Telecentros – As Estações se reúnem para balanço

Potencializar, acertar e superar dificuldades, o objetivo do I Encontro das Estações Digitais, da Fundação Banco do Brasil, realizado em maio.


Potencializar, acertar e superar
dificuldades, o objetivo do I Encontro das Estações Digitais, da
Fundação Banco do Brasil, realizado em maio.
Cristiana Nepomuceno


O programa ganhou um site
próprio e um software de
acompanhamento.

A cidade de Santa Quitéria, no Maranhão, com 28 mil habitantes, foi o
primeiro município brasileiro a comprovar a erradicação do sub-registro
de nascimento de seus habitantes. Quem nasceu ou ainda vai nascer na
cidade, a partir de agora, tem a certidão de nascimento garantida. Por
essa conquista, Santa Quitéria recebeu o reconhecimento da Secretaria
Nacional de Direitos Humanos do governo federal e do Unicef (Fundo das
Nações Unidas para a Infância). A mobilização da comunidade local,
incluindo o poder público, foi fundamental para que a campanha de
registro funcionasse, mas a existência de uma Estação Digital da
Fundação Banco do Brasil (FBB) no município também ajudou bastante. Com
os computadores do telecentro foi possível fazer o cadastro das 2.547
pessoas que ainda não tinham certidão de nascimento.

Foi o que contou José de Ribamar, um dos coordenadores da Estação
Digital de Santa Quitéria, durante o I Encontro de Estações Digitais
realizado pela Fundação Banco do Brasil, em Brasília, no início de
maio, e que reuniu 200 educadores do programa da FBB e dos telecentros
do Banco do Brasil. O Estação Digital foi criado em 2004 e tem, como
objetivo, a inclusão social por meio da tecnologia. A maioria das 166
estações, que tem em média entre dez e 20 computadores, está localizada
em pequenos municípios do Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste.

A Estação de Santa Quitéria foi apontada como um exemplo de sucesso
juntamente com a unidade do município de Pacajus, no Ceará. Nos dois
casos, a mobilização dos habitantes e a articulação de parcerias, com
órgãos públicos ou empresas privadas, para garantir a sobrevivência
financeira dos projetos foram determinantes para que eles dessem certo.
Em Santa Quitéria, a Estação Digital conta com um conselho gestor de 43
integrantes e 1,2 mil associados que contribuem com R$ 3,00 mensalmente
para a manutenção do telecentro. A estação não recebe dinheiro da
prefeitura.

Já a Estação Digital de Pacajus tem apenas um ano de funcionamento.
Tempo suficiente para que a Câmara de Vereadores da cidade se
convencesse dos benefícios que o projeto traz para o município e
incluísse, na lei orçamentária, recursos destinados à manutenção do
telecentro (pagamento de água, luz, internet, etc). Além da verba
pública, a venda de serviços à comunidade e a oferta de cursos a preços
mais baixos do que os de mercado ajudam a estação a se manter. “O
grande filão é sensibilizar a comunidade sobre a importância do
trabalho da estação, e ela se encarrega de fazer a propaganda”, ensinou
Silvia Maira de Paiva, coordenadora da Estação de Pacajus, aos
educadores presentes no encontro. Segundo ela, há hoje uma lista de
espera de 620 pessoas para os cursos do telecentro.

Site e intercâmbio


Cursos pagos ajudam a manter as
estações.

A dificuldade de captar recursos para garantir a perenidade do projeto
foi um dos principais temas apontados pelos educadores, no evento de
Brasília. A Fundação Banco do Brasil cobre o custo inicial de
implantação do telecentro, geralmente na faixa dos R$ 50 mil. Durante
os seis meses seguintes, fornece uma bolsa no valor total de R$
1.050,00 (para três educadores) e paga a conexão à internet. Terminado
esse prazo, a comunidade tem que encontrar meios de garantir a
sobrevivência da estação. Eles também reclamaram da dificuldade de
obter conexão à internet, especialmente nas pequenas cidades do
Maranhão e do Piauí. E de que, muitas vezes, têm que evitar que o
projeto vire alvo de interesses eleitoreiros dos políticos da região.

Durante o encontro, os próprios educadores foram chamados a dar
respostas a essas dificuldades. E o caminho, na maioria das vezes,
convergiu para a mobilização da comunidade em torno do projeto e a
formação de parcerias com os mais diversos setores, e não apenas com o
poder público. “No treinamento dos educadores, ressaltamos que o melhor
parceiro é o que considera, como objetivo principal, o bem-estar a
comunidade”, ressalta Ademir Vieira dos Santos, assessor da Fundação BB
e um dos coordenadores do Estação Digital.

Ao final do evento, foram lançados os Cadernos Estação Digital, com
orientações para o funcionamento do telecentro e dicas para facilitar o
trabalho dos educadores, e o site do Estação Digital. O site reúne
informações sobre o programa e sobre as estações, e tem um espaço
destinado à comunicação dos educadores, que deverão ficar responsáveis
por alimentar a página na internet. No ícone Fórum, os participantes do
projeto poderão discutir propostas, trocar idéias e buscar suporte
técnico. Outra novidade, segundo Ademir Santos, é que a FBB passará a
utilizar um software que permitirá o acompanhamento e o monitoramento
mais detalhado dos programas sociais. “Poderemos levantar dados
qualitativos e quantitativos, que nos ajudarão a corrigir estratégias”,
explica Santos.


Este ano, a Fundação
Banco do Brasil vai abrir
20 novs unidades.

Na avaliação de Marcos Fadanelli, diretor da FBB, o objetivo do
encontro, que era a troca de experiências e uma avaliação dos rumos do
programa, foi cumprido. Para ele, o melhor foi constatar os diferentes
caminhos que os educadores e as comunidades têm encontrado para seguir
com as estações. “Vimos que há estações que estão bem avançadas no
desenvolvimento de software livre e outras que, a despeito de todas as
dificuldades, têm encontrado saídas para que conseguir se conectar à
internet”, destacou. “Todo mundo precisa encontrar os iguais para
potencializar acertos e superar dificuldades”, comentou Jacques Pena,
presidente da Fundação Banco do Brasil, convidado para encerramento do
evento. O próximo encontro já tem data marcada: será em 2008.

Apesar de haver uma fila de espera com 200 pedidos de comunidades que
querem uma Estação Digital, este ano, apenas 20 serão implantadas pela
Fundação Banco do Brasil, número bem inferior às 94 financiadas em 2005
e às 72 estações abertas em 2004. Pena explicou que a fundação está
fazendo “ajustes qualitativos” no programa das estações digitais e uma
das opções, este ano, foi investir recursos na realização do encontro
de Brasília. A FBB custeou a viagem de todos os educadores. Além disso,
os programas da fundação voltados para a geração de trabalho e renda
terão mais prioridade em 2006. Receberão cerca de 60% do orçamento
total da fundação, que será da ordem de R$ 100 milhões.