Um teclado à mão. E um professor virtual.

Governo de Minas Gerais implanta o ensino de música nos Centros Vocacionais Tecnológicos. O aprendizado é realizado a distância, por meio de um software de edição de partituras. 


Governo de Minas Gerais implanta o
ensino de música nos Centros Vocacionais Tecnológicos. O aprendizado é
realizado a distância, por meio de um software de edição de partituras.
 
Heitor Augusto


"Cai, cai balão, na rua do Sabão.."

Na tradição do ensino musical, a presença física do professor é
indispensável. O que fazer, então, se não for possível estar em contato
com um mestre, e o conhecimento musical do aluno beira o nulo? Roberto
Bittar, analista de sistemas, fez esse questionamento, quando resolveu
aprender a tocar saxofone. E encontrou uma resposta: um software que ensine passos básicos de uma partitura.

Depois de dois anos em desenvolvimento, foi criado o Tom Play, que
também está sendo adotado em progama de inclusão digital do governo de
Minas Gerais. Cada tecla do computador corresponde a uma nota na escala
musical (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si). O estudante pode criar sua
própria canção e ir experimentando os sons: as notas — e seus
correspondentes desenhos — aparecem na tela. Ou seja, a partitura é
desenhada. O sistema foi criada em ambiente Java, podendo rodar em
qualquer plataforma, inclusive Linux.

Há também outras ferramentas, como a tutoria. Com ela, o aluno escolhe
um instrumento (flauta doce, violão ou teclado) e vê — por exemplo, no
caso do teclado — qual tecla representa cada nota de uma determinada
música. Trocando em miúdos: o instrumento toca sozinho, indicando cada
nota executada, o que possibilita que o estudante tente imitar o que vê
na tela.

O governo de Minas Gerais gostou da iniciativa e resolveu adaptá-la ao
seu programa de inclusão digital. O salto entre idéia e prática foi
determinado por uma coincidência. “Queríamos alguém de renome na música
para ‘apadrinhar’ o projeto. Por sorte, o Fagner estava passando por
Belo Horizonte. Apresentamos a ele o Tom Play”, explica William Brandt,
titular da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “O
Aécio (Aécio Neves, governador do estado) disse que, caso Fagner atestasse que o software seria interessante para a inclusão digital, o governo tocaria a idéia”, complementa William.

Surgiu, então, o Canteiros Musicais — referência a uma das músicas do
compositor e cantor (“Canteiros”, que cita versos do poema “Marcha”, de
Cecília Meireles). Apoiado pela Fundação Raimundo Fagner, o software
foi instalado em sete Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), espaços
públicos criados numa parceria do estado com o Ministério da Ciência e
Tecnologia. No CVT, há um sala com três computadores dedicados ao uso
de um teclado musical adaptado, com o programa instalado. “Queremos dar
condição a quem já tem um talento musical de desenvolvê-lo, e promover
inclusão social”, explica Brandt.

No Canteiros Musicais, o aluno recebe um cartão de login e tem seu desempenho acompanhado pelo sistema. Além do programa, há web aulas que ensinam conceitos básicos da música.

O secretário afirma que o projeto será expandido para as escolas
públicas. “No município de Frutal (MG), deve ser implantado em seis
meses”, estima. “Estamos conversando também com a prefeitura de Feira
de Santana (BA).”, explica Romero Bittar, diretor comercial da PPV
Informática, empresa dirigida por seu irmão, Roberto, criador do software.