A vida das ONGs ficou mais fácil
Os softwares são desenvolvidos para resolver as principais carências de organizações do Terceiro Setor Luciana Machado
ARede nº75, novembro de 2011 – Boa parte das organizações não governamentais enfrenta dificuldades para tocar seu próprio negócio. A falta de ferramentas eletrônicas sob medida para gerenciar seus projetos, controlar os gastos e organizar a rotina de atividades torna o dia a dia trabalhoso. Em vez de se dedicar à causa e promover as mudanças sociais que a população tanto precisa, muitas organizações sociais se perdem em seus processos. Foi a partir dessa preocupação que surgiu o Mootiro Vote, um projeto do Instituto de Fomento à Tecnologia do Terceiro Setor (IT3s), que tem como objetivo a criação de ferramentas eletrônicas de apoio a ONGs.
O processo é simples e colaborativo: as organizações apresentam suas necessidades pelo site. As melhores e mais requisitadas são desenvolvidas gratuitamente pela equipe do Mootiro Vote. “As pessoas não imaginam a importância desse tipo de iniciativa para o terceiro setor”, diz Ciça Lessa, da Rede Andi Brasil, instituição sem fins lucrativos que se empenha para trazer a infância e a adolescência para agenda da mídia e dos governantes.
Ciça revela dificuldades comuns a boa parte das ONGs: raramente tem-se dinheiro para contratar um especialista em tecnologia. Além disso, os softwares gratuitos disponíveis na internet nem sempre atendem suas necessidades. “Uma organização como a Andi – com dez unidades espalhadas pelo país – exige um controle parecido com o de uma média empresa”, explica.
A verdade é que poucos desenvolvedores se interessaram por ferramentas para esse setor. É um nicho relegado a segundo plano pelos programadores. “Faltam opções às instituições que desejam melhorar seus processos”, relata Daniela Mattern, coordenadora do Mootiro Vote. A carência de tecnologia, segundo Daniela, leva muitas ONGs a desistir de seus projetos, uma vez que não sabem angariar recursos, cruzar dados e motivar seus voluntários.
Os aplicativos do Mootiro Vote são baseados em software livre e desenvolvidos por cinco profissionais em parceria com as organizações. A primeira ferramenta criada resolveu o problema do gerenciamento de formulários, documentos, ofícios e comprovantes. “Ter tudo isso ao alcance de um clique torna os processos mais transparentes e economiza um tempo precioso que as instituições podem usar para ações mais importantes”, diz Daniela.
O Mootiro Vote mapeou dez necessidades para as quais deve se dedicar pelos próximos anos. Estão previstos um aplicativo de gestão para bibliotecas e um sistema para cadastro de educandos. As ferramentas mais votadas no site terão prioridade no desenvolvimento. O processo acontece com muita troca de informações. Os beneficiados avaliam a ferramenta várias vezes, dão palpites. Os desenvolvedores transformam a tecnologia em facilidade.
Em pouco menos de dois anos, desde que foi criado, o Mootiro reuniu cerca de 1.400 ONGs. É difícil saber quantos se beneficiaram pelo projeto. “Podemos contar na casa dos milhares, pois os efeitos vão além do profissional que manipula a máquina”, conta Daniela. O Mootiro Vote é mantido por um empresário estrangeiro que se mantém anônimo.
Daniela nasceu na Alemanha e conheceu o Brasil em um programa de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), há oito anos. O que era para ser um breve intercâmbio de mestrado se tornou uma causa permanente, um projeto ao qual a alemã, que já fala o português com fluência, se dedica todos os dias de sua vida. Daniela começou seus trabalhos sociais no campus da USP, ao se deparar com crianças catadoras de latinhas. Inicialmente ajudava nas lições de casa, dava reforço em português e matemática. Foi a partir desse trabalho que surgiu seu primeiro projeto social, o Alavanca, que ajudava pais e filhos a gerir seus projetos.
Daí para o Mootiro Vote foi um passo pequeno. Afinal, ao lidar com uma ONG no Brasil, Daniela passou a compartilhar as mesmas carências das demais organizações. Daniela notou que a falta de acesso a tecnologias emperrava seu trabalho – e minava os efeitos das ações sociais. “Tecnologia para o terceiro setor é mais que necessário, é uma emergência para todos”, afirma.
http://vote.mootiro.org
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