Você ja foi a um BarCamp?

“Não há lista de palestrantes, nem programação fechada; existem idéias e vontade de colaborar. Trata-se de estar envolvido diretamente em uma estrutura de conversação horizontal e emergente.” (http://barcamp.blaz.com.br/)


“Não há lista de
palestrantes, nem programação fechada; existem idéias e vontade de
colaborar. Trata-se de estar envolvido diretamente em uma estrutura de
conversação horizontal e emergente.” (http://barcamp.blaz.com.br/)

Sérgio Amadeu da Silveira

Howard Rheingold é um estudioso da comunicação mediada por computador.
Seu primeiro grande livro tratava do fenômeno das comunidades virtuais.
Em 2002, lançou o indispensável “Smart Mobs: the next social revolution”,
que poderíamos traduzir para Multidões Inteligentes: a próxima
revolução social. Nesse livro, Rheingold, ao comentar as redes sociais,
escreveu: “quando uma rede pretende aportar algo de valor aos
indivíduos como uma rede de televisão, os valores dos serviços são
lineares. Quando a rede permite transações entre os nós individuais, o
valor se eleva ao quadrado. Quando a mesma rede inclui procedimentos
para que os indivíduos constituam grupos, o valor é exponencial.”

O trabalho de Rheingold procura mostrar que a comunicação interativa, a
cooperação e o compartilhamento livre de conhecimentos são essenciais
para incentivar a criação e a inovação. Mas parece que as nossas
instituições educacionais ainda não acreditam nisso. Quase todo nosso
sistema de ensino é baseado em processos hierarquizados e em monólogos
do cara que detém mais conhecimento para aqueles que devem absorver os
ensinamentos. E assim, vamos indo, desprezando a riqueza das redes.

Na organização dos movimentos, costuma não ser diferente. Mas um novo
método pode arejar os formatos pouco estimulantes dos encontros. Sim,
existem formas de reuniões mais inteligentes. O BarCamp é um pouco
disto. No BarCamp, não existe espectadores, somente participantes. Não
existe pauta e palestrantes. Não existe hierarquias. Existem conversas
e formas de conversar e encontrar ou inserir seus temas e assuntos de
interesse. É a desconstrução das reuniões formais que, na maioria das
vezes, são desencontros. No BarCamp, existem tantos encontros quantos
seus participantes queiram.

Em um dos sites principais do BarCamp (http://BarCamp.org/)
podemos ler: “Quando você chega, está preparado para compartilhar com
os BarCampers. Quando você parte, está preparado para compartilhar isto
com o mundo.” O BarCamp nasceu da vontade das pessoas compartilharem e
aprenderem em um ambiente aberto. É um evento de grande profundidade,
pois sua maleabilidade no formato e interação permitem demonstrações
daquilo que se discute, oficinas, interações múltiplas.

Uma pessoa que tem algo para contribuir pode propor em um quadro de
avisos quando irá expor suas idéias. Outras pessoas que iriam tratar do
mesmo tema podem participar daquele encontro e, além de ouvir, também
expor suas proposições ou simplesmente suas dúvidas ou críticas. Nesta
altura, você pode querer saber o que aquela citação do Rheingold tem a
ver com isso? Exatamente nas possibilidades exponenciais da
aprendizagem criativa de um encontro cuja a essência está na liberdade
e interatividade. O BarCamp é uma desconferência articulada em redes
presenciais que podem evoluir em redes virtuais e ações futuras.

O nome é um alusão ao termo hacker /Foobar/, específico da
programação de códigos. Nasceu como um resultado inesperado de uma
brincadeira reativa ao /Foo Camp/, um evento anual de hackers,
sem infra-estrutura e sem planejamento, promovido pelo editor de livros
Tim O’Reilly. Ele chamava seu evento de “wiki das conferências”. O
primeiro BarCamp foi realizado em Palo Alto, Califórnia (EUA), entre os
dias 19 e 21 de agosto de 2005, reunindo 200 participantes, avisados em
menos de uma semana. Qualquer pessoa pode iniciar um BarCamp usando o
wiki do movimento e seguindo as dicas de organização. Elas estão em
inglês, no site: http://barcamp.org/OrganizeALocalBarCamp.

O BarCamp é gratuito e geralmente restrito apenas pelo espaço onde será
realizado, que precisa fornecer acesso livre à internet. A preferência
é por uma rede sem-fio, que permita a mobilidade de equipamentos e uso
de espaço para demonstrações e pequenos encontros, sem perder o contato
externo e a postagem de notícias sobre o que está rolando, em tempo
real, no blog do BarCamp.

Em setembro de 2006, nos dias 16 e 17, aconteceu o primeiro BarCamp
brasileiro, em Florianópolis (SC). Aproximadamente cem pessoas
participaram da “desconferência” que tratou do tema da colaboração na
web. Discutiram a denominada Web 2.0, o Creative Commons, o jornalismo
participativo, as ferramentas colaborativas, o sistema de gerenciamento
de conteúdo (CMS) Drupal, o gerenciador de traduções Blogamundo, o
Estúdio Livre, entre outras práticas e idéias colaborativas.

O Drupal é um software livre, licenciado sobre a GPL (da Free
Software Foundation, criada por Richard Stallman), que permite a edição
e o gerenciamento de conteúdos na web. Segundo seus desenvolvedores, aproximadamente 10 mil pessoas e organizações utilizam o Drupal em diferentes tipos de websites. O Drupal possui uma comunidade de centenas de desenvolvedores. Você pode estudar, testar e baixar o Drupal do seu site oficial: http://drupal.org/.

O site colaborativo Overmundo, na reportagem sobre o BarCamp de
Floripa, aponta uma questão extremamente relevante: “O fato de uma
centena de pessoas desconhecidas viajarem por sete horas ou mais para
uma conferência sem programação definida me parece fascinante. Mais
fascinante ainda, que essas pessoas se disponham a confiar em
desconhecidos, o suficiente para dividir um quarto com eles. No caso
dos organizadores, fascinante é terem confiado seu nome a uma
imobiliária para o aluguel das acomodações, quando nada garantia a
presença dos interessados. Embora a mídia e alguns pesquisadores mais
apocalípticos gostem de pintar o relativo anonimato da web como um
reduto para todo tipo de canalha e gente sem caráter, creio que
experiências como essa mostram o contrário. Assim como na vida real, a
maioria das pessoas é de bem e, dada a oportunidade atrelada a um
interesse pessoal, fica feliz em colaborar. Infelizmente, ‘notícia boa
não é notícia’, então, em geral, temos apenas os relatos negativos.” (www.overmundo.com.br)

Tudo indica que essa prática vai ganhar dimensões gigantescas. A informação disponível no site http://barcamp.blaz.com.br/
é de que o próximo BarCamp será no início de março, em São Paulo. Para
manter-se informado, e até para participar das próximas
“desconferências”, é interessante acompanhar as discussões da
comunidade BarCamp brasileira: http://groups.google.com/group/barcampbrasil.