Telecentros – Os leitores internautas de Brasília

Levantamento mostra os efeitos positivos de unir, no mesmo espaço, telecentros e bibliotecas. Crescem as visitas às estantes, que, por sua vez, passam a contar também com o acervo de consulta disponível na web.


Levantamento mostra os efeitos
positivos de unir, no mesmo espaço, telecentros e bibliotecas. Crescem
as visitas às estantes, que, por sua vez, passam a contar também com o
acervo de consulta disponível na web.
  Fernando Couto


A união de livros e acesso à internet no mesmo ambiente, concentrando
assim dois canais estratégicos para acesso ao conhecimento, vem
aumentando – e muito – a freqüência da população de Brasília nas
bibliotecas públicas equipadas com telecentros comunitários, desde
2004, quando a Secretaria de Cultura do GDF iniciou a instalação dessas
unidades nas cidades de sua periferia.

A autora do projeto original de Inclusão Social para a Rede de
Bibliotecas Públicas do DF, apresentado em 2004 – a diretora de
bibliotecas da Secretaria, Graça Pimentel – acompanha de perto o
processo de inclusão digital e vem monitorando com entusiasmo e muitos
números o seu crescimento.

Para se ter uma idéia, no DF, dentre seus 2 milhões de habitantes,
31,6% possuem computadores em suas residências e 22,6% têm acesso à
internet, conforme pesquisa do GDF. O resto, nem pensar, a não ser via
cibercafés ou assemelhados, ao preço de R$ 5,00 ou R$ 6,00 a hora. Os
espaços das bibliotecas formam o ambiente mais favorável para a
instalação do projeto, tendo em vista a demanda existente e o
crescimento de sua freqüência. Em 2004, registrou a passagem de 578.242
usuários nas 20 unidades então existentes nas diversas regiões
administrativas.

Além dos seis telecentros já em operação nas diversas cidades satélites
do Distrito Federal, a Diretoria de Bibliotecas da Secretaria
conseguiu, neste fim de ano, aprovar uma parceria com a Secretaria de
Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social do Ministério da Ciência e
Tecnologia, que vai investir neste ano R$ 1 milhão na implantação de
telecentros, equipados com software livre, em todas as 22 bibliotecas
públicas da rede.

Além dessas 22 bibliotecas, há previsão de instalação de mais três
novas unidades. E o projeto tem, entre uma de suas principais metas,
ele­var o índice de freqüência nas bibliotecas públicas em 50%,
proporcionando atendimento em todas as unidades para 38 mil pessoas/mês
aproximadamente, diz Graça. O que significa chegar a quase 1 milhão de
usuários – entre 840 mil e 870 mil por ano. Os telecentros a serem
instalados serão uma das ferramentas para isso. Segundo Graça, os
processos de licitação estão sendo preparados e, em breve, terão início
os cursos para a formação dos primei­ros monitores em software livre
Linux, rede e suíte de escritório.

Entre as cidades brasileiras com maior número de leitores está
Brasília, com 69%, seguindo-se Salvador, com 47%, Rio de Janeiro, com
43%, Porto Alegre, 39% e São Paulo, com 36%, segundo dados por ela
levantados no Ministério da Cultura. Além das 22 bibliotecas públicas,
Brasília possui 602 escolas públicas com salas de leitura e 18
bibliotecas comunitárias. Além, lógico, da Biblioteca Demonstrativa de
Brasília, Federal, a primeira em freqüência, (saiba mais),
que funciona em três turnos, diariamente.

Quem são eles?

Mas afinal, quem é no DF que procura os telecentros? Quais suas
demandas, seus caminhos de busca e encontro, seu perfil, sua face? A
professora Graça, em busca destas e outras perguntas, está fazendo uma
documentada pesquisa sobre os hábitos dos usuários de telecentros no
DF, que estará pronta em breve.

Em linhas gerais, ela revela que é uma nova tribo, nem tanto apenas uma
nova geração, mas com uma característica única e comum – é um pessoal
que quer, porque quer, aprender a descobrir e a partilhar. “É em busca
de luz, de esclarecimento e conhecimento que eles vão, todo dia, chova
ou faça sol”, diz ela. Por isso é difícil acompanhar a demanda,
admitindo que 55 minutos é pouco para quem quer aprender.

De acordo com Graça, os seis telecentros atendem, por dia, uma média de
400 pessoas. São principalmente do sexo masculino, jovens e adultos,
sem predominância de uma determinada faixa etária fixa. Na maioria,
possuem 1º e 2º grau e são oriundos da comunidade em geral, sendo os
residentes nas proximidades os mais assíduos.

Não há um horário específico de pico de utilização das máquinas, as
salas ficam cheias o dia todo, até o fim do expediente, inclusive à
noite, como é o caso da unidade do Gama. Os sites mais procurados, de
acordo com a pesquisa, são os de informações sobre serviços públicos de
utilidade para o cidadão, como pagamento de impostos, concursos
públicos, oferta de empregos, onde tirar documentos, onde fazer
matrículas, o serviço de correio eletrônico e mapas  regionais ou
locais. Dentre os mais procurados sites estão o Google, o Cade, o Uol,
o Yahoo, o Ig e outros menos votados.

Segundo ela tem observado entre os usuários, são as barreiras sociais
que os levam aos telecentros. As barreiras sociais à inclusão digital
incluem preços de equipamento e de softwares, disponibilidade e custo
de conexões e de provedores de serviços, além de fatores educacionais e
culturais, associados à concentração de renda e baixo poder aquisitivo.
O grupo mais pobre da população não tem recursos para comprar um
computador e, menos ainda, para pagar uma conta de um provedor de
internet. Os componentes não-tecnológicos – educacionais, culturais e
comportamentais – são tão relevantes quanto o custo da infra-estrutura
de Tecnologia de Informação.

A pirâmide social aí, no caso, não é mais uma pirâmide, é um obelisco.
Assim, os telecentros são, hoje, no DF e em outros pontos do país, um
centro de convergência e convivência no espaço cultural, servindo à
comunidade. Se o livro não existe na biblioteca, a pessoa corre para o
computador. Na opinião da pesquisadora, a internet gratuita é uma forma
supermoderna de atrair o jovem para o consumo de bens culturais e
informacionais, tirando-o, assim, da rota de situações de risco e do
ócio dos sem-teto, por exemplo.

Em sua maioria, os usuários descobrem os telecentros pelo processo
boca-a-boca dos amigos e colegas, na escola, pela mídia, principalmente
pelos jornais comunitários e muito, mas muito mesmo, pelas rádios
comunitárias e em suas respectivas igrejas. E acham 55 minutos muito
pouco para o que pretendem de cada vez. “Em suma, o casamento das
bibliotecas com os telecentros é um sucesso total em Brasília e vem
fortalecer a democratização da informação e do conhecimento com os
novos recursos tecnológicos, levando diretamente à inclusão social e à
cidadania”, finaliza Graça.