Setor Público | Sustentabilidade e Gestão | Telecentros.BR

A articulação de uma grande rede

Não é fácil colocar sob a mesma batuta um conjunto de iniciativas com origens e objetivos diversos. Mas é essa a principal tarefa e o maior mérito do programa federal Telecentros.BR
Anamárcia Vainsencher

ARede nº75, novembro de 2011 – Coordenação, integração, capacitação. Eis o tripé, em construção desde 2010, que sustenta o  Telecentros.BR – Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades, que tem a gestão do Ministério das Comunicações (Minicom). O projeto, na verdade, é o resultado de discussões travadas há longa data, explica Cristina Kiomi Mori, a Kiki, responsável pelo programa e diretora do departamento de articulação e formação da Rede Nacional de Formação para Inclusão Digital. Essa rede inclui um conjunto de atividades de qualificação de agentes de inclusão digital, integrando as ações conjuntas de órgãos federais, estados, municípios e sociedade civil.

“O Telecentros.BR coletou as demandas de quem apoiava a formação de telecentros desde 2001”, avalia Kiki. Tais demandas, conta, pediam maior coordenação das iniciativas na área. Tratava-se, em resumo, de recolher as questões comuns levantadas pelos envolvidos porque só a infraestrutura não bastava. Nas discussões, os problemas que surgiam eram os mesmos: coordenação, integração, apoios, continuidade do fluxo de recursos. De mais a mais, diz Kiki, era indispensável dar ênfase nas pessoas que iriam se apropriar dos espaços criados, “não a gente que caía de paraquedas”.

O Telecentros.BR consolidou o que havia de melhor no Minicom, como a conexão à internet proporcionada pelo programa Governo Eletrônico – Sistema de Atendimento ao Cidadão (Gesac), e os kits constituídos por produtos novos. Do Ministério do Planejamento, os kits formados por equipamentos recondicionados; do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, via CNPq, as bolsas para os monitores. “Em suma, foram coordenados os esforços de doação de máquinas, conexão, bolsas, formação em escala nacional, além da gestão com bons parceiros nacionais, como Banco do Brasil, Fundação do Banco do Brasil, Serpro, governos estaduais, prefeituras, organizações da sociedade civil, entre outros”, acrescenta Kiki.

A formação de monitores do Telecentros.BR é o primeiro projeto da Rede. A meta é formar dez mil monitores de telecentros apoiados pelo programa. Este número mudou, com o tempo, chegou a 18 mil, depois a 16 mil, e voltou ao plano incial, dez mil. Desses, serão oito mil bolsistas e dois mil monitores não bolsistas. A implementação do curso é responsabilidade de cinco polos regionais (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), dois estaduais (Ceará e São Paulo) e do polo nacional, ao qual compete a coordenação pedagógica e a supervisão geral das atividades. A falta de coordenação na entrega de equipamentos e mobiliário e a falta de conexão para os telecentros dificultou a incorporação dos monitores à rede de formação. Então, o programa decidiu abrir a capacitação, formada por modulos presenciais e à distância, a monitores de telecentros de outras iniciativas de inclusão digital.

O Telecentros.BR apoia a implantação e o funcionamento de espaços públicos e comunitários para uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) em todo o país. Os telecentros devem promover acesso público e gratuito às TICs, com computadores conectados à internet, disponíveis para múltiplos usos como navegação na web, oficinas e outras atividades de promoção do desenvolvimento local. Os espaços são mantidos por entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos. Quanto à  integração das iniciativas dos agentes envolvidos, visa permitir a implantação e manutenção, em larga escala, de telecentros. Além do uso de computadores e da internet, o Telecentros.BR pretende que cada espaço seja um ponto de encontro da comunidade e ofereça atividades que aliem as tecnologias a cidadania, cultura, comunicação, educação, qualificação profissional, lazer, acesso a direitos, interatividade e participação.

Cada espaço pode receber equipamentos de informática novos ou recondicionados, serviço de conexão à internet, bolsas e formação para jovens da comunidade atuarem como monitores. Esses monitores devem promover a utilização plena dos telecentros, e sua apropriação pela comunidade local. No primeiro processo seletivo do programa, no início de 2010, foram recebidas inscrições de 1.071 proponentes, dispostos a apoiar mais de 15 mil telecentros em todo o país. Em julho de 2011, após os processos de seleção, a formalização de parcerias, o início de implantação e confirmação de dados de telecentros, o programa contava com 56 iniciativas parceiras e 8,4 mil telecentros aprovados para apoio, dos quais 1.254 já atendidos. Em agosto, segundo Kiki, havia 1.294 telecentros em funcionamento; 800 equipados, à espera de conexão; 1,2 mil bolsistas; cerca de dois mil kits entregues (mas não necessariamente montados).

A criação, em 2011, da Secretaria de Inclusão Digital, no Minicom, acabou por coroar o processo de construção de  maior coordenação para a política pública de inclusão do governo federal. Com a secretaria, serão otimizados esforços, racionalizada a aplicação de recursos, e perseguido o objetivo de implementar um desenho de gestão compatível com a atual realidade do país. “A constituição da secretaria foi um avanço no apoio à política de telecentros”, resume Kiki.

Os ganhos são inúmeros, aponta. Por exemplo, por mais barato que seja um computador, a população não se sente confortável em comprar o equipamento. Já a existência de um telecentro alia a convivência comunitária à possibilidade de desenvolvimento local, que é a intenção do projeto, aponta Kiki. Do lado dos bolsistas, a eles são proporcionados “voos rasantes por zonas temáticas que vão além do simples acesso a um e-mail, ou fazer pesquisas escolares”. O acesso à internet amplia os horizontes dos bolsistas, e permite seu contato com monitores de todo o país. Isso tem resultado em iniciativas locais de monitores, como a montagem de cineclubes, o resgate da história das comunidades, a produção de informações (blogs comunitários).

Na rede, aponta Kiki, via YouTube, os meninos veem que a conversa vai além de assuntos relacionados às suas próprias regiões. Resultado: no Acre, jovens em processos socioeducativos passaram a fazer metarreciclagem. Na Casa Brasil de Santarém (PA), armário, churrasqueira e copo livre foram feitos de CPUs. Isso é nada mais, nada menos, do que a disseminação de experiências de cotidianos sociais, em larga escala. No Sul, comunidades da periferia urbana e áreas rurais partiram para a robótica livre.

“Uma rede que era ‘invisível’ torna-se visível. E, anote-se, não há, ainda, monitor com um ano de formado, mas o poder de disseminação da rede é inquestionável”, destaca a diretora do departamento de articulação e formação da Rede Nacional de Formação para Inclusão Digital. Mas isso pode ser só um começo, visto que o próximo passo do Telecentros.BR é trazer os cerca de 4,5 mil telecentros que ainda estão fora do programa. Além de abrir a possibilidade de formação também para monitores não bolsistas, sejam eles voluntários ou funcionários de prefeituras locais, de modo a aproveitar a capacidade instalada do próprio telecentro. Um trabalho hercúleo, cujo dia a dia não é fácil, admite Kiki Mori. Ela vê nos telecentros o recheio de outras políticas sociais do governo, porque os espaços dialogam com as comunidades onde estão instalados.

www.telecentros.br.com

{jcomments on}