24/11/2010
Do blog de Tiago Dória, no Link
Tim Berners-Lee acionou um alarme. [este link para ARede não está no artigo original]
Segundo ele, o caráter democrático e aberto da internet está ameaçado.
Em artigo na revista Scientific American, o criador da web alerta que empresas estariam, cada vez mais, desenvolvendo “produtos fechados” e “ilhas de informação” (aplicativos e plataformas de redes sociais); governos autoritários, por sua vez, monitorando e restringindo o uso da internet, e provedores de internet, ameaçando favorecer ou desfavorecer um site.
A internet estaria ficando mais fragmentada e menos universal.
Em diversos pontos, o artigo de Berners-Lee pode soar um pouco alarmista para alguns. Constantes pesquisas mostram que as pessoas ainda preferem acessar o conteúdo por meio de navegadores. Além disso, o conteúdo dos aplicativos pode até estar “fora da web”, mas não é exclusivo. Na maioria das vezes, é sincronizado ou replicado da web.
Para entender melhor a repercussão do alerta de Berners-Lee, é necessário saber em que contexto foi publicado o artigo. O artigo não soa como uma resposta à matéria da Wired sobre o fim da web (assunto que, diga-se de passagem, já está superado com a resposta da Technology Review),
mas sim a uma recente declaração de Ed Vaizey, ministro da cultura do Reino Unido. Berners-Lee é britânico. Mora na Inglaterra. Tem o título de Sir. Há uma semana, Vaizey se posicionou a favor de que provedores de internet locais discriminem certos conteúdos, o que vai totalmente contra a ideia de neutralidade da internet, defendida por Berners-Lee.
O conceito de neutralidade da internet parte do pressuposto de que todos conteúdos e serviços web devem ser tratados iguais. Um provedor de internet (operadora de telecom, empresa de TV a cabo), por exemplo, deve ser neutro, não pode favorecer ou desfavorecer um site ou um tipo de serviço (um site de vídeos abrir mais rápido que os dos seus concorrentes). Na segunda-feira, quando o artigo de Berners-Lee foi publicado, rapidamente o político se retratou, chegando a concordar com o criador da web.
Esse debate sobre se a internet está perdendo ou não o seu caráter universal lembra uma teoria que Tim Wu, professor da Universidade da Columbia e um dos principais pesquisadores da internet, comenta em seu recente livro The Master Switch.
Segundo Wu, a internet não é a primeira tecnologia que as pessoas acham ser capaz de mudar tudo para melhor. Sempre quando uma tecnologia surge é comum que, no início, ela seja repleta de teorias otimistas, de profecias positivas e quase utópicas. Normalmente, no início, essas teorias funcionam como uma eficiente ferramenta para vender uma tecnologia.
Ou seja, existe uma sucessão de tecnologias que começaram carregando um caráter otimista e aberto e depois se tornaram sistemas controlados por 3 ou 4 empresas. Com o surgimento do rádio, acreditava-se que o mundo se tornaria uma “grande mente”, pois todos estariam conectados. Não haveria mais monopólios. Enfim, segundo Wu, essa oscilação entre aberto e fechado sempre aconteceu com plataformas de comunicação e de distribuição de conteúdo. Historicamente, é algo comum.
E, com a internet, talvez estivesse acontecendo o mesmo. Ela estaria entrando no mesmo ciclo.
Ou, possivelmente não. Na realidade, a internet seria a primeira a abolir esse tipo de ciclo.
Seria eternamente “aberta e democrática”.
{jcomments on}