Divergências provocam a quebra da parceria com a prefeitura de São Paulo.
João Marcondes
Oficina do Meta, em Brasília,para
o Casa Brasil.
O Metareciclagem, movimento que pretende popularizar o conhecimento
tecnológico, por meio de oficinas e formação de redes entre telecentros
e outros projetos de inclusão digital, abandonou seu quartel-general na
capital paulista. Localizado na Galeria Olido, no coração do centro de
São Paulo, o projeto perdeu sua base. Suprapartidário, sem a
constituição formal de uma OnG e desvinculado de projetos
governamentais, o Meta sucumbiu “às pressões oficiais”.
É o que explica Dalton Martins, um dos seus coordenadores. “Vínhamos
sofrendo um stress por parte da prefeitura e decidimos sair”,
justifica. Cerca de 150 máquinas e equipamentos foram retirados da
Galeria e acomodados provisioriamente em um depósito. Entre as
premissas do Metareciclagem estão: questionar a obsolecência dos
equipamentos forçada pelo mercado e as tecnologias massificadas, além
de promover o desenvolvimento do software livre, sempre com a intenção
de fortalecer as redes de saber compartilhado. Nasceu há três anos, com
uma política de esporos, ou seja, de disseminar o conhecimento para
várias regiões do país, se possível do mundo. A atividade símbolo do
movimento é o trabalho com computadores aparentemente “sem serventia”.
A parceria com a prefeitura de São Paulo residia, basicamente, na
cessão do espaço na Galeria Olido, onde o Meta se estabeleceu há pouco
mais de dois anos. Os problemas começaram no início deste ano, na
gestão de Élcio Luiz Figueiredo na coordenação do programa Telecentros,
vinculado à Secretaria Municipal de Participação e Parceria. Segundo
Dalton, o Meta começou a sofrer ingerências. Por exemplo, com a
inclusão forçosa de cursos sobre tecnologias proprietárias, oferecidos
por empresas fornecedoras, como IBM (que também trabalha com software
livre) e Lexmark. “E éramos questionados por não termos CNPJ e coisas
do tipo”, comenta Dalton. O problema-chave, contudo, é conceitual.
“Nosso projeto é mais gradual, visamos a qualidade, a formação das
pessoas, em vez da quantidade”.
Holanda
A coordenação do programa Telecentros da prefeitura de São Paulo ganhou
novo titular em abril, em meio à transição política (o prefeito José
Serra saiu para disputar, em tese, o governo do estado, substituído
pelo vice, Gilberto Kassab). No lugar de Élcio, assumiu Maria Inês
Fornazaro, que, segundo sua assessoria, prefere não comentar o assunto.
Os esporos do Metareciclagem já chegaram ao Rio de Janeiro, à Bahia, ao
Distrito Federal e ao Rio Grande do Sul, entre outros. Foi firmado até
um intercâmbio com um grupo holandês, focado em pesquisa para
tecnologia social, a despeito do caráter informal do Metareciclagem. Os
equipamentos com que o movimento trabalha na Olido servem a projetos de
várias prefeituras e outras esferas governamentais. E foram doados por
diversos apoiadores à OnG Sampa.org, parceira do Metareciclagem. Entre
os destaques nesses anos na Olido estão: oficinas de metareciclagem;
desenvolvimento de um robô com motores de floppy drives (os antigos
leitores de disquete); atendimento técnico a Pontos de Cultura;
montagem de instrumentos musicais com peças de computadores, etc.
http://oca.idbrasil.org.br/wiki/implementadores/index.php/
Caub_Agrourbano_Ip%C3%AA
• Para ler depoimentos de alguns oficineiros do Metareciclagem.