Movimentos
de inclusão digital acreditam nas associações regionais como
instrumentos para conseguir melhoria nos telecentros e nas Estações
Digitais da Fundação Banco do Brasil. Entre os objetivos, está a luta
pelos recursos do Fust. Heitor Augusto
Telecentros
de várias regiões brasileiras perceberam que articular-se em rede é
fundamental para seu fortalecimento. Seja em relação à saúde financeira
ou ao suporte técnico, telecentros, Estações Digitais da Fundação Banco
do Brasil (FBB), movimentos sociais, culturais e entidades ligadas à
Igreja Católica estão discutindo a criação de associações locais, como
forma de ganhar organicidade e visibilidade.
Uma das
demandas mais espinhosas é a luta pela sobrevivência. “Organizados em
forma de associação, como pretendemos agir daqui para frente,
pretendemos engrossar a voz, para sermos ouvidos e atendidos”,
argumenta Amaudson Ximenes, presidente da Associação Cultural Cearense
de Rock, que implantou o ABC Digital (saiba mais). Um dos
objetivos das associações é brigar pelos recursos do Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), cerca de R$ 5
bilhões, que estão contigenciados, pois não há consenso dentro do
governo sobre quais áreas seriam beneficiadas.
O momento é crucial
para algumas Estações Digitais, cujo auxílio da FBB se encerra no final
do ano. A FBB custeia a implantação dos telecentros e, por seis meses,
fornece uma bolsa de R$ 1.050, além de bancar a conexão à internet.
Quando o financiamento da FBB termina, a comunidade precisa ter
soluções que mantenham o telecentro em funcionamento.
Uma
alternativa de sustentabilidade seria criar um Centro de Recuperação de
Computadores (CRC), a partir do qual se estabeleçam parcerias com
empresas de tecnologia dispostas a doar computadores, em boa parte
obsoletos. Os próprios telecentros se encarregariam de reciclá-los. “A
associação levantaria a bandeira da metarreciclagem e procuraria
parcerias para montar esses centros”, explica Fabiana Izaias,
coordenadora regional, no Ceará, do Programa de Inclusão Digital do
Banco do Brasil.
Tudo começou…
Durante o I
Encontro das Estações Digitais, realizado em Brasília no mês de maio
(veja ARede, edição 12), algumas localidades já discutiram a
necessidade de redes regionais de telecentros. A partir desse evento,
que reuniu 200 educadores do programa da FBB e dos telecentros do BB,
cada região se propôs a organizar mini-encontros.
No Ceará, em
agosto, aconteceu um encontro dos telecentros e das Estações Digitais
do estado. As discussões já estão avançadas e, segundo a coordenadora
do programa do BB, espera-se estabelecer a estrutura da associação até
dezembro.
Apesar do ritmo acelerado, alguns pontos ainda
precisam ser definidos. A começar pelo estatuto: quais seriam,
juridicamente, as atribuições das associações? Passariam a administrar
os telecentros e as Estações? Como obteriam recursos? Essas questões
serão respondidas de acordo com as necessidades de cada região, explica
Marcos Fadanelli, diretor de educação da FBB: “Queremos que o movimento
ocorra naturalmente e que se construam soluções de acordo com a
necessidade local. Cada região tem de encontrar o que lhe é adequado”.
A
proposta, no Ceará, é chegar a decisões da maneira mais democrática
possível. Caminha-se para a construção de uma entidade que não seja
hierarquizada (presidência, vice, etc.), mas organizada em comissões
(finanças, metarreciclagem, parcerias, etc.), de modo a diminuir a
centralização e evitar a sobrecarga de funções — o estado é dividido em
seis regiões, cada uma com até dois representantes.
“Estamos
pensando no formato de representatividade”, afirma Fabiana. Ela explica
que as características de cada telecentro são muito diversas e que a
independência precisa ser mantida. No Nordeste, a articulação é um
projeto piloto que pretende reunir os 78 telecentros e 12 Estações
Digitais. Possivelmente, será cobrada uma taxa de R$ 10,00 para
despesas gerais e transporte dos associados de regiões mais carentes.
Encontros pelo país
Em
outras localidades, como Minas Gerais, as discussões andam mais lentas.
Após o encontro de maio em Brasília, os telecentros e as Estações se
reuniram, no final de agosto, para pensar na melhor forma de construir
soluções conjuntas. Estiveram presentes, nos dois dias de evento, 62
pessoas de 17 telecentros e 17 Estações Digitais.
“Discutimos
como melhorar a comunicação entre educadores. Trocando informações, é
possível queimar etapas”, relata Flávia Stella, da Estação Digital da
cidade de João Pinheiro. Nesse município mineiro, além da
sustentabilidade — dificuldade enfrentada pela maioria dos telecentros
—, há outras necessidades urgentes: apoio técnico (muitos computadores
são obsoletos), capacitação em softwares e soluções em gestão, entre outras.
Na
região do Vale do Urucuia, as demandas elencadas foram: aprimorar o
atendimento dos telecentros e firmar parcerias. Uma associação, além de
articular essas necessidades, favorece as soluções coletivas que,
simultaneamente, respeitem as especificidades locais. “Lá, eles
descobriram, por exemplo, que há uma antena Gesac parada no fundo de
uma escola”, revela Flávia. Outro mini-encontro regional aconteceu em
Recife (PE), onde a situação é semelhante à de João Pinheiro.
Há
uma tentativa de diálogo entre Ceará-Piauí, mas a distância tem sido um
obstáculo. “Estamos sem recursos para locomoção”, lamenta a
coordenadora regional do Programa de Inclusão Digital do BB. Em
novembro, o Movimento pela Paz na Periferia (MP3) vai a Fortaleza, em
uma tentativa de avançar nas discussões. “Esse tipo de organização
tornou-se necessidade nos dias de hoje. Temos uma demanda muito grande
em políticas públicas”, analisa Amaudson, do ABC Digital.
“Coletivamente, é mais fácil conseguir parceria para sustentabilidade
das Estações e dos telecentros”, completa a coordenadora.