Telecentros – Ação combinada para a moçada de Campinas

Prefeitura prepara jovens em situação de vulnerabilidade social para atuar como educadores nos telecentros municipais.


Prefeitura prepara jovens em situação de vulnerabilidade social para atuar como educadores nos telecentros municipais.   Leandro Quintanilha


Os telecentros municipais campineiros têm uma função social mais
abrangente do que a inclusão digital da população de baixa renda. Além
de fornecer acesso à internet e cursos de informática à comunidade, os
21 postos municipais estão inseridos num programa de apoio a jovens em
situação de vulnerabilidade social. É o Jovem.com Cidadania Digital.

O programa, da Secretaria Municipal de Cidadania, Trabalho, Assistência
e Inclusão Social de Campinas, é uma ampliação do antigo Jovem
Trabalhador, focado especificamente na formação para o mercado de
trabalho. “Houve uma mudança de enfoque”, explica a coordenadora de
gestão do Jovem.com, Rita Karther. “Agora, a inclusão social percorre
diversos caminhos – um deles é a inclusão digital.”


Dos 21 telecentros, 20 ficam
na periferia.

Além de cursos profissionalizantes na área de informática, que os
preparam para a função de “apoiadores” (monitores, educadores digitais)
nos telecentros, os jovens participam de oficinas sobre temas como
cooperativismo, educação sexual e memória local. A formação dura dois
anos, com progressão no valor da bolsa e na carga horária. São quatro
níveis: começa-se com R$ 175,00, além de vale-transporte, por 16 horas
semanais, até o máximo de R$ 450,00, por 30 horas.

Atualmente, 184 jovens, entre 14 e 24 anos, participam do programa,
indicados por organizações não-governamentais parceiras que atuam em
áreas de vulnerabilidade social. “A meta é chegar a 500 até o fim do
ano”, diz Rita. Outra previsão é de que outros nove telecentros sejam
inaugurados ainda em 2006. “Dos 21 já em funcionamento, apenas um fica
no centro da cidade – os outros 20 estão distribuídos pela periferia.”


Mapa das unidades: mais nove
telecentros até o final do ano.

As oficinas e capacitações oferecidas aos jovens apoiadores são
ministradas por profissionais do Centro de Integração Empresa-Escola
(CIEE), ONGs contratadas e universidades parceiras, como a Pontifícia
Universidade Católica de Campinas e a Universidade São Francisco.
Outros parceiros importantes do programa são o Banco do Brasil, o
Instituto de Pesquisas Especiais para a Sociedade (Ipes), o Comitê para
a Democratização da Informática (CDI), a Fundação Orsa e, mais
recentemente, o Grupo MetaReciclagem, que começa a desenvolver oficinas
sobre o tema.

Orgãos públicos também apoiam o programa, como a Guarda Municipal, a
Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) e a Sociedade
de Abastecimento de Água e Saneamento (Senasa), além de outras
secretarias municipais. Desde o segundo semestre de 2005, os jovens
participantes do programa são convidados a participar de “atividades
transversais” nas áreas de atuação das instituições parceiras. Durante
a implantação do bilhete único nos ônibus coletivos de Campinas, por
exemplo, jovens do programa foram às ruas para orientar a população
sobre o novo sistema.


Para os educadores,
oficinas de
cooperativismo,
educação sexual e
memória local.
 
Para a apoiadora Rita Rodrigues Corrêa, de 23 anos, o Jovem.com é uma
porta de entrada para o mercado de trabalho formal. “Nunca tive
carteira assinada na vida”, diz ela, que já trabalhou sem registro como
atendente e vendedora. No programa desde janeiro, ela fez um curso de
informática básica e uma oficina sobre inclusão digital, além de
receber treinamento sobre o uso da customização de softwares para
telecentros Sacix. “Quando voltar ao mercado, vou estar bem mais
preparada.”

Há oito meses no programa, o apoiador Flávio Rodrigues da Cruz, de 19,
que já trabalhou informalmente como costureiro e entregador, está
decidido a fazer carreira no campo da informática. “Quero aprimorar
meus conhecimentos na área.” Até agora, já fez cursos de informática
básica, montagem e manutenção de micros e webdesign.

Um laboratório para o Meta

O Grupo MetaReciclagem (também conhecido como Movimento MetaReciclagem)
participa do programa Jovem.com a convite da prefeitura de Campinas. A
primeira oficina com os jovens apoiadores começou em agosto, com dez
alunos entre 20 e 24 anos. Deve durar dois meses, segundo a previsão de
Dalton Martins, integrante do MetaReciclagem.

Esses jovens já atuam em telecentros, como educadores digitais. Durante
essa formação, trabalham normalmente de segunda a quinta, e passam oito
horas da sexta-feira em oficinas presenciais sobre aspectos técnicos e
sócio-políticos da MetaReciclagem.

A parte técnica trata da reutilização das máquinas supostamente
consideradas sem serventia. “O básico disso é aprender a montar
computadores”, resume Dalton. Em paralelo às noções de eletrônica, os
jovens são estimulados a observar o impacto ambiental da produção de
tecnologia e do descarte de materiais. E também a refletir sobre o
potencial de articulação cidadã dos meios tecnológicos de comunicação,
ainda subaproveitado por falta de informação – e, claro, de acesso. “Um
dos temas mais importantes, nesse assunto, é a formação de comunidades
em rede”, afirma Dalton.

Ainda dentro do programa Jovem.com, o MetaReciclagem pretende montar um
laboratório no prédio do Centro de Referência da Juventude, para
alimentar os 20 telecentros de Campinas. Além de manter as oficinas
para os jovens apoiadores, o grupo também deve abrir cursos
comunitários.

O MetaReciclagem surgiu há três anos, em São Paulo, com o objetivo de
se “reapropriar da tecnologia para promover a transformação social”. É
uma organização suprapartidária, não estabelecida juridicamente como
uma OnG, que ministra oficinas, capta computadores descartados,
monta  laboratórios de reciclados e apóia (estratégica e
operacionalmente) projetos sociais diversos. O movimento já tem
desdobramentos na Bahia, no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e no
Rio Grande do Sul. Segundo a Wikipédia, MetaReciclagem é reapropriação
da tecnologia para a transformação social. Esse conceito abrange
diversas formas de ação: captação de computadores usados, montagem de
laboratórios reciclados e apoio estratégico e operacional a projetos
socialmente engajados, entre outros.

http://oxossi.metareciclagem.org – MetaReciclagem

www.programajovem.com – Programa Jovem

www.campinas.sp.gov.br – Prefeitura de Campinas