Crianças e adolescentes com deficiências mentais aprendem e se exercitam no telecentro do Instituto Gabi.
A aparência é de um container, situado numa rua quase sem saída,
no bairro Santa Catarina, zona sul da cidade de São Paulo. De um lado,
a Vila Mascote, área nobre onde campeia a especulação imobiliária. De
outro, o complexo Alba de favelas — Água Espraiada, Buraco Quente,
Vietnam. No antigo prédio comercial adaptado para atender crianças e
jovens com deficiências mentais, funciona o Instituto Gabi, organização
civil sem fins lucrativos criada em maio de 2001, por Francisco e
Iracema Sogari, ele gaúcho e jornalista, ela professora. O casal
decidiu atender jovens portadores de deficiências mentais depois de
perder a filha Gabriele, atropelada aos seis anos de idade.
Não é fácil, nem barato, o dia-a-dia nas instalações que ocupam 740
metros quadrados, distribuídos por três andares. As despesas mensais
são de R$ 18 mil, dos quais 40% vêm da prefeitura paulistana; 30% de
eventos (jantares, bingos); 20% são arrecadados com o bazar social
realizado três vezes por semana com material doado; 10% de doações
individuais. Só o aluguel consome R$ 4,5 mil por mês. A equipe de
atendimento tem 13 pessoas, sete em regime CLT, seis autônomos.
A instituição poderia até dispor de mais recursos, não fosse a
lentíssima operação do Fundo Municipal da Criança e Adolescente, do
qual depende a aprovação de projetos para receber doações privadas.
“Até o dia 22 de agosto, o fundo sequer tinha aberto edital para
inscrição de projetos”, lamenta Francisco.
É graças às contribuições do comércio local (padarias, madeireira) e ao
voluntariado que as atividades do Gabi são menos árduas. São
voluntários desde estagiários de Psicologia, Assistência Social e
Pedagogia, até o “pessoal” de informática.
No telecentro, onde a garotada atendida pelo Instituto aprende noções
de cores e exercita a coordenação motora, o bancário aposentado Antonio
Carlos Mendes é instrutor. Em seu primeiro dia no Instituto Gabi,
quando se deparou com um público constituído, em larga maioria, por
portadores de Síndrome de Down e paralisia cerebral, Antonio Carlos foi
tomado pelo “pavor”, segundo suas palavras. Hoje, utiliza games,
quebra-cabeças, corridas de automóveis e figuras geométricas para
auxiliar o desenvolvimento de crianças com necessidades especiais.
O telecentro teve duas fases, conta Francisco. A primeira resultou de
convênio com o Comitê para a Democratização da informática (CDI), em
2003. Mas a estruturação ocorreu em maio de 2004, quando recebeu a
doação de 11 computadores usados do Banco do Brasil. Porém, hoje são
ministrados cursos regulares de Office e internet, com mensalidade de
R$ 20,00. O telecentro já certificou 350 pessoas.
O forte do Instituto Gabi, no entanto, é o atendimento de 56 crianças e
adolescentes portadoras de deficiências mentais, com idades de 4 a 18
anos. Cerca de dez freqüentadores do Gabi usam o Atende, serviço de
transporte especial da prefeitura municipal de São Paulo. “É uma
população de baixa renda que vem de bairros vizinhos”, informa
Francisco. Além disso, esperam atendimento de 130 a 140 famílias
encaminhadas ao Gabi pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(Apae) ou pela Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD).