Tim Berners-Lee: o Facebook pode fragmentar a web.

O fundador da World Wide Web afirma que algumas das mais bem-sucedidas redes sociais começaram a "corroer" os princípios da internet.

22/11/2010
Tradução livre de matéria do The Guardian

Facebook, LinkedIn e outros serviços de redes sociais representam “uma das ameaças sérias” ao futuro da World Wide Web, afirma seu fundador, Sir Tim Berners-Lee.

Alguns dos “habitantes mais bem-sucedidos” da web, como o Facebook e grandes empresas de telecomunicações, começaram a “corroer” seus princípios fundamentais, escreveu Berners-Lee em um ensaio publicado hoje em um diário da Scientific American.

As redes sociais que não permitem que seus usuários retirem delas o conteúdo que eles mesmos colocaram ali representam um “problema” que poderá levar a rede a se dividir em “ilhas fragmentadas”, diz ele.

No início deste mẽs, o Google acusou o Facebook de colocar seus mais de 600 milhões de usuários em um “beco sem saída de dados”, ao estabelecer contratos em que as informações pessoais e os contatos com os usuários são “eficazmente trancafiadas”.

Recentemente o Facebook passou a permitir que seus usuários façam o download do conteúdo de seu perfil, incluindo as atualizações de status e as fotografias. Ainda assim, Berners-Lee afirma que a rede social mais popular do mundo “empareda” as redes de contatos de seus usuários dentro de seu portal.

Berners-Lee alerta que tal “silo fechado de conteúdo” pode levar a web à fragmentação.

“A web se tornou uma ferramenta poderosa e ubíqua porque foi construída sobre princípios igualitários”, dez ele. “No entanto, a web como conhecemos está sob ameaças de diversas naturezas. Alguns de seus mais bem-sucedidos habitantes começaram a corroer seus princípios”.

Ele acrescenta que “quanto mais você entra nessas redes, mais trancado fica. O serviço de rede social se torna uma plataforma centralizada — um silo fechado de conteúdo, que não lhe proporciona o controle total sobre as informações que vocẽ coloca ali dentro”.

“Quanto mais esse tipo de arquitetura for usado, mais fragmentada a web vai se tornar e menos vamos poder usufruir de um espaço único e universal de informação.”

Berners-Lee também se preocupa com a possibilidade de que uma rede social, quanto mais poderosa se tornar, se transformar em um monopólio, que “tende a limitar a inovação”.

O Facebook registrou seu usuário número 500 milhões em julho e havia recebido 250 milhões de novos usuários nos 12 meses anteriores. Os números de outubro, de acordo com a empresa de dados online comScore, sugerem que o Facebook tem hoje 620 milhões de usuários em todo o mundo, dos quais mais de 33 milhões estão na Inglaterra.

Berners-Lee também criticou empresas que desenvolvem aplicações para dispositivos móveis ou para computadores desktop (como o iTunes da Apple ou aplicativos para smartphones) em vez de criar aplicativos que rodem livremente em outros sites da web. “Padrões abertos levam à inovação”, afirma ele, e acrescenta que a tendência de desenvolvedores de criar aplicativos para smartphones como  o iPhone é “perturbadora”.

“O mundo iTunes é centralizado e murado,” ele acrescenta. “Você fica fechado em uma só loja, em vez de estar livre para andar por um mercado aberto. Mesmo que a loja tenha coisas fenomenais, sua evolução é limitada ao que a companhia que a possui quiser”.

“Outras empresas também estão criando mundos fechados. A tendência de grandes lojas, por exemplo, de criar aplicativos para smartphones, em vez de criá-los para toda a web, é perturbadora, porque tudo isso fica fora da web“.

O inventor da web inventor também reiterou seu apoio a neutralidade da rede, respondendo a uma declaração feita pelo ministro das Comunicações, Ed Vaizey, na semana passada. Ao que tudo indica, Vaizey deu sinal verde para que provedores de internet como a BT, o TalkTalk e a Virgin Media comecem a cobrar empresas como a BBC para dar tratamento especial aos serviços que essas empresas provêm para seus clientes. No entanto, ele tem se declarado a favor da neutralidade desde então, e afirma que suas declações foram mal interpretadas.

Berners-Lee criticou também o Google e a companhia telefônica americana Verizon pelo acordo conceitual que realizaram em agosto e que, ao que tudo indica, pretende fazer uma exceção ao tráfego gerado por acesso a partir de dispositivos móveis, deixando-o de fora dos princípios de neutralidade da rede, que recomendam que não deve haver favoritismo na conexão a determinados sites.

“Muita gente em áreas rurais de Utah até Uganda podem acessar a internet por meio de celulares; fazer uma exceção dos princípios de neutralidade para as redes sem-fio deixaria essas pessoas sob risco de discriminação,” disse Berners-Lee.

“É também bizarro pensar que meu direito fundamental de acesso às fontes de informação que eu escolher valem quando estou em uma rede Wi Fi mas não valem quando acesso a internet de casa, de meu telefone celular.”

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