19/10/2011
Do blog do Flamínio Araripe
Uma solução que possibilita escanear livros comuns e traduzi-los para a linguagem braile pretende ampliar o horizonte de leitura dos deficientes visuais, inclusive de textos na internet. O Projeto Portátil, desenvolvido pela empresa AED Tecnologia, incubada no Instituto Federal de Educação (IFCE), foi apresentado ao ministro da Educação, Fernando Haddad, pelo reitor Cláudio Ricardo Gomes de Lima, e recebeu apoio do MEC para desenvolvimento. Em novembro, o protótipo estará pronto para entrar em fase de produção.
A projeto visa dar acessibilidade ao deficiente visual para ler livros que não estão em braile, explica Valberto Enoque Rodrigues da Silva Filho, do curso de tecnologia em mecatrônica industrial, que trabalha no software de desenvolvimento de imagem. A câmara do tablet fotografa a folha do livro, que é escaneada em OCR e transformada em texto editável. O tablet, que possui a interface feita no Android, permite comunicar via bluetooth para mostrar numa célula braile com formato de mouse o que está sendo lido no texto.
O objetivo do projeto é a inclusão de deficientes visuais na educação, observa Victor Bruno Rodrigues Parente, do curso de engenharia de computação, que trabalha no desenvolvimento e aplicação de software. Segundo ele, o tablet poderia ser um diferencial, uma vez que é bastante custosa a produção de livros em braile. Um livro em braile, além do tamanho grande, precisa de mais de um volume para nele caber o original da edição comum. O tablet pode armazenar muitos livros em braile.
Victor Bruno é responsável pela transformação em mouse do que hoje é uma caixa com células em braile do protótipo e pelo desenvolvimento do aplicativo em GPS. Além de servir para leitura, a solução integrada no tablet, dotada de GPS, oferece ao deficiente o recurso de localizar onde está, salvar localizações presentes onde quer voltar. Serve também para saber localizações próximas e para determinar distâncias.
O diretor executivo da AED Tecnologia, Heyde Leão de Souza, técnico em estradas e graduando em desenvolvimento de sistemas do IFCE, idealizador do projeto, informa que o Portátil tem 15 meses de investimento e pesquisa. A primeira etapa do projeto foi conhecer as tecnologias existentes, que se mostraram com preços elevados e o universo dos usuários em 12 Centros de Apoio Psicosocial (CAPS).
Uma surpresa da pesquisa foi saber que o processo de leitura do deficiente visual se dá pelo dedo indicador. Os demais dedos da mão são usados para navegação em linha, observou o empreendedor, que incorporou o dado na concepção do projeto. “Desenvolvemos em conjunto um navegador braile com forma de mouse com três células braile. Para determinados caracteres, é preciso mais de uma célula braile para poder gerar o caractere. O deficiente visual vai poder fazer a fluência de leitura de acordo com a sua velocidade”, explica.
No desenvolvimento da solução, Heyde Leão experimentou o formato de uma caneta e depois o smartphone até migrar para o modelo do tablet, que, segundo ele, agrega valor com mais recursos. “Concebemos e desenvolvemos software de reconhecimento de imagem e um conjunto de sistemas de GPS onde o deficiente visual vai poder marcar lugares para saber onde ele está. Se ele gosta de um lugar específico e quer voltar, usa um botão do equipamento para marcar”, afirma o empreendedor.
O mercado potencial para a tecnologia é visto principalmente no setor público, avalia Heyde Leão, que já trabalhava com o tablet quando o ministro Fernando Haddad anunciou a intenção de adquirir tablets para as escolas. Para embutir o Portátil em grande quantidade, algo em torno de 40 mil unidades, o empreendedor calcula que pode ter redução o preço unitário estimado na faixa de R$ 3,5 mil a R$ 4 mil.
O sistema da AED Tecnologia possibilita a escrita, outra função adicional. Para Heyde Leão, o preço estabelecido é competitivo, pois uma máquina de braile, que tem mais de 60 anos no mercado, custa entre R$ 6 mil a R$ 7 mil. O diretor da empresa avalia que o preço é vantajoso em comparação com outra tecnologia assistiva que chegou a ser noticiada, mas com o preço no patamar de R$ 20 mil a R$ 30 mil cada.
Exemplo de inovação
Cláudio Ricardo Gomes de Lima destaca o Projeto Portátil como um dos exemplos de inovação e empreendedorismo entre as 10 empresas incubadas do IFCE. A tecnologia hoje atingiu um nível maior de aperfeiçoamento do que quando foi mostrada pelo reitor ao ministro da Educação, Fernando Haddad, ainda na primeira versão em caneta com leitor ótico, recorda. Para o reitor, o projeto visa dar às pessoas deficientes visuais uma ferramenta para se adaptar ao mundo da informática e da tecnologia da informação.
“O ministro imediatamente se encantou com a tecnologia”, disse Cláudio Ricardo, ao informar que o MEC está financiando a pesquisa. O reitor assinala que a solução consegue transformar imagens em texto na linguagem braile em tempo real para uma pessoa cega visualizar em braile ou ouvir a voz. “Agora, com o uso desta tecnologia, os deficientes visuais vão poder ter acesso a redes sociais e navegar na Internet”. Ele informa ainda que uma capa de silicone sobre o tablet vai permitir que as pessoas escrevam no tablet.
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