A comunicação que transforma
O portal do NPC não só informa, mas potencializa a formação cidadã e a difusão do ativismo político
Patrícia Benvenuti
ARede nº 94 – especial novembro de 2013
Comunicação e ativismo político são indissociáveis. Desde sempre, panfletos, fanzines, jornais têm contribuído para difundir mensagens e debater ideias. Com a internet, gerar e distribuir informações não são mais desafios. E é aproveitando esse cenário favorável que o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) investe em tecnologia, com o objetivo de ampliar e aprofundar o alcance de suas ações.
Em julho, a organização, idealizada por um coletivo da sociedade civil em 1992, inaugurou uma nova página de internet. Não foi apenas uma atualização do visual. O portal reforçou os conteúdos e a interatividade, valorizando as imagens, os vídeos e os canais nas mídias sociais. Desenvolvido na plataforma livre e gratuita WordPress, substituiu o antigo sistema Active Server Pages (ASP). Segundo a jornalista do NPC Sheila Jacob, a nova ferramenta também dá mais agilidade e autonomia aos administradores: “Diariamente, mudam as imagens e as chamadas; agora a página tem mais movimento”. Os leitores podem comentar, compartilhar matérias e se inscrever para receber o boletim informativo do Núcleo, que hoje é enviado a mais de dez mil assinantes. A média é de 280 visualizações diárias.
O portal é um espelho da atuação do Núcleo Piratininga de Comunicação, que surgiu quando os jornalistas Claudia Santiago e Vito Giannotti reuniram suas experiências na comunicação sindical. No começo dedicado exclusivamente ao mundo trabalhista, com o tempo o NPC ampliou a abordagem para outros temas importantes para a sociedade, como moradia e cultura. A premissa da iniciativa é a crença no poder político da comunicação. “Sem a comunicação é impossível qualquer mudança social”, enfatiza.
A manutenção do portal, que divulga notícias produzidas pelo Núcleo e por veículos parceiros, é uma das frentes da organização, sediada no Rio de Janeiro (RJ). Mas o NPC atua fortemente na formação de jovens e adultos, por meio de cursos de comunicação popular. Contratados por sindicatos, os profissionais do NPC viajam a diferentes cidades para promover as capacitações – que garantem a sustentabilidade do projeto, junto com a produção e comercialização de publicações com a temática de organizações sindicais. O NPC mantém quatro jornalistas fixos e três colaboradores de outras áreas do conhecimento.
O Núcleo também promove, desde 2004, um curso anual gratuito para moradores de bairros de periferia do Rio. A cada turma, cerca de 40 jovens são capacitados em redação, oratória, história e internet. A média de idade é de 20 anos, mas há estudantes de 15 e até de 70. A parceira dessa ação é a Fundação Rosa Luxemburgo, que entra com os recursos, e diversos sindicatos, que oferecem o espaço físico para as aulas. Sheila conta que grande parte dos alunos já está envolvida em algum tipo de atividade política. A ideia do curso é estimular os jovens a usar os dispositivos de comunicação em favor de sua militância. “Todos somos comunicadores em potencial, não precisa ser um iluminado”, observa a jornalista.
A politização é uma das consequências do que acontece nas salas de aula. Rita Lima, de 35 anos, participou de uma turma de comunicação em 2009 por indicação de uma professora da faculdade de Serviço Social. O contato com lideranças de diferentes comunidades teve efeitos importantes em sua vida: “O curso abriu meus olhos para o mundo e me deu consciência política”, diz. O aprendizado em comunicação também vem rendendo frutos. Rita juntou-se a uma colega de profissão e criou um blog para seu projeto “Sou Visível”, cujo objetivo é tratar da invisibilidade social de pessoas em situação de rua.
Os integrantes do NPC utilizam as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) para potencializar novos formatos de jornalismo, como as coberturas colaborativas. Munidos de equipamentos eletrônicos como notebooks, câmeras e celulares, os profissionais do Núcleo vão às ruas cobrir desde protestos até assembleias de professores. Tudo entra ao vivo no site, por meio do TwitCasting Live, aplicativo que permite o compartilhamento de filmagens na rede. Algumas transmissões têm participação de estudantes dos cursos de comunicação popular, incentivados a usar as ferramentas disponíveis. “Vale celular com câmera, máquina fotográfica que filme. A proposta é estimular a comunicação popular mesmo”, relata Sheila.
Outros conteúdos de destaque na página do NPC são os debates das Quintas Resistentes, realizados na Livraria Antonio Gramsci, mantida pelo NPC. Os programas levantam questões relacionadas a ditadura, resistência e direitos humanos. Testemunha daquele período, a assistente social Maria Cristina Braga, de 60 anos, é uma assídua web-espectadora: “Não que superem a participação in loco, mas as transmissões ampliam a possibilidade de acesso”.
Na opinião de Claudia Santigo, as organizações sociais ainda têm muito que descobrir sobre as oportunidades oferecidas pela internet, sobretudo as redes sociais. Como exemplo, ela cita a campanha “Cadê o Amarildo”, idealizada para cobrar notícias sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, em julho deste ano, na Rocinha. Impulsionada pelo NPC, a campanha teve enorme repercussão no Twitter e no Facebook. “Você não está brincando ali, está utilizando essas ferramentas como divulgadoras de notícias”, ressalta ela.
Ex-aluno do curso do NPC, o protético dentário e estudante de Ciências Sociais Eric Fenelon, de 31 anos, aponta o caráter democratizante das TICs, que dão voz a diferentes atores sociais. “É libertador você conseguir desmentir o que está passando na televisão”, diz o jovem, que este ano se tornou monitor do Núcleo. Para o futuro, Fenelon quer construir em Niterói, onde vive, um projeto semelhante ao NPC, focado em comunicação e educação popular.