Inauguradas duas Casas Brasil, com telecentro e biblioteca, numa parceria da Petrobras com o ITI e a Rits. Rosane de Souza
O telecentro de São João
do Meriti, um dos 50 da
Petrobras.
No dia 30 de junho, foram inaugurados no Rio de Janeiro, nos municípios
de Mesquita e São João de Meriti, da Baixada Fluminense, dois
telecentros de inclusão digital Casa Brasil, em parceria com a
Petrobras, o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) e a
Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits). Os dois telecentros
já estavam funcionando pelo menos há dez meses, sem inauguração formal,
atendendo diariamente a cerca de 200 pessoas de todas as faixas
etárias, em Mesquita, e a 1,5 mil pessoas por mês em São João de Meriti.
Jovens de 12 a 25 anos e até mesmo a população de terceira idade já
vêem nos espaços uma referência de entrada em um mundo antes só
conhecido por meio de notícias de jornais e televisão.” A maioria dos
que vêm aqui não sabiam acessar a internet nem usar o computador; hoje,
já fazem pesquisa escolar, cursos de capacitação e batem papos pela
rede”, diz Elton Lima, coordenador da Casa Brasil de Mesquita. Na
verdade, os telecentros de inclusão digital de Mesquita e São João de
Meriti fazem parte da cota de 50 centros de informática em comunidades
de baixa renda da Petrobras e estão incluídos dentro do programa Fome
Zero da estatal.
“São ainda embriões da Casa Brasil, porque este programa é mais amplo,
abrangendo os seis módulos completos, que incluem telecentros,
bibilioteca, auditório, estúdio multimídia, laboratório de divulgação
de ciência e oficina de rádio”, explica Edgard Piccino, assessor da
presidência do ITI. Nos dois espaços abertos, só há telecentro e
biblioteca, mas, dos 50 telecentros instalados pela Petrobras, 40 são
sementes das Casa Brasil.
Além dos espaços financiados pela Petrobras, o governo federal, por
meio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e ITI, quer abrir
outras 90 Casas Brasil. Apenas recentemente, começaram a sair as
licitações para compra de equipamentos. A previsão é de que, nos
próximos dois meses, sejam finalmente inauguradas 20 unidades, sendo as
primeiras em capitais do país, como Natal (RN), Salvador (BA), João
Pessoa (PB), e Distrito Federal. “Essas são as que estão em ritmo mais
avançado de implantação”, diz Piccino. Ele atribui a demora ao atraso
na votação do orçamento do governo federal deste ano.
Pelos menos uns bons 40 minutos separam o centro do Rio da estação de
Edison Passos, em Mesquita, viagem que hoje pode ser feita em trens
razoavelmente confortáveis. A Casa Brasil de Mesquita funcionava das 9h
às 18h, mas ampliou o seu funcionamento até às 21 horas, exatamente
para atender as necessidades de quem trabalha o dia inteiro na cidade.
A prefeitura entrou no projeto com o fornecimento de água, luz e força
policial. “Com isso, pode funcionar também aos sábados e domingos”,
justifica Luiz Antônio Carvalho, coordenador de projetos especiais da
Rits.
Estação do conhecimento
No rastro desses telecentros, muitos outros estão sendo abertos por
conta das próprias comunidades de Mesquita (nos bairros de Cosmorama e
Chatuba), na Ilha do Governador e na Cidade de Deus (esta, com apoio do
rapper MV Bill). “Em São João, três ou quatros novas unidades foram
criadas a partir da Casa Brasil”, diz Luiz Antônio. “A meninada da
Baixada Fluminense começou a organizar installfests, que são festas de instalação de software
livre nos computadores. Eles querem se livrar do Windows”, acrescenta.
Com a ampliação, o educador da Casa Brasil de Mesquita, Jefferson
Mattos de Salles, de 21 anos, teve que assumir outras funções na
hierarquia do projeto e, atualmente, é também o responsável pelo
suporte técnico de todas as unidades (que a Rits/Petrobras mantém) no
Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Richard Martins Costa, que nasceu no interior de Minas Gerais é outro
usuário da Casa Brasil e integrante do seu conselho gestor. Ele conta
que, em Mesquita, já foram realizadas oficinas de hip hop, de grafite e
muitas sessões de filmes. Atualmente, acalenta o sonho de voltar para a
terra natal. “Até o fim do ano, vou montar uma casa igualzinha no
campo, e adequar as pessoas da agropecuária ao mundo digital”, revela.
De acordo com estatísticas da Rits, no mês de maio, foram registrados
40 mil acessos na internet nos 43 telecentros já instalados pela
Petrobras em 19 estados do país, ainda que muitos não tenham sido
oficialmente inaugurados. Neles, já são entre 1 mil e 2 mil pessoas
cadastradas, em média, por unidade; e cerca de cem usuários por dia.
“Mais do que equipamentos, esses locais precisam de pessoal capacitado
e do envolvimento da comunidade para dar certo”, argumenta Luiz Antônio.
Vladimir Augusto Sebastian, outro integrante do comitê gestor do telecentro de Mesquita e um dos criadores do grupo de hip hop
Estilhaço, reconhece que as atividades culturais e os cursos de
literatura ainda são uma forma de entreter os jovens, enquanto esperam
na fila por uma vaga no micro. “Mas, sem querer amarrar as crianças,
vamos dando a elas informações e cursos de músicas, até com DJs. Aqui,
por exemplo, eles aprenderam tudo sobre a importância do disco em
formato vinil”, afirma. Ex-integrante do grupo Vozes do Gueto,
Sebastian diz que a opção pelo projeto Estilhaço nasceu do desejo de
fazer um trabalho social, reunindo música, grafite e rádios
comunitárias. “O Vozes do Gueto quer ganhar dinheiro com música, mas eu
quero ser um ativista social, não quero ganhar dinheiro com rap”, diz, acrescentando que seu desejo é disseminar o rap nacional.
Ronaldo Cesconinini, coordenador geral da Casa de Cultura de São João
de Meriti, afirma que o telecentro de São João tem uma linha de
pedagogia diferente de Mesquita por ser instalado dentro de uma casa de
cultura já existente. “Aqui, a gente desenvolve ações mais
governamentais, como cursos de geração de renda para as mulheres,
pesquisa de montagem de espetáculos e divulgamos os outros criados pela
Casa de Cultura, como o de alfabetização de adultos”. A Casa Brasil de
São João de Meriti atende a 1,5 mil pessoas por mês.
O coordenador do telecentro instalado na Casa de Cultura revela que 150
pessoas, de 16 a 60 anos, fazem atualmente um curso de introdução à
informática e 60 crianças estão sendo capacitadas no uso de software
livre. Muito mais do que simples ferramenta de inclusão digital, os
telecentros são espaços de aprendizado cultural. Os Cafés Filosóficos,
por exemplo, organizados pelo ator Chico Diaz, reuniram 14 grupos
culturais de Mesquita, São João de Meriti e Nova Iguaçu.