Telecentros – Tecnologia para romper o isolamento

Alunos do MIT unem-se a universitários da USP e a alunos da Fundação Bradesco em Canuanã, no Tocantins, para buscar tecnologias capazes de melhorar a vida da população. 

Alunos do MIT unem-se a universitários
da USP e a alunos da Fundação Bradesco em Canuanã, no Tocantins, para
buscar tecnologias capazes de melhorar a vida da população.
  Verônica Couto


As crianças são maioria no CID dos Javaé.

Durante 11 dias, em janeiro, uma equipe do Massachusetts Institute of
Technology (MIT) juntou-se a alunos e professores da Escola Politécnica
da USP e da Fundação Bradesco para aplicar tecnologias sociais –
rápidas, fáceis e baratas – em comunidades de Canuanã, nas margens do
rio Javaés, a 60 km de Formoso do Araguaia, no Tocantins. Muitas deram
certo, como a adaptação de um teclado ao idioma Iny, falado pelos
índios Javaé; outras menos, como a tentativa de formar cooperativas
para produção de mel. Todos os projetos, contudo, segundo os
coordenadores dessa força-tarefa multidisciplinar, enfrentam o
obstáculo da falta de articulação comunitária.

Para tentar fixar o desenvolvimento local, uma das missões dos alunos
da Fundação em Canuanã, durante este ano, será estimular a criação de
uma rádio comunitária para integrar índios, assentados e ribeirinhos. E
a Fundação, que já mantém um telecentro – CID-Centro de Inclusão
Digital – numa das aldeias Javaé, vai abrir outra unidade no entorno da
escola, desta vez em um dos assentamentos. “A dificuldade de
comunicação é um problema grave”, aponta Cícero Ramos dos Santos,
médico na escola da Fundação em Canuanã e coordenador dos alunos do
ensino médio que integram o grupo. “Formoso do Araguaia é uma área de
13,5 mil quilômetros quadrados, de baixa densidade populacional (20 mil
habitantes), pobre e onde as pessoas não sabem ou não costumam atuar de
forma colaborativa”, descreve.

A parceria da Fundação com o MIT começou no início de 2005, com a
primeira visita de equipe do D-Lab, laboratório de desenvolvimento do
instituto, para diagnosticar problemas locais. Agora, os pesquisadores
voltaram para aplicar as tecnologias consideradas úteis nas
comunidades, em conjunto com os alunos da Fundação e mais cinco
universitários da Escola Politécnica da USP. A principal preocupação de
Stephanie Dalquist, coordenadora da missão do D-Lab, é com a
apropriação dos projetos pelas comunidades, depois que os pesquisadores
se forem. “Não podemos resolver as dificuldades locais só com
tecnologia”, afirma ela.

De um lado do rio Javaés, braço do Araguaia, está a reserva indígena da
Ilha do Bananal – e a aldeia Canuanã, com 400 índios e a maior das 11
que reúnem 1,4 mil Javaé na ilha. Desde janeiro de 2005, conta com o
CID, equipado com dez computadores e web. Para o diretor-assistente da
escola da Fundação Bradesco em Canuanã, Edilson Maranhão Viana, o novo
CID previsto para os assentamentos deve ter um impacto mais efetivo do
que a unidade da aldeia indígena, onde, na sua opinião, “a disciplina
própria dos índios” nem sempre se adapta aos modelos do projeto. “É
preciso respeitar a cultura”, afirma.


Haburunatxu: escrever
o significado das pinturars.

Dois professores índios (Olavo Lohaware Javaé e Josivaldo Fediuare)
estão sendo capacitados por alunos da Fundação Bradesco para atuarem
como monitores. E um professor de informática da Fundação dá cursos de
iniciação aos aplicativos cedidos pela Microsoft. Um dos usuários mais
assíduos do CID é Edilson Haburunatxu Javaé, professor na escola
pública da aldeia, interessado, no momento, em produzir material
didático bilíngüe, em português e no idioma dos Javaé, o Iny
(pronuncia-se Inã). Haburunatxu quer escrever um livro com os
significados das mais de 20 pinturas corporais utilizadas pelos índios.
Foi principalmente por causa dele que os jovens do grupo
Fundação/Poli/MIT resolveram criar o teclado bilíngüe. Conseguiram pela
internet um programa de configuração do teclado, alterado para permitir
acentuar no idioma Iny – por exemplo, o til sobre o y.

No CID da aldeia Javaé, houve avanços no uso do computador para uso
escolar e registro cultural. Mas a conexão à internet ainda parece
sub-utilizada. Mesmo o cacique da tribo, Terrambi Javaé, não freqüenta
o espaço, onde predominam as crianças. “Para que serve a internet? Para
as crianças aprenderem; para terem alguma coisa igual do branco”, ele
responde. O maior problema da tribo, segundo Terrambi, é a saúde, e ele
ainda não vê como a rede pode apoiá-la.

Assentamentos desarticulados

A saúde não é uma área crítica apenas para os índios. Na outra margem
do rio Javaés, estão cerca de 200 famílias nos assentamentos Mata Azul
e Caracol. Os assentamentos existem desde 1996, e abrigam ex-moradores
da Ilha do Bananal, expulsos na demarcação da reserva. As casas
financiadas pelo Incra não têm banheiro, esgoto, nem água tratada. A
luz elétrica só chegou em 2005. Alguns assentados construíram fossas ou
banheiros de tijolos, mas a menos de 15 metros, recomendados pela saúde
sanitária, das cisternas.

O risco de que as tecnologias não ganhem escala nem produzam resultados
coletivos também está na agenda do diretor-assistente da escola da
Fundação Bradesco em Canuanã. Edilson Viana espera que a instalação do
CID em área de assentamento possa fortalecer o cooperativismo. E
destaca a importância da proposta da rádio comunitária. “Atualmente, um
dos programas da Rádio Anhangüera, de Goiânia, serve, exatamente, para
passar recados às pessoas. O filho vai no orelhão, liga para a central da rádio, passa o recado, e o pai ouve pelo radinho, que pega até na Ilha do Bananal”, conta.

O coordenador dos alunos da Escola Politécnica da USP e também do
programa Poli Cidadã, professor Samuel Márcio Toffoli, afirma que
várias das iniciativas disparadas pelo MIT serão acompanhadas ao longo
de 2006, com o apoio de videoconferências. Entre elas, os trabalho com
a língua Iny. Os alunos da Fundação também descobriram a wikipedia
(saiba mais). E já se cadastraram para atualizá-la com dados da
sua região. O laboratório de informática da escola de Canuanã tem 25
computadores; o CID, dez. A conexão em banda larga é mantida pela
Fundação, via satélite.


Uma rede nacional

A Fundação Bradesco vai abrir mais dez CIDs, em 2006, completando uma
rede de 50 espaços para educação não-formal e acesso gratuito à
internet. De acordo com Nivaldo Marcusso, gerente de tecnologia da
Fundação, a partir deste ano, será oferecida, com ferramentas de
educação a distância, uma capacitação nos CIDs para formação de
lideranças sociais, por meio da Fundação Mário Covas. A idéia, segundo
Nivaldo, é articular alunos das escolas da Fundação, das comunidades
atendidas pelos CIDs  e universidades para desenvolver uma rede de
inclusão social.

Atualmente, já são 40 escolas e 40 CIDs, além das novas unidades, que
também serão piloto de outros modelos tecnológicos. Por exemplo, há a
possibilidade de utilizar PDAs e conexões sem fio, em parceria com
Intel, Cisco, Comsat e Embratel. Ou usando o PIC, dispositivo de baixo
custo, oferecido pela AMD e pela Telefônica. A Fundação completa 50
anos em 2006. Até o momento, já foram investidos US$ 600 mil no
projetos dos CIDs, envolvendo as parcerias com Microsoft, Cisco, Intel
e Museu de Ciências de Boston. O custo médio de cada CID é R$ 30 mil,
sem contar suporte e conectividade. O acesso à internet usa a rede da
própria Fundação, cujo gerenciamento, inclusive controle de acesso a
páginas e conteúdos, é centralizado em Osasco (SP). Há filtros
pré-configurados (para bloquear, por exemplo, propagação de vírus e
temas como racismo ou pornografia), mas Nivaldo garante que as
ferramentas são flexíveis e podem ser configuradas de acordo com as
necessidades locais.


www.fb.org.br
• Fundação Bradesco

www.fmcovas.org.br • Fundação Mário Covas



www.cid.org.br
• Rede de Centros de Inclusão Digital da Fundação Bradesco. Entre na
seção Destaques para acompanhar o diário de bordo do projeto com o MIT.

www.fb.org.br/indigena • Portal indígena da

Fundação Bradesco

http://web.mit.edu/d-lab • D-Lab ou International Development Initiative, do MIT.