Um estado inteiro conectado
O Acre oferece internet sem fio gratuita para a população, que também pode acessar a rede pelos telecentros
Patrícia Benvenuti
ARede nº 94 – especial novembro 2013
O Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), do governo federal, só agora começa a chegar ao Acre. Porém, 18 dos 22 municípios do estado já dispõem de internet sem fio gratuita, com 62 mil usuários cadastrados. Esse notável percentual de conexão por meio de uma política pública é resultado do programa Floresta Digital, criado em 2010, com a proposta de democratizar o acesso dos acreanos às tecnologias da informação e da comunicação. Uma parceria recente entre o governo do Acre e a Eletronorte deverá melhorar ainda mais o programa. Com a utilização da rede de fibra óptica da empresa, aumenta a qualidade do sinal e expande o alcance da iniciativa. Inicialmente, serão atendidas por fibra as cidades de Rio Branco, Bujari e Senador Guiomar. Em seguida, o serviço chegará, via rádio, para mais seis municípios.
O foco principal do Floresta Digital é o cidadão de baixa renda, para quem mais pesa o pagamento de um plano de internet privado. “Trinta, 40 ou 50 reais, para uma família que ganha até dois salários mínimos, faz diferença”, ressalta o coordenador de TICs do governo estadual e do Floresta Digital, Carlos Rebello. No município de Sena Madureira, por exemplo, as operadoras privadas não atendem todo o território. Os preços da internet chegam a mais de R$ 100. Por isso o Floresta Digital se tornou a opção para muitos moradores, como o pastor Joel Carlos da Silva, de 52 anos. Inscrito no programa há menos de um mês, ele conta que todos usam computador em sua casa. “Tenho muito trabalho da igreja para fazer, minha esposa faz faculdade, meu filho está na escola”, relata Silva. Ele observa que o serviço teve grande adesão pela cidade: “Você vê anteninhas para todo lado”.
O link utilizado no programa é contratado da Oi e chega aos municípios por rádio. Durante o dia, atende tanto os órgãos de governo quanto os cidadãos. À noite, a conexão é integralmente para os cidadãos. Diariamente há entre 6,5 mil e 7 mil conectados. A velocidade atual é de 400 Kbps, mas poderá chegar a 1 Mbps graças à fibra óptica e à recente compra de um link de 1 Gbps da empresa Level3. Uma rede de roteadores, que está sendo implantada em todo o estado, também deve contribuir para melhorar a conexão.
Para acessar a internet de casa, o cidadão precisa se cadastrar no programa e comprar uma antena. Foi o que fez o professor Jonata Oliveira Sanches, de 30 anos, morador de Capixaba. Sem condições de arcar com os custos de um plano pago, ele desfruta do serviço público. Sanches dá aulas de espanhol em uma escola do município. Com a internet, consegue preparar conteúdos diferentes para os alunos. “Baixo filmes, músicas. É uma forma de incrementar as aulas”, diz o professor, que também navega em sites de editais de concursos para conferir as oportunidades na sua área.
Quem tem aparelho com tecnologia WiFi pode se cadastrar para pegar o sinal de um dos sete hotspots do estado, situados em regiões turísticas ou de grande circulação de pessoas. Outra opção para acesso são os telecentros, 31 unidades distribuídas entre os 22 municípios. Um desses espaços fica na Biblioteca de Epitaciolândia. Em funcionamento há seis anos, tornou-se referência para os estudantes, que pesquisam conteúdos na rede. A monitora Claudilene Gonçalves do Rosário, de 23 anos, diz que o telecentro tem feito a diferença para a educação dos jovens, especialmente os de baixa renda: “Muitos alunos não têm como ir a uma lan house, nem têm computador com internet em casa”, explica.
As duas salas do telecentro de Epitaciolândia, juntas, recebem de 30 a 50 usuários durante o dia. Além de estudantes do ensino básico, o telecentro atrai muitos universitários. Aluno do 4º ano de Medicina na Universidade Técnica Privada Cosmos, na Bolívia, Lucas Lima dos Santos, de 22 anos, prefere o ambiente silencioso da biblioteca para estudar. O acesso à internet, segundo ele, torna o lugar ainda mais atrativo: “Aqui ainda não tem muitos livros aprofundados na minha área, então uso o computador para fazer pesquisas”.
Além de acesso livre, os telecentros promovem cursos e oficinas de informática gratuitos baseados em software livre. As oportunidades de aprendizado por meio do Floresta Digital, no entanto, vão além das capacitações oferecidas nas unidades físicas. Em 2012, o site do programa passou a oferecer ensino a distância. O professor de Administração e Tecnologia da Informação Ênio Edson Garcia, de 58 anos, vive em Sapucaia do Sul (RS) e descobriu a oportunidade ao fazer uma busca na rede. Optou por um curso de Introdução ao Moodle e gostou dos resultados. “Há uma interação muito boa entre aluno, professor e colegas de turma, fundamentais nesse tipo de ensino virtual”, destaca Garcia, que já espera pela abertura de novos módulos.
O Floresta Digital pretende chegar aos municípios isolados, uma das principais metas do programa e que ainda não foi atingida. O primeiro avanço nesse sentido aconteceu na cidade de Jordão, situada na confluência entre os rios Jordão e Tarauacá. Para chegar à cidade, só de barco ou avião. Um projeto piloto começou a funcionar no município no ano passado, durante quatro meses, com sinal via satélite. A preparação para implementar o serviço em definitivo vem sendo feita.
www.florestadigital.acre.gov.br