervos digitais). São recursos interativos, que os usuários manipulam livremente. Os computadores são equipados com softwares – na maioria, livres – de edição de textos, planilhas, áudio, vídeo, mensageiros instantâneos e reprodutores de mídia.

Os jovens são os principais beneficiados, mas qualquer pessoa pode visitar os espaços, usar a internet à vontade, participar de cursos e oficinas. “Além de estudantes e professores, temos entre os cadastrados até pessoas com mais de 80 anos”, diz Coelho. O projeto já funciona nas comunidades de Padre Miguel, Vila Aliança, Penha, Irajá, Santa Cruz, Madureira e Alemão. Entre junho de 2012 e setembro de 2013 foram cadastrados 73.500 usuários, mais de 50% com menos de 18 anos. Circularam pelas unidades 700 mil pessoas – o conjunto das comunidades representa uma população de quase 820 mil pessoas.

Tudo é gerenciado, por meio de um banco de dados batizado de nuvem do conhecimento, onde estão informações sobre o que a população acha da qualidade do atendimento, do espaço, dos equipamentos e do ambiente. “A porcentagem dos usuários que retornam às unidades do projeto em um prazo de 30 dias é bastante alta: 92%”, conta o secretário. Durante o primeiro ano do projeto, 5.581 pessoas se formaram nos cursos e oficinas. São 12 oferecidos atualmente, com previsão de ampliação para 25 até as Olimpíadas.

As naves e praças foram financiadas por recursos municipais. A Secretaria de Obras despendeu R$ 3,5 milhões por espaço. O desenho da rede elétrica e lógica, o desenho do mobiliário, as interfaces de multimídia e toda a manutenção tecnológica são responsabilidade da Secretaria de Ciência e Tecnologia, que investe mais R$ 1,5 milhão por unidade. Até 2016, a prefeitura pretende investir mais R$ 200 milhões, construindo novas 40 naves. A coordenação do Projeto é da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia. Os parceiros são: Associação Comercial do Rio de Janeiro, Centro Cultural Banco do Brasil, CCR, Imaginário Digital, Cisco, Instituto Cultural Cravo Albin, Ecomuseu de Santa Cruz, Jornal Extra, Globo Cidadania, Intel, Instituto Embratel, Educação e Realidade Virtual P3D, Sequoia Foundation, Projeto Portinari, UFRJ, PUC, UFF e Pastoral do Menor. Um grupo de trabalho com integrantes das secretarias de Educação, Saúde, Cultura, Administração, Habitação, Obras e Casa Civil participa da gestão. As organizações sociais Idaco e Cecip também acompanham a administração.

Há cursos e oficinas de alfabetização digital, tecnologia e comunidade, tecnologia e trabalho, e tecnologia e empreendedorismo – módulos do programa Intel Aprender, em parceria com a Cisco. Além disso, também há aulas de inglês voltadas para turismo e com o foco na linguagem oral, de audiovisual, computação gráfica, fotografia, web design e oficinas em que os jovens criam blogs e escrevem notícias da sua comunidade. Uma das oportunidades de lazer proporcionadas pelo projeto são as sessões de cinema ao ar livre, que acontecem ao anoitecer de sextas e sábados. Nesse período de um ano, foram 289 exibições para um público de mais de 19 mil espectadores. Alguns dos filmes exibidos são escolhidos por votação nas próprias comunidades. 

www.pracadoconhecimento.org.br