Até o final de 2006, quando a
Fundação Bradesco completa 50 anos, serão 50 Centros de Inclusão
Digital no Brasil. Eles ficam próximos às escolas da fundação e têm o
propósito de aumentar a capacidade de atendimento aos moradores. Patrícia Cornils
A Fundação Bradesco está ampliando sua rede de Centros de Inclusão
Digital (CIDs), espaços de acesso à internet que funcionam nos bairros
onde a entidade tem escolas. Hoje, há 31 em atividade. Até o final do
ano, serão 40 e, ao fim de 2006, quando a fundação completa 50 anos,
serão 50. Os CIDs são espaços para acesso à internet e para cursos de
informática básica, criados em parceria com entidades locais,
principalmente igrejas. Têm dez computadores, conexão em banda larga,
suporte, instrutor de informática e monitores voluntários cedidos pela
fundação, pelo prazo de dois anos. Com 107,8 mil alunos em suas
escolas, a fundação é mantida pelo Bradesco e com recursos próprios,
com um investimento previsto de R$ 157,6 milhões em 2005. Em 2004,
decidiu investir nos CIDs para ampliar a capacidade de atender às
comunidades do entorno das escolas, onde vivem pessoas de baixa renda.
Até setembro, 16 mil atendimentos – ou cursos – haviam sido realizados
pela rede atual.
Vila Conceição, em Osasco.
Nos bairros onde a fundação atua, de comunidades de baixa renda, a
demanda por educação sempre é maior do que a capacidade das escolas. Na
unidade da Vila Conceição, em Osasco (SP), inaugurada há cerca de um
ano, há vagas para 1,2 mil alunos. A lista de candidatos, no entanto,
foi de 17 mil, de acordo com Fabiana Rodrigues Valente, coordenadora
dos CIDs. Em toda a rede de escolas da Fundação Bradesco, haveria
demanda para 190 mil alunos, explica Nivaldo Marcusso, diretor de
tecnologia da fundação. Ou seja, 88 mil a mais do que os que assistem
as aulas hoje.
Os centros de inclusão digital se consolidam por meio dos cursos de
introdução à informática, com foco no pacote Microsoft Office. No
segundo momento, explica Fabiana, a expectativa é que cresça a
articulação com a comunidade e os projetos que usam os CIDs se
multipliquem.
Água limpa
Com o tempo, os locais devem se tornar espaços para a dicussão de
problemas sociais. “Queremos criar uma grande rede social com o uso da
tecnologia da informação e, assim, contribuir para melhorar a qualidade
de vida do entorno das escolas”, afirma Marcusso. Ele cita o CID de
Canuanã, no Tocantins, onde a comunidade desenvolveu sensores para
monitorar a água e reduzir os problemas de saúde causados pelo consumo
de água não-potável. E está projetando filtros de água a serem
produzidos a partir de 2006.
Há 31 CIDs abertos, e sua
principal atividade são cursos
de informática básica.
Os CIDs são abertos em parceria com empresas. A Microsoft, por meio do
programa Unlimited Potential (UP), patrocinou 25 das 40 unidades a
serem inauguradas até o final do ano. A Intel patrocinou um CID/Club
House (centro multimídia para uso gratuito de jovens, em parcerias com
entidades sociais) na Vila Conceição, em Osasco (SP), e um CID no
bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, além de implantar o curso Intel
Aprender (saiba mais) em todas as unidades. A Cisco cedeu antenas
para cinco centros, e a Comsat, para dois. As conexões são em banda
larga e algumas são feitas, por meio de Wi-Fi, como extensão da escola
da fundação mais próxima.
A entidade conveniada decide como será o funcionamento do CID –
horários, por exemplo – e se responsabiliza pela segurança dos
equipamentos. Uma unidade de Campinas (SP) foi fechada devido ao roubo
de todas as suas máquinas, e o convênio, cancelado. A integração dos
alunos da fundação, que trabalham como voluntários nos CIDs, é outro
ponto considerado fundamental por Marcusso. “Assim, eles devolvem à
comunidade um pouco do que recebem na escola”, explica.
Na Vila Conceição, o projeto Cidade Escola Aprendiz foi contratado para
dar suporte pedagógico ao CID/Club House. Ali, ao contrário dos demais
CIDs, não há cursos básicos. A proposta de ensino é elaborada a partir
das necessidades que os jovens expressam. Houve, por exemplo, curso de
grafite e sessões de cinema – essas, para trabalhar com a noções de
texturas e cores e ampliar o repertório visual dos participantes. Em
setembro, a coordenação de Vila Conceição prepava a primeira turma do
Intel Aprender. A proposta deste CID é capacitar dois monitores em três
escolas públicas da região, para que eles se responsabilizem pelos
laboratórios de informática dessas escolas.
No bairro da Lapa, em São Paulo, o CID fica no prédio da subprefeitura,
com ênfase na profissionalização, para o mercado de trabalho. Por isso,
há cursos de certificação da Cisco. No Club House, também começa a
haver um movimento mais voltado
Monitores dos CIDs são
voluntários e alunos da
Fundação. para empregar os jovens. “Vamos
procurar atividades em que eles possam estar mais perto do mercado”,
diz Giovani Schiavini, assistente de coordenação. Podem ser atividades
relacionadas a publicidade, por exemplo, porque muitos jovens se
interessam por desenho e grafite. Paradoxalmente, de acordo com
Schiavini, um dos motivos pelos quais jovens do Club House abandonam as
atividades é a necessidade de trabalhar – e nem sempre eles conseguem
um emprego onde possam usar os conhecimentos adquiridos.
No terceiro ano dos convênios com a Fundação Bradesco, os CIDs devem se
preparar para trabalhar de forma auto-suficiente. Para isso, precisam
mobilizar recursos de suas comunidades. “Mesmo a assistência técnica,
que no primeiro ano é feita pela fundação, deve ser realizada por meio
de parcerias na região, a partir do segundo ano”, conta Marcusso. No
CID de Itajubá (MG), a Mahle e a AFL do Brasil, fabricantes de
autopeças, realizam contribuições esporádicas. A primeira, por meio de
um funcionário que é ex-aluno da fundação e voluntário no CID, doa
suprimentos. A segunda contribuiu com US$ 3 mil para atividades de
voluntariado e a manutenção. E a Supporte Informática dá apoio técnico,
cedendo funcionário e ferramentas.