
Produção independente, com trabalhos colaborativos: são os midialivristas, que se espalham pelo país. Anamárcia Vainsencher
ARede nº75, novembro de 2011 – Conectar atores da cadeia cultural independente via internet e desenvolver um modelo de gestão cultural que fortalece e democratiza o conhecimento produzido pela rede. Essas são as grandes linhas de contribuição do Centro Multimídia Fora do Eixo para a sociedade, nas palavras do coordenador de comunicação do Centro, Rafael Rolim. Ele acredita que a possibilidade de conectar, de fato, “pequenos atores em prol de grandes ações”, a partir de ferramentas virtuais e digitais, aproxima cada vez mais os indivíduos. E acrescenta: “É importante olhar cada indivíduo, cada cidadão, cada jovem, como produtor de conteúdo de comunicação”.
O Circuito Fora do Eixo (CFE), com mais de 90 pontos no Brasil, é uma rede concebida, no final de 2005, por produtores culturais de várias regiões do país. Começou com uma parceria entre produtores de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR), que queriam estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologias de produção e o escoamento de produtos culturais. A partir do Congresso Fora do Eixo, realizado em 2008, a rede entra em franco processo de ampliação e expande o foco do segmento musical para toda a área cultural. Assim, passa a incentivar o pensamento e a troca de tecnologias e serviços para os setores de audiovisual, artes cênicas e visuais, e educação socioambiental. A ideia era que as experiências acumuladas em circulação e distribuição poderiam ser aplicadas para qualquer tipo de produto cultural.
Hoje, o Fora do Eixo é uma rede nacional de coletivos culturais, chamados Pontos Fora do Eixo. Há 71 Pontos, distribuídos por 25 estados, número que tende a crescer ainda em 2011. Esses coletivos são responsáveis pelas ações locais e pela integração às ações estaduais, regionais e nacionais em diversas frentes de trabalho. Sempre com o propósito de “consolidar a cadeia produtiva da cultura independente e autoral por meio da circulação e da distribuição de bens culturais, e da produção de conteúdo midiático para comunicar e registrar o avanço desse trabalho”.
O Centro Multimídia Fora do Eixo reúne agentes da cadeia de produção cultural independente, que se conectam em trabalhos colaborativos de abrangência nacional com um objetivo principal: gerar novos agentes “midialivristas” por meio de atividades de formação, registro e veiculação, exibições e transmissões ao vivo e mostras de conteúdo audiovisual. Realiza transmissões ao vivo, em áudio e vídeo, para promover maior acesso à programação dos festivais de música e artes integradas independentes.
Nos últimos dez meses, até julho, mais de cem eventos foram transmitidos ao vivo, tanto pela web radio, quanto pela web TV. A Rádio Fora do Eixo veicula podcasts de Pontos Fora do Eixo, como o Programa Reator (Goiânia-GO), o Loaded-Ezine (São Paulo-SP), o Independência ou Marte (São Carlos-SP), entre outros eventos.
A TV Fora do Eixo é uma ferramenta de produção e veiculação de conteúdo audiovisual que se hospeda em sites como YouTube, Google Video e Vimeo. A TV mostra as ações realizadas pelas organizações do CFE e investe na formação de grupos de produção audiovisual ligados à cena independente de música.
São visíveis os impactos do projeto Fora do Eixo nos locais onde atuam os coletivos. Aumentou não só o público consumidor de cultura independente, como a quantidade de artistas e grupos autorais. Cresceram também as parcerias regionais com universidades públicas e privadas. E surgiram, nos locais, novos veículos de informação, especialmente os online livres (web rádios, web TVs, revistas eletrônicas etc.) dedicados aos temas cultura, comunicação livre e economia solidária.
Em 2009, cada um dos 50 Pontos Fora do Eixo teve receita média de R$ 200 mil, o que resultou em um orçamento da rede de R$ 10 milhões. Nesse valor estão incluídos recursos oriundos de captação privada, geração de renda própria e investimento em trabalho voluntário. Daquele orçamento, cerca de 20% são destinados direta ou indiretamente ao Centro Multimídia, o equivalente a R$ 2 milhões, em 2009. Outras fontes de recursos vêm da participação em editais de incentivo à cultura, economia solidária e tecnologias sociais; de patrocínios de empresas privadas; de recursos próprios, obtidos na realização de eventos culturais (bilheteria e bar), da venda de produtos culturais (CDs, livros, roupas, acessórios, camisetas etc.), palestras, shows musicais; e do Fora do Eixo Card – moeda destinada à troca de serviços e produtos entre coletivos e parceiros para manutenção de seus trabalhos.
foradoeixo.org.br
{jcomments on}