A Fundação Banco do Brasil colhe os resultados do programa de
treinamento dos monitores das primeiras 72 estações digitais que
implantou em várias comunidades. E, até o fim do ano, mais cem
localidades devem receber suas estações.
Fátima Xavier
Criadas em julho de 2004, as primeiras 72 estações digitais do Programa
de Inclusão Digital da Fundação Banco do Brasil (FBB) já mostram que o
rigor do processo de capacitação dos seus monitores, chamados
educadores sociais, dá resultado: estimulada, a criatividade deles não
tem limite e vem garantindo a manutenção dessas estações. Um incentivo
a mais para que a Fundação coloque em prática seu plano de expandir o
programa: até o fim deste ano, mais cem comunidades – literalmente, do
Oiapoque, no Amapá, em parceria com a Fundação Nacional do Índio
(Funai), ao Chuí, no Rio Grande do Sul, em parceria com a prefeitura
local – vão receber suas estações digitais. E, pelo menos 300 novos
educadores serão capacitados, até dezembro.
Estação Digital em Pintadas
(BA), parceria com a ONG
Cemina.
Os educadores sociais são treinados para elaborar projetos de
sustentabilidade, executá-los e até cobrar valores simbólicos de quem
tem condições de pagar pelo acesso à estação. O objetivo é garantir
recursos mínimos para manter o espaço aberto ao público depois dos
primeiros sete meses, período em que a Fundação banca as estações
digitais. Mas cabe aos educadores, principalmente, orientar os usuários
a tirar o maior proveito das ferramentas disponíveis para melhorar as
condições econômicas, sociais, culturais e políticas da comunidade. E
tudo é feito sob o olhar vigilante de um “fiscal” poderoso: o gerente
da agência do Banco do Brasil na cidade.
As estações digitais são espaços públicos dotados de equipamentos onde
qualquer pessoa pode desenvolver suas potencialidades econômicas ou
culturais com o uso da informática e acesso à internet. Para a
implantação das primeiras 72 unidades, foram investidos R$ 3,6 milhões,
com a participação de 10,8 mil pessoas em cursos profissionalizantes.
Para 2005, a Fundação reservou R$ 8,4 milhões, para a implantação,
capacitação e acompanhamento das novas estações. Cada uma custa, para a
FBB, R$ 55 mil, incluindo o curso de capacitação para três educadores
por unidade, com passagens, hospedagem e alimentação em Brasília.
Cada estação tem, em geral, dez computadores, uma impressora, um
servidor, mobiliário, internet banda larga via rádio, satélites
privados ou de um grande parceiro da Fundação, o Sistema de Proteção da
Amazônia (Sipam). Apenas uma estação, por enquanto, dispõe de ponto de
presença Gesac. Segundo a coordenadora do programa, Germana Macena, a
Fundação incentiva o uso de software livre, mas não proíbe o uso de
software proprietário. Nesse caso, exige-se, no contrato de parceira,
que sejam afixadas, na parede, a licença de uso e a forma como o
software foi adquirido: se recebido em doação e por quem, ou a nota
fiscal de compra. “É como um alvará e o gerente do banco está atento
também a isso”, disse Germana. Ela acredita que as estações, além de
promover a inclusão digital, estão mudando a cultura do
assistencialismo ao estimular a responsabilidade social.
Capacitação
O primeiro passo para a montagem de uma estação digital, nos moldes da
Fundação, é escolher o parceiro principal no município. Esse parceiro
deve formalizar o interesse pela parceria comprovando as principais
ações desenvolvidas pela entidade que representa; as condições
socioeconômicas do município; detalhar a localização da estação digital
e exemplificar como pretende contribuir para a melhoria da qualidade de
vida da comunidade. O segundo passo é a apresentação de três pessoas,
com perfil de liderança e noções básicas de informática, indicadas pela
comunidade, que deverão ser capacitados pela FBB em cursos ministrados
em parceria com a Mediateca, uma Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (Oscip), voltada para a inclusão social e digital.
Os parceiros assumem o compromisso de manter a estação aberta ao
público pelo menos cinco dias por semana, por cinco anos. Os sete
primeiros meses contam com recursos da Fundação para tudo, inclusive
material de consumo, como papel e tinta para impressora e bolsa para os
educadores (cobre a despesa com alimentação e transporte). Depois, os
educadores, na verdade voluntários, deverão procurar também formas de
se manter. Pode ser com outros parceiros ou cobrando o acesso ao
equipamento. Alguns passaram a cobrar R$ 0,50 de adolescentes que
procuram os jogos online, por exemplo. Quem quiser, ou puder, paga
mais. A procura é grande, tanto para a digitação de trabalhos,
escolares ou não, quanto para pesquisas na internet ou mesmo para
cursos de graduação ou especialização a distância. Por isso mesmo,
algumas estações são abertas à noite e durante os fins-de-semana.
O curso de capacitação da Mediateca é baseado em uma metodologia de
mediação da informação que trabalha com educação
Unidade de rádio-telecentro em
Campestre (AL). integral, tendo as
novas tecnologias como instrumentos de desenvolvimento cognitivo. São
aulas sobre sociedade da informação, sustentabilidade, liderança,
internet e listas de discussão, ética e cidadania, fontes de
informação, empreendedorismo, prática e elaboração de projetos, oficina
de hardware, cultura regional na sociedade da informação, planilha
eletrônica, entre outros temas e ferramentas. As turmas são de 30
alunos, três de cada estação, de cidades de regiões distintas para
promover a convivência de culturas diferentes. Os alunos passam uma
semana em Brasília em dedicação integral. “O curso ultrapassa a simples
idéia de disponibilizar equipamentos e conteúdos. Manejar um computador
na suas mais simples funções não é suficiente para conectar o indivíduo
ao mundo e incluí-lo na sociedade globalizada”, acredita a professora
Cecília Leite Oliveira, cuja tese de doutorado em Ciência da
Informação, orientada pelo professor Emir Suaiden, da Universidade de
Brasília (UnB), se transformou na organização de interesse social.
De acordo com Cecília, tudo começou com um grupo de pesquisadores da
UnB e do CNPq que desenvolveram estudos visando a inclusão social,
inicialmente através do acesso ao livro e à biblioteca. Posteriormente,
através do acesso às informações no mundo digital, atuavam com
metodologia de mediação da informação para a inclusão digital. A
primeira experiência ocorreu na biblioteca de uma escola pública, de
primeiro grau, em Samambaia, na periferia de Brasília. Depois, Cecília
levou o projeto para um colégio de segundo grau, o Gisno, e trabalhou
com a mesma turma de 40 alunos, do primeiro ao terceiro ano em sala
informatizada. O resultado foi inédito no vestibular de 2003, da UnB:
68,9% dos estudantes foram aprovados.
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