Telecentros – Educação ambiental na Amazônia

Depois de oferecer acesso à informática para a população de Ananindeua, em Belém do Pará, a ONG Sasamazon vai mobilizar a comunidade pela preservação da natureza e da vida na região.


Depois de oferecer acesso à
informática para a população de Ananindeua, em Belém do Pará, a ONG
Sasamazon vai mobilizar a comunidade pela preservação da natureza e da
vida na região.
  
Tetê Oliveira

Inclusão digital, mobilização comunitária, preservação e educação
ambiental. Em Ananindeua, município na Região Metropolitana de Belém,
no Pará, o Instituto Sentinelas Sócio-Ecoambientais da Amazônia
(Sesamazon) aposta em parcerias que viabilizem projetos nessas áreas
diferentes — porém, não excludentes.

Criada no início dos anos 90, a instituição concentrava suas atividades
na prática do escotismo. Alunos de escolas locais participavam de
cursos de primeiros socorros e faziam trilhas ecológicas. Após ser
oficializado como organização não-governamental (ONG) e batizado de
Sesamazon — antes recebeu as denominações Equipe Garra, Equipe
Socorrista e Associação de Socorristas Amb-Ecológicos da Amazônia — , o
grupo resolveu investir na alfabetização digital.

Com 17 mil famílias, o Jardim Nova Esperança, no bairro do Coqueiro,
foi escolhido para sediar uma sala de informática, em março de 2004.
Diretor-presidente da ONG, Afonso Pinheiro desenvolveu o projeto
enquanto cursava o primeiro ano de Administração: Gestão Ambiental, no
Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (Iesam).

Os equipamentos foram fornecidos pela Gerência Regional de Logística
(Gerel), do Projeto de Inclusão Digital do Banco do Brasil: 10
máquinas, um servidor e um switch. Tudo em comodato. O espaço físico
foi conseguido graças à colaboração de uma moradora, Antônia Lopes, que
alugou a sala pela metade do valor de mercado, um negócio “de mãe para
filho”.

A comunidade passou então a contar com cursos de digitação, editor de
texto e planilha, entre outros. Mas nada de internet. “A Telemar disse
que não havia caixa óptica no local e era preciso um estudo sobre a
viabilidade técnica da demanda para implantação do Velox”, lembra
Afonso.

Já em novo endereço, na Rua Manoel Pinheiro, próximo à principal
avenida do bairro, para facilitar o acesso de seus usuários, em agosto
deste ano, a sala de informática ganhou status de telecentro. Poucos
meses antes, os coordenadores da ONG haviam descoberto e contatado, via
e-mail, o Gesac, projeto de inclusão digital do Ministério de
Comunicação. Cadastro preenchido e burocracia vencida, eles receberam
uma antena para conexão via satélite. A Gerel se encarregou dos cursos
de capacitação em software Linux, gerenciamento de telecentro e noções
de manutenção.

Mas, curiosamente, os computadores nunca funcionaram todos ao mesmo
tempo. “Eles travam e o acesso fica muito lento. Precisamos de um
servidor mais potente”, explica o técnico de informática Adriano
Monteiro, responsável pelo suporte e um dos instrutores do telecentro.
Hoje o servidor é um Celeron 2.0, com HD 40 e memória 512 RAM.

Aberto ao público de segunda a sexta, das 8h às 22h, o espaço atende
uma média de 20 pessoas por dia. Desde os tempos de sala de
informática, já  alfabetizou digitalmente cerca de 500 pessoas.
Uma das dificuldades para ampliar esse atendimento, segundo Afonso,
está na própria comunidade, ainda muito resistente ao Linux. “Nós
também precisamos nos capacitar mais”, reconhece. Para isso, buscam
informações sobre o software na Internet.

O telecentro se mantém com contribuições mensais dos dez coordenadores
da ONG, cobrança pelos serviços prestados e até por conta de rifas. Os
gastos com aluguel, energia e material de expediente chegam a R$ 500,00
mensais. A mão-de-obra — 4 instrutores e 3 monitores — é voluntária.
Sem falar na ajuda de parceiros como a ONG Moradia e Cidadania, de
funcionários da Caixa Econômica Federal; Movimento Nacional de Luta
pela Moradia; Supermercado Jaspan, Escola Superior Madre Celeste e ASPB
Agenciadora e Administradora de Benefícios, além de moradores do bairro.

Meio ambiente


Para 2007, o Sesamazon também trabalha na implementação do Projeto
Ecologizar, cujo objetivo é promover a educação ambiental junto a
alunos de escolas públicas e moradores de comunidades locais e
ribeirinhas de Ananindeua. No total, o município tem 14 ilhas no rio
Maguari.

Com duração prevista de 24 meses, o Ecologizar pretende sensibilizar as
pessoas sobre a necessidade de se preservar e cuidar do ambiente em que
vivem — seja a escola, a casa ou a comunidade. Haverá palestras,
oficinas, exposições e trilhas ecológicas.

Nas comunidades ribeirinhas, a ONG já se faz presente. O projeto
Monitor Ecoambiental Ananim (árvore que deu origem ao nome do
município) reúne 15 jovens que percorrem as ilhas de Ananindeua,
conhecendo as comunidades e coletando informações sócio-econômicas e
ambientais. Os monitores são alunos de uma escola pública da própria
comunidade.

Em setembro, a Sesamazon abriu um núcleo em Santa Cruz do Araripe, na
Ilha de Marajó. “É um clube esportivo infanto-juvenil, que atende 20
crianças”, conta o responsável pelo núcleo, José Carlos Dias Barbosa,
que trabalha com pescadores da região.

Os jovens da Sezamazon não param. Por iniciativa da ONG, em outubro de
2005, aconteceu o I Fórum de Moradia Local do Jardim Nova Esperança. A
proposta era unir forças na luta por melhorias para o Jardim Nova
Esperança, que tem sua origem em ocupações, como quase todo o
município. O evento teve a participação de associações comunitárias que
sempre atuaram de forma dispersa, na base do cada um por si e Deus por
todos. Das reuniões participaram representantes do Clube de Mães, da
Associação de Moradores e do Centro Comunitário, entre outros.

“O objetivo era discutir desde problemas mais imediatos da comunidade,
como iluminação e limpeza de ruas, até questões estruturais, como
urbanização e titularidade de terras”, diz Marcos André Menezes da
Silva, graduado em Administração e instrutor do telecentro.

Do Fórum surgiu uma comissão responsável por buscar o diálogo com os
órgãos públicos. Mas sua principal conquista veio da mobilização, em
mutirão, da própria comunidade: a construção de uma passagem que liga o
Jardim Nova Esperança à comunidade vizinha, do Sabiá. Antes da obra, os
moradores eram obrigados a dar uma volta de mais de dois quilômetros
para ir de um lugar a outro; agora, a caminhada não chega a cem metros.