Conheça a experiência de nove telecentros móveis brasileiros para
entender prós e contras desse modelo de inclusão. Leandro
Quintanilha
Da esq. para dir.: Projeto do Sebrae-AP; da FAG, em Cascavel; e o Inter Clique, de Curitiba.
Mobilidade ou continuidade – uma escolha que ainda se coloca, quando o
assunto é inclusão digital. ARede procurou os organizadores de seis
projetos de telecentros móveis em cinco estados brasileiros, para
conhecer melhor as vantagens e as dificuldades dessa minoria
itinerante. Juntos, somam dez veículos adaptados. Ou somavam.
Descobrimos que dois desses ônibus inclusivos, um em Curitiba (PA) e
outro em Niterói (RJ), foram desativados no último ano por uma opção
estratégica das prefeituras de investir exclusivamente em projetos
fixos. Funcionavam em pleno vapor até então. Assim como os outros
projetos procurados, ainda em operação no Amapá, em Minas Gerais, no
Paraná e no Rio Grande do Sul.
Eles oferecem acesso à internet e cursos básicos de informática de
graça em escolas, postos policiais e associações de bairro. Não há
estatística sobre o número de telecentros móveis que circulam hoje no
país. Sabe-se, contudo, que, num universo estimado de 4 mil a 5 mil
telecentros, os móveis são exceção. A principal vantagem da versão
itinerante é a capacidade de atender, de forma razoavelmente barata,
mais de uma comunidade em datas ou períodos alternados. Outra vantagem,
relativa, seria a possibilidade de atingir locais ermos de baixa
densidade demográfica. Relativa, porque, na maioria dos casos, a
comunidade hospedeira precisa oferecer infra-estrutura básica de
energia e conexão.
As desvantagens são a falta de vínculos com os projetos comunitários e
a impossibilidade óbvia de desenvolver ações de longo prazo. E, em
tese, comunidades longínquas também poderiam ser beneficiadas com um
telecentro fixo –, ainda que por um meio mais caro, a conexão via
satélite.
No Rio Grande do Sul, a entidade Província Marista mantém dois
telecentros móveis, que circulam por pequenas comunidades do interior.
O primeiro, criado há um ano e três meses, conta com 16 computadores; o
outro, inaugurado em dezembro, tem 19. Ambos funcionam com internet em
banda larga. Os cursos duram 40 dias. Em seguida, os ônibus
partem para outras comunidades. “Temos alunos da adolescência à
terceira idade”, diz Eliane Grassen, coordenadora dos ônibus de
inclusão digital. De tempos em tempos, ela recebe telefonemas de
ex-alunos que conseguiram emprego por causa do cursos.
No ano passado, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
transformou sua biblioteca móvel num telecentro itinerante. O
Carro-Biblioteca – Leitura e Inclusão Digital tem sete computadores
conectados à internet, além, é claro, do acervo já existente de 3 mil
livros.
O veículo conta um elevador na porta para garantir o acesso de pessoas
com deficiência física e é equipado com satélite para conexão, aparelho
de DVD, televisão de 34 polegadas, filmadora, câmera fotográfica e
impressora. “É o resultado de um sonho de mais de dez anos”, afirma
Cecília Nogueira. Quando criada, em 1973, a biblioteca ambulante
funcionava numa Kombi.
Quatro e mais oito
A Faculdade Assis Gurgacz (FAG) mantém, desde o ano passado, quatro
telecentros móveis , com 12 computadores cada, em circulação na região
de Cascavel, no Paraná. Cerca de 1,3 mil pessoas já foram atendidas,
segundo estimativa de Odirlei Antonio, um dos coordenadores do projeto
Inclusão Digital FAG. Onde não é possível estabelecer conexão ADSL, o
acesso se dá via rádio.
São ministrados cursos em software livre em três turnos por dia. O
trabalho é feito em conjunto com as autoridades locais: as escolas
encarregam-se de organizar as turmas e as prefeituras providenciam
professores de informática. Até o final deste ano, a FAG pretende
colocar mais oito telecentros móveis em circulação.
O Sebrae do Amapá lançou, em fevereiro, um telecentro móvel com ênfase
no estímulo ao espírito empreendedor. Um microônibus foi adaptado para
comportar cinco computadores. “Vamos percorrer todos os bairros de
Macapá e Santana até 2007”, afirma o gestor do projeto, Eusvaldo
Pimentel. O público-alvo são pequenos comerciantes que nunca tiveram
contato com o computador.
Apesar de considerarem bem-sucedida a experiência com telecentros
móveis, as prefeituras de Niterói e Curitiba desativaram seus ônibus
inclusivos. O telecentro móvel curitibano Inter Clique foi aposentado,
após uma “reformulação dos projetos na nova gestão”, como informou o
gestor Fabrício Zanini, por meio da assessoria de imprensa da ICI,
entidade responsável pelo projeto.
Segundo a administração niteroiense, seu veículo de inclusão digital,
equipado com dez computadores, foi tirado de circulação por uma
“opção estratégica” – de custo-benefício. “Era um ônibus arrendado e a
conexão (por rádio) não era viável muito longe do centro da cidade,
justamente aonde queríamos levá-lo”, explica o sub-secretário de
Modernização Administrativa, Edson Machado.
Machado afirma, contudo, que o telecentro móvel foi bem-sucedido nos
bairros onde a conexão foi estabelecida. “Demanda há. Talvez retomemos
o projeto com um ônibus próprio”, diz. Como as tecnologias de
conexão têm ficado mais baratas e eficientes a cada dia, há uma emenda
parlamentar em andamento: em 2007, Niterói poderá ter de volta seu
telecentro itinerante.
Depois de participar de um curso no Telecentro de Informações e
Negócios (TIN) da Federação da Agricultura e Pecuária (FAP), em
Brasília, funcionários do Sindicato de Trabalhadores Rurais do Distrito
Federal decidiram criar sua própria unidade – só que móvel, o
“telecentro voador”. A idéia é usar um ônibus para atender núcleos
rurais onde não há rede telefônica. O curso gratuito de capacitação do
TIN é voltado a associados de sindicatos vinculados à federação. Mas
muitos produtores rurais moram longe, a até cem quilômetros de
Brasília. E eles acabam não usando, em seus locais de origem, os
recursos tecnológicos aprendidos. A FAP tem tentado, junto à Central
Única dos Trabalhadores (CUT) e aos ministérios das Comunicações e da
Agricultura, viabilizar um sistema de telefonia que funcione na zona
rural. Para tocar o projeto do “telecentro voador”, o sindicato já
procurou o Banco Regional de Brasília e o Governo do DF. O
principal argumento é que o perfil do usuário rural é muito diferente
do urbano.
www.ufmg.br • Universidade Federal de Minas Gerais
www.sebrae.amapa.com.br • Sebrae Amapá
www.fag.edu.br • Faculdade Assis Gurgacz
www.curitiba.org.br • ICI (Curitiba)
www.niteroi.rj.gov.br • Prefeitura de Niterói