Questões burocráticas e
administrativas dificultam a abertura de unidades há tempos. Apesar das
barreiras, projeto foi retomado e, até março, o município deve ver o
número de telecentros quadruplicar.
Emanuel Alencar
Desde 2004, a prefeitura de Niterói, Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, tenta abrir telecentros em regiões estratégicas da cidade. No
entanto, a instalação das unidades sempre esbarrou em questões
burocráticas e administrativas. Muitas comunidades reclamaram e o
alento veio em novembro, com o anúncio da retomada do projeto.
Atualmente, cinco telecentros estão em funcionamento. Até março deste
ano, serão 21, com um total de 230 computadores operando o sistema
GNU/Linux e conexão Velox, da Telemar. O investimento global, de
aproximadamente R$ 2 milhões, está sendo bancado pela prefeitura do
quinto município mais populoso do estado, com 471,4 mil habitantes e
com a maior taxa de alfabetização do Estado do Rio (94,45% da
população, segundo a ONU).
A cidade terá 21 telecentros até março.
Mesmo com as dificuldades de implantação da rede de inclusão digital,
Niterói tem a segunda população mais incluída do Brasil (34,16%),
ficando atrás apenas de São Caetano do Sul, com taxa inclusão de
41,14%. Pelo menos, segundo o Ranking dos Incluídos Digitais, divulgado
em 2003 pelo Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. No
entanto, o subsecretário municipal de Modernização Administrativa,
Edson Machado, lembra que o percentual pode estar mascarado, em função
da força da classe média em Niterói.
“Queremos promover uma inclusão digital verdadeira, com abrangência em
todas as áreas da cidade, principalmente as mais carentes”, diz
Machado, que espera atender a quase 40 mil pessoas por mês, cerca de
8,5% da população total de Niterói. “Já temos toda a estrutura física e
os equipamentos à disposição para o funcionamento dos 21 telecentros”,
afirma o subsecretário.
Entretanto, o projeto sofreu reestruturações. Antes, os computadores
eram alugados pela prefeitura, que agora comprou as máquinas. Todos os
assistentes dos telecentros são estudantes universitários. “Caso
tenhamos jovens nas próprias comunidades com esse perfil, estamos dando
prioridade a eles. Mas é fundamental que tenhamos monitores
qualificados”, diz Machado.
Para garantir a longevidade dos telecentros, a prefeitura incentiva a
criação de conselhos gestores nas comunidades. Aposta que já se mostrou
eficaz em Piratininga, bairro da região oceânica, onde residem pouco
mais de 4 mil moradores. Inaugurado em setembro de 2004, o centro de
acesso gratuito à internet vinha ganhando a adesão da população local,
mas acabou fechando em julho de 2005. A pressão da associação de
moradores contribuiu para que o projeto fosse retomado há dois meses.
Atualmente, atende a pouco mais de mil pessoas mensalmente e funciona
na Casa do Oleiro, instituição que visa promover a inclusão social por
meio de medidas sócio-educativas. Ela sobrevive com a colaboração de 17
voluntários e o apoio da Secretaria de Assistência Social e de
organizações da sociedade civil, como a Associação Metodista de Ação
Social (AMAS) e a Igreja Comunidade Cristã Videira.
Entre os serviços prestados gratuitamente na casa, há atendimentos
terapêuticos, reforço escolar, prevenção e tratamento de dependentes
químicos, além de oficinas de música, dança, culinária e pintura.
Mantida pela prefeitura, a sala do telecentro conta com sete
computadores e um assistente, para orientar os usuários no uso dos
equipamentos.
O acesso à internet, disponível diariamente das 9h às 17h, é livre a
pessoas de todas as idades. Somente as crianças com menos de dez anos
são obrigadas a navegar acompanhadas de um responsável. Com o objetivo
de atrair a parcela jovem e adulta à margem do mercado profissional, os
coordenadores promovem oficinas gratuitas de informática, nas quais
ensinam, por exemplo, o processo de elaboração de um currículo ou a
procurar emprego na rede.
Cozinheira da Casa do Oleiro há um ano e meio, Creuza Serafim, de 33
anos, nascida e criada nas redondezas, ajuda a divulgar o projeto na
comunidade. “Falo sobre o telecentro na igreja, na Associação de
Moradores. Muitos ficam interessados em acessar a internet para dar uma
olhada nos concursos públicos, na esperança de arranjar um emprego”,
conta ela.
Seu filho Lucas Roberto da Silva, de 8 anos, é freqüentador assíduo. Em
casa, não tem a oportunidade de desenhar e escrever em um computador,
assim como a maioria dos que buscam o telecentro. Outro caso bastante
comum é quando o adulto procura o telecentro para aprender a lidar com
o computador, pois os filhos não têm paciência para ensinar. “É uma
parceria muito importante. O projeto do telecentro vem ao encontro das
necessidades da comunidade”, diz a coordenadora da Casa do Oleiro,
Jaqueline Almeida.
Software livre
Os telecentros têm conselhos
gestores comunitários.
A opção pelo software livre Linux em vez do Windows, além de evitar
transtornos com vírus, representa economia aos cofres municipais de
quase R$ 30 mil em cada unidade. No entanto, essa espécie de folga
orçamentária não faz com que as dificuldades em manter o projeto
diminuam. Para colocar em prática as oficinas no telecentro de
Piratininga, a boa vontade dos coordenadores e da sociedade civil tem
sido fundamental.
“Conseguimos a impressora graças a uma doação. Eu comprei as folhas
para imprimir os currículos dos alunos, e a Jaqueline comprou os
cartuchos de impressão. Vamos caminhando na base da cooperação”, revela
o coordenador do telecentro de Piratininga, o pedagogo Márcio Ferreira.
“O esforço vale a pena. É gratificante quando o aluno aprende conosco e
passa a freqüentar o projeto”, completa.
Depois de colocar os 21 telecentros em funcionamento, a prefeitura de
Niterói vai estudar, através de uma parceria com o governo federal, a
implantação de mais duas unidades, em 2007.
http://www.telecentro.niteroi.rj.gov.br– Site sobre os telecentros de Niterói
www.cdi.org.br/inst/port/med.htm – Mapa da Exclusão Digital (IBGE)