Governos da Bahia, Rio de Janeiro e Sergipe aderem a plataformas proprietárias da Microsoft.
Verônica Couto
Ofensiva da Microsoft está provocando baixas em políticas públicas que um dia privilegiaram o uso de software
livre. Mesmo em Estados administrados por petistas ou partidos da base
aliada do governo federal, que já levantou, mais de uma vez, a bandeira
das plataformas abertas (veja a página 28). No final de abril, a
empresa firmou convênio com o governo da Bahia para fornecer licenças
de Windows e Office (a R$ 10,00 cada), destinadas a equipar os 364
telecentros, cerca de 20 Centros Vocacionais Tecnológicos e as 1.750
escolas do estado. Além disso, todos os estudantes baianos que
comprarem equipamentos no programa Computador para Todos receberão
licenças MS gratuitas.
A Bahia não está sozinha. O governo pemedebista do Rio de Janeiro fez
acordo para ocupar os telecentros do Degase com produtos MS, e comprou
30 mil notebooks
com esses aplicativos proprietários para serem distribuídos a
professores. Já o governo de Sergipe dá os últimos retoques para
anunciar também a sua ação conjunta com a multinacional. O acordo da
Bahia resultou de tratativas consolidadas durante a viagem do
governador petista Jacques Wagner, a convite da própria Microsoft, ao
Fórum de Líderes de Governo das Américas, em Coral Gables, Flórida, nos
Estados Unidos, onde encontrou-se com Bill Gates, principal executivo
da empresa. Da mesma viagem, participou o governador de Sergipe,
Marcelo Déda, também do PT: “expor pessoalmente projetos de parceria
com a Microsoft a Bill Gates, o homem que revolucionou a economia
mundial e protagonizou uma revolução tecnológica, sem dúvida, é uma
oportunidade rara para Sergipe”, chegou a afirmar o governador, em
reportagem sobre a viagem publicada no site da Agência Sergipe de
Notícias, da Secretaria de Comunicação Social.
O secretário da Casa Civil e coordenador do programa Sergipe Digital,
José de Oliveira Júnior, diz que espera da multinacional apoio para a
criação de “um centro de pesquisa e inovação”, voltado “a ajudar o
Estado na capacitação em tecnologia de ponta”, que ele define como “o
uso de softwares
sofisticados, nas plataformas oferecidas pela empresa”. Também acredita
que a Microsoft possa contribuir com “recursos, tecnologias, ações de
responsabilidade social”, que impulsionem o projeto do governo de criar
uma rede sem-fio para acesso à internet.
Na Bahia, onde o protocolo de intenções já foi assinado, o coordenador
geral da Asssessoria de Gestão Estratégica de Tecnologia da Informação
e da Comunicação (TICs) na Casa Civil, Álvaro Santos, conta que está
previsto o uso de Windows/Office em todos os telecentros, Centros
Vocacionais Tecnológicos (CVTs) e escolas estaduais, e também a
implantação do que ele garante será “o primeiro centro de
interoperabilidade” do Nordeste, em parceria com a Universidade Federal
da Bahia (UFBA). “A Microsoft contratou alguns pinguins
para desenvolver conexões de seus produtos com Linux. Isso é
interoperabilidade”, acredita. A parceria inclui ainda certificação
gratuita em produtos MS, e-mail para professores e alunos,
ações de capacitação técnica (em parceria com a Universidade Estadual
da Bahia), cursos de informática nas escolas (Aluno Monitor Microsoft)
e nos CVTs, cursos de inglês.
“O Estado vai usar a tecnologia de melhor custo benefício —
plataformas livres, proprietárias, da Oracle, da IBM, Microsoft”, avisa
Álvaro. Para ele, a oferta da empresa é imperdível. “Uma licença do
Office custa mais de R$ 1 mil; a Microsoft está oferecendo por R$
10,00. Não tem por que rejeitar”, argumenta. Ele também acredita que o
convênio aumente as oportunidades de trabalho para os jovens. “Temos
mapeadas 2,8 mil vagas, mais de 60% exigem conhecimento em produtos
Microsoft.”
O coordenador garante que não é o fim do Berimbau Livre (distribuição
baseada em Debian desenvolvida para os telecentros do estado), embora
as ONGs que fazem a gestão dos espaços venham a receber os produtos
Microsoft. “Elas poderão escolher”, diz Álvaro, que pretende manter as
máquinas com dual boot. “Há um grupo de trabalho para definir onde é oportuno usar software
livre. Hoje, usamos Linux em praticamente todas as Secretarias; estamos
implantando um correio eletrônico; e negociando com a Red Hat para nos
apoiar em soluções para uso do Estado.”
A maioria das ações da Microsoft no campo das políticas públicas está
sob o guarda-chuva da iniciativa global Potencial Ilimitado, que chegou
ao Brasil em 2003, e dissemina produtos da empresa em áreas como
educação e geração de emprego. Nos últimos quatro anos, os projetos
atingiram, no país, 2 milhões de pessoas, resultado de R$ 61 milhões em
investimentos (majoritariamente em licenças de software).
www.ba.gov.br
https://twiki.dcc.ufba.br/bin/view/PSL/ReacaoProtocoloIntencoes
www.arede.inf.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1313&Itemid=99